— Eu já disse que não quero ir para o colégio, Júlia! — grito cruzando os braços.
— Você não tem querer, Evellyn Bittencourt! Pare de gritar comigo! Quem manda nessa casa sou eu! Você vai e ponto final! — Júlia grita em um tom de voz mais alto que o meu. — E eu já disse que eu não gosto de ser chamada de Júlia, porque você nunca me chama de mãe?
E é nesse clima de harmonia que o meu dia começa. Essa é a nossa primeira briga desde que cheguei a esta casa. Eu não quero ir pra escola e ver a classe alta da sociedade se achando os donos do mundo. Ah, mas eu não quero mesmo.
— Eu não te chamo de mãe, porque simplesmente, você não é a minha mãe. E repetindo o que eu disse, eu não vou a lugar nenhum — Me sento no sofá e coloco meus fones de ouvido.
— Pedro, será que dá pra você me ajudar aqui?! Alguém tem que colocar limites nessa menina.
Pedro fecha o notebook em que estava digitando algo e olha para mim com um olhar acolhedor.
— Evellyn, meu amor, por que você não quer ir para a escola? — Ele pergunta calmamente.
Às vezes eu acho que ele acredita que ainda sou criança, e isso me irrita.
— Porque não. — respondo de forma rude.
— Tá vendo como ela é? Depois você diz que eu sou dura demais com ela. — Júlia diz enquanto caminha pela casa. Ela sempre faz isso quando está nervosa.
— Evellyn, vamos eu vou te levar. Eu sei que você não tem boas lembranças dos colégios que você frequentou, mas eu te garanto que desse você vai gostar. Você está matriculada no melhor colégio do Rio de Janeiro, e aliás, essa é a escola que o seu avô fundou.
As meninas do orfanato ficaram loucas quando souberam que eu ia ser adotada por eles: Pedro e Júlia Bittencourt. Eu os via na televisão às vezes, mas nunca me imaginei fazendo parte da vida deles.
E eu já cansei dessa discussão, é melhor eu ir do que ficar aqui com a Júlia, eu não gosto dela.
— Está bem, eu vou. — Me levanto e pego a mochila.
— Viu, amor? Tudo se resolve com um pouco de carinho e compreensão. — Pedro diz sorrindo ao olhar para a Júlia.
Em seguida, eu e ele caminhamos lado a lado até a garagem.
Ao entrarmos no carro, ele diz que precisamos ter uma conversa séria, eu digo que sim balançando a cabeça.
— Filha, você precisa mudar esse jeito, você não pode continuar tendo esse comportamento. Eu sei que você já sofreu muito, mas ser rebelde desse jeito não vai fazer você esquecer tudo que já passou.
Fico em silêncio e abaixo a cabeça. Por um momento penso em me abrir com ele, mas resolvo ficar quieta.
Eu sinto algo diferente pelo Pedro, ele é tão gentil e compreensivo, bem diferente da Júlia.
— Você não vai dizer nada?! Tá bom então, eu entendo. — Ele diz sorrindo ao girar a chave e ligar o carro. — Só pense no que eu disse, só quero o seu bem.
Chegamos em cima da hora no colégio. Tem muita gente entrando. Este colégio é enorme, as paredes são todas azuis e brancas e bem no centro está escrito "Colégio Bittencourt".
— Quer que eu entre com você, filha? — Pedro pergunta de dentro do carro enquanto eu saio.
— O que? Óbvio que não. Não sou mais criança. — respondo ao sair andando rapidamente em direção a entrada do colégio.
— Está bem. Qualquer coisa me liga, senhora adulta. — Ele diz ironicamente enquanto caminho.
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Uma garota nada comum [COMPLETO - EM REVISÃO ]
Teen FictionSerá que depois de tanto sofrimento, uma pessoa é capaz de voltar a sorrir? Conheça a história de Evellyn, uma menina que foi abandonada em um orfanato com apenas um mês de vida e pelo fato ter passado por vários pais adotivos e nunca ser aceita...