Todos são iguais. (cap.8)

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   A aula termina e eu vou andando para a casa lentamente até que encontro meu pai no meio do caminho e ele pede para que eu entre no carro.

   — Está tudo bem? — Ele pergunta.

   — Sim. — respondo sem encará-lo enquanto entro no carro.

   Ao chegar em casa, vou diretamente para o meu quarto e fico pensando em tudo que o Miguel me disse.

   Algumas horas depois, caminho até a cozinha para beber um copo d'água.

   Quando chego na sala, vejo a Júlia e o Pedro conversando e resolvo escutar.

   — A Eve chegou muito calada hoje. Acho que está acontecendo alguma coisa no colégio. — Pedro afirma.

   — Pedro nós precisamos conversar sobre a Evellyn. — Júlia diz seriamente.

    Quando ela diz o meu nome, fico mais curiosa ainda para saber o assunto da conversa.

   — Está bem, sobre o que você quer falar?

   — Desde que a Evellyn chegou a essa casa, ela só tem arrumado confusão. Acho que devemos devolvê-la ao orfanato. — Júlia responde seriamente.

   Quando ela diz isso, eu fico imóvel e meus olhos enchem de lágrimas.

   — Peraí... Acho que não entendi. Você quer devolvê-la ao orfanato? Como você pode dizer isso, Júlia! Ela ainda está se adaptando e você quer devolvê-la como se ela fosse um objeto com defeito? Ela é uma menina, Júlia! Você sabe tudo que ela passou. Ela não merece mais isso. Eu não vou ser como aqueles "pais" que ela teve. — Pedro diz em um tom de voz alto.

   Quando Pedro termina de falar, me viro e volto para o quarto. Ao passar pela porta, me jogo na cama e começo a chorar descontroladamente. Tento ser forte mas não consigo, isso que estou sentindo é mais forte que eu. Me sinto rejeitada novamente. Odeio me sentir assim. Tento não chorar mas é inevitável.

   Por que as coisas tem que ser assim comigo? Por quê?

   Anoitece e eu continuo no quarto soluçando e chorando, até que escuto alguém abrir a porta.

   — O que aconteceu ? Por que você está assim? — Pedro pergunta ao entrar no quarto e me ver.

   — Não é nada! Vai embora! Me deixe sozinha. — digo aos prantos.

   — Eu não vou embora até que você me diga o que está acontecendo. — Ele se senta na cama.

   Viro meu rosto para o lado e ele fica me olhando.

   — Você ouviu não foi? — Ele pergunta com a voz trêmula. — Meu amor, ela estava nervosa, ela não quis dizer aquilo.

   — Tudo bem, no fundo eu sabia que isso não iria dar certo. Eu vou embora daqui antes que vocês me expulsem. — digo enquanto tento segurar o choro.

   — Ninguém irá expulsá-la daqui. Você é a nossa filha.  — Ele diz ao segurar minha mão.

   — Obrigada por tudo, Pedro. Hoje mesmo eu irei embora. — Meus olhos estão secos de tanto chorar.

  — Você não vai embora daqui! Ah, mas não vai mesmo! — Ele sai pela porta com os olhos cheios de lágrimas.

   Desde que eu cheguei a essa casa, o Pedro sempre me amou como uma filha. Sempre foi compreensivo, atencioso e amoroso. Quando ele me viu pela primeira vez no orfanato, ele olhou nos meus olhos e sorriu. Isso me trouxe uma paz... Não sei explicar o que eu senti naquele momento. Já com a Júlia foi diferente, ela me viu e ficou me encarando. Por ela não senti absolutamente nada.

   Nesse momento, estou arrumando a minha mala em prantos. Apesar de tudo, eu sinto que os amo e não queria deixá-los, mas eles são como os meus outros pais adotivos. Acho que o único que gostou de mim de verdade em toda a minha vida, foi o Pedro.

   Termino de arrumar a mala e escuto alguém abrir a porta novamente. É a Júlia.

   — Podemos conversar? — Ela pergunta olhando para a mala.

   — Não. — respondo sem olhar para ela.

   Ela caminha até mim e se senta ao meu lado na cama.

   — Eve, eu não quis dizer aquilo. Me perdoa, por favor. Eu te amo, apesar de não demonstrar da melhor forma. Eu sou nova em ser mãe... Eu... — Ela diz com os olhos cheios de lágrimas.

   — Tudo bem, mas eu ainda quero ir embora daqui. Eu não quero me apegar a vocês como aconteceu com os meus antigos pais. — digo ainda sem olhar em seus olhos.

   Escuto o barulho da porta se abrindo e o Pedro entra novamente no quarto.

   — Vocês já conversaram? — Ele pergunta ao caminhar até a gente.

   — Sim, mas ela ainda quer ir embora. — Júlia responde um pouco triste.

   — Filha, já que você quer tanto ir, tudo bem. — Ele suspira. — Mas só fique até o final de semana. Por favor. Assim nós iremos prová-la que somos os pais que você sempre sonhou.

   Fico pensando um pouco no pedido dele. Acho devo dar uma chance a eles, pois, apesar de tudo, eles sempre foram bons comigo.

   — Está bem, mas só irei ficar aqui até segunda-feira. — afirmo.

   Os dois sorriem e ficam olhando para mim por um tempo. Depois eles saem do quarto, então, me deito na cama e fico pensando em todas as minhas desilusões novamente.

Uma garota nada comum [COMPLETO - EM REVISÃO ]Onde histórias criam vida. Descubra agora