A aula termina e eu vou andando para a casa lentamente até que encontro meu pai no meio do caminho e ele pede para que eu entre no carro.
— Está tudo bem? — Ele pergunta.
— Sim. — respondo sem encará-lo enquanto entro no carro.
Ao chegar em casa, vou diretamente para o meu quarto e fico pensando em tudo que o Miguel me disse.
Algumas horas depois, caminho até a cozinha para beber um copo d'água.
Quando chego na sala, vejo a Júlia e o Pedro conversando e resolvo escutar.
— A Eve chegou muito calada hoje. Acho que está acontecendo alguma coisa no colégio. — Pedro afirma.
— Pedro nós precisamos conversar sobre a Evellyn. — Júlia diz seriamente.
Quando ela diz o meu nome, fico mais curiosa ainda para saber o assunto da conversa.
— Está bem, sobre o que você quer falar?
— Desde que a Evellyn chegou a essa casa, ela só tem arrumado confusão. Acho que devemos devolvê-la ao orfanato. — Júlia responde seriamente.
Quando ela diz isso, eu fico imóvel e meus olhos enchem de lágrimas.
— Peraí... Acho que não entendi. Você quer devolvê-la ao orfanato? Como você pode dizer isso, Júlia! Ela ainda está se adaptando e você quer devolvê-la como se ela fosse um objeto com defeito? Ela é uma menina, Júlia! Você sabe tudo que ela passou. Ela não merece mais isso. Eu não vou ser como aqueles "pais" que ela teve. — Pedro diz em um tom de voz alto.
Quando Pedro termina de falar, me viro e volto para o quarto. Ao passar pela porta, me jogo na cama e começo a chorar descontroladamente. Tento ser forte mas não consigo, isso que estou sentindo é mais forte que eu. Me sinto rejeitada novamente. Odeio me sentir assim. Tento não chorar mas é inevitável.
Por que as coisas tem que ser assim comigo? Por quê?
Anoitece e eu continuo no quarto soluçando e chorando, até que escuto alguém abrir a porta.
— O que aconteceu ? Por que você está assim? — Pedro pergunta ao entrar no quarto e me ver.
— Não é nada! Vai embora! Me deixe sozinha. — digo aos prantos.
— Eu não vou embora até que você me diga o que está acontecendo. — Ele se senta na cama.
Viro meu rosto para o lado e ele fica me olhando.
— Você ouviu não foi? — Ele pergunta com a voz trêmula. — Meu amor, ela estava nervosa, ela não quis dizer aquilo.
— Tudo bem, no fundo eu sabia que isso não iria dar certo. Eu vou embora daqui antes que vocês me expulsem. — digo enquanto tento segurar o choro.
— Ninguém irá expulsá-la daqui. Você é a nossa filha. — Ele diz ao segurar minha mão.
— Obrigada por tudo, Pedro. Hoje mesmo eu irei embora. — Meus olhos estão secos de tanto chorar.
— Você não vai embora daqui! Ah, mas não vai mesmo! — Ele sai pela porta com os olhos cheios de lágrimas.
Desde que eu cheguei a essa casa, o Pedro sempre me amou como uma filha. Sempre foi compreensivo, atencioso e amoroso. Quando ele me viu pela primeira vez no orfanato, ele olhou nos meus olhos e sorriu. Isso me trouxe uma paz... Não sei explicar o que eu senti naquele momento. Já com a Júlia foi diferente, ela me viu e ficou me encarando. Por ela não senti absolutamente nada.
Nesse momento, estou arrumando a minha mala em prantos. Apesar de tudo, eu sinto que os amo e não queria deixá-los, mas eles são como os meus outros pais adotivos. Acho que o único que gostou de mim de verdade em toda a minha vida, foi o Pedro.
Termino de arrumar a mala e escuto alguém abrir a porta novamente. É a Júlia.
— Podemos conversar? — Ela pergunta olhando para a mala.
— Não. — respondo sem olhar para ela.
Ela caminha até mim e se senta ao meu lado na cama.
— Eve, eu não quis dizer aquilo. Me perdoa, por favor. Eu te amo, apesar de não demonstrar da melhor forma. Eu sou nova em ser mãe... Eu... — Ela diz com os olhos cheios de lágrimas.
— Tudo bem, mas eu ainda quero ir embora daqui. Eu não quero me apegar a vocês como aconteceu com os meus antigos pais. — digo ainda sem olhar em seus olhos.
Escuto o barulho da porta se abrindo e o Pedro entra novamente no quarto.
— Vocês já conversaram? — Ele pergunta ao caminhar até a gente.
— Sim, mas ela ainda quer ir embora. — Júlia responde um pouco triste.
— Filha, já que você quer tanto ir, tudo bem. — Ele suspira. — Mas só fique até o final de semana. Por favor. Assim nós iremos prová-la que somos os pais que você sempre sonhou.
Fico pensando um pouco no pedido dele. Acho devo dar uma chance a eles, pois, apesar de tudo, eles sempre foram bons comigo.
— Está bem, mas só irei ficar aqui até segunda-feira. — afirmo.
Os dois sorriem e ficam olhando para mim por um tempo. Depois eles saem do quarto, então, me deito na cama e fico pensando em todas as minhas desilusões novamente.
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Uma garota nada comum [COMPLETO - EM REVISÃO ]
Teen FictionSerá que depois de tanto sofrimento, uma pessoa é capaz de voltar a sorrir? Conheça a história de Evellyn, uma menina que foi abandonada em um orfanato com apenas um mês de vida e pelo fato ter passado por vários pais adotivos e nunca ser aceita...