Minutos depois que Fred sai do quarto, meu pai entra e fica surpreso com o que vê.
— Filha! O que você fez com o seu cabelo? — Ele pergunta ao olhar fixamente para o meu cabelo.
— Pintei. Não está vendo? — pergunto retoricamente.
— Você sabe que sua mãe vai te matar, né?
Olho para ele e dou ombros. Sei que a minha mãe vai pirar quando ver o meu cabelo, mas não estou nem aí.
— Oi, Kelly. Desculpa não ter te cumprimentado, é que eu fiquei muito chocado ao entrar neste quarto. — Ele diz ao cumprimentá-la.
— Tudo bem, tio. — Ela diz sorrindo.
— Por que você está chamando ele de tio? Ele não é irmão nem da sua mãe e nem do seu pai. — pergunto, apesar de saber da resposta.
— Isso se chama educação, Evellyn. — Ela diz ainda sorrindo.
— Tá vendo, Evellyn? Você tem que aprender com ela. — Meu pai diz sorrindo, mas fecha a cara assim que olho para ele seriamente. — Vamos almoçar?
— Sim. — respondo e Kelly acena com a cabeça positivamente.
Enquanto estamos descendo a escada, Kelly lembra que esqueceu o celular no quarto e volta para pegá-lo.
Chego a sala de jantar com o meu pai e vejo todos almoçando. Assim que minha mãe e meus primos me vêem, seus olhos se arregalam.
— Evellyn Bittencourt! O que você fez com o seu cabelo? — Minha mãe pergunta surpresa.
— Você não está vendo? Eu pintei de roxo. — respondo ao passar a mão no cabelo.
Meu pai se senta sem dizer nada, só sorri para mim e eu sento em seguida.
— Por que você ta rindo, Pedro? Não tem nada de engraçado aqui! — Minha mãe diz furiosa. Quando ela diz isso, meu pai esconde o sorriso rapidamente. — E Evellyn, eu quero que você dê um jeito de tirar isso do cabelo.
— Eu não vou dar jeito em nada! Você é muito chata, sabia?! O meu pai reagiu muito diferente de você, ele me compreendeu! Ele é muito legal! Você tinha que ser como ele! — Eu grito.
— Claro, né! Tinha que ser o Pedro. Ele sempre é o mais legal e o mais compreensivo. Eu sempre sou a chata da história. Ele é o melhor pai do mundo e eu sou a pior mãe de todas. Eu não te compreendo, Evellyn! Quando você apronta, você quer que eu te apoie e isso não vai acontecer, eu jamais irei concordar quando você fizer uma coisa errada. Desde que você chegou a esta casa você sempre pediu para nós te aceitarmos do jeito que você é, mas você não me aceita do jeito que eu sou! Eu não sou perfeita como o Pedro! — Ela grita chorando ao se levantar da mesa e correr para o quarto.
— Tá vendo o que você fez? Sua idiota! — Alice diz furiosamente ao se levantar da mesa.
Quando minha mãe sai da sala, eu fico sem reação. Não sabia que ela iria reagir assim e nem que ela se sentia tão inferior ao Pedro. Apenas me sento na cadeira e fico parada.
— Não vai atrás dela. Ela precisa ficar um pouco sozinha. — Meu pai diz ao olhar para a Alice.
Depois de alguns minutos, Kelly desce a escada correndo em prantos e vai em direção a porta, mas eu me levanto, corro até ela e a impeço de sair ao segurar seu braço.
— O que aconteceu, Kelly? Por que você está assim? — pergunto sem entender nada.
— Me larga! Sua traidora! Eu te odeio! — Ela diz ao se mexer tentando soltar o braço, mas eu a seguro firme.
— Como assim? traidora? O que eu te fiz? — pergunto completamente sem ideia do que está havendo.
— Eu já disse pra você me largar! — Ela puxa o braço tão forte que eu não consigo segurar e acabo soltando.
Quando eu a solto, ela sai correndo rapidamente para o portão e eu ainda grito o seu nome, mas ela nem se vira para me atender.
O que será que está acontecendo com todos hoje? Eu não fiz nada para a Kelly, pelo menos nada que eu me recorde.
Estou muito nervosa, e sempre quando eu estou nervosa sinto muita vontade de chorar. Então volto correndo para o quarto e me tranco lá.
Assim que entro vejo meu celular todo quebrado no chão.
Ah, não!
— Só pode ter sido a Kelly. — digo ao pegar o celular.
Mas por que que ela jogaria o meu celular no chão?
Já sei! Ela só pode ter visto a mensagem que o Miguel me enviou quando se declarou para mim. Eu fui uma tola! Era para eu ter apagado aquela porcaria.
Me sento na cama e balanço a cabeça negativamente me punindo pela minha burrice. As lágrimas começam a rolar pelo o meu rosto.
Fico chorando por um bom tempo no meu quarto, mas caio na real de que chorar não vai adiantar nada, então limpo as lágrimas e decido tomar um banho.
Quando saio do banho, pego a primeira roupa que vejo no armário (uma camisa branca com a imagem do óculos do Harry Potter e um short jeans), me visto e depois prendo o meu cabelo fazendo um coque.
Caminho até a cama e me sento. Fico pensando em Kelly e em minha mãe. Estou me sentindo culpada.
Depois de alguns longos minutos, decido sair do quarto.
— Filha, como você está? — Meu pai pergunta ao me avistar descendo a escada.
— Estou bem. — respondo em um tom de voz baixo. — Cadê a minha mãe?
— Está trancada no quarto. Eu acho que você deveria ir lá conversar com ela. — Ele responde.
Afirmo que sim lentamente com a cabeça e depois volto a subir a escada novamente em direção ao quarto dela.
Será que ela vai querer conversar comigo?
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Uma garota nada comum [COMPLETO - EM REVISÃO ]
Teen FictionSerá que depois de tanto sofrimento, uma pessoa é capaz de voltar a sorrir? Conheça a história de Evellyn, uma menina que foi abandonada em um orfanato com apenas um mês de vida e pelo fato ter passado por vários pais adotivos e nunca ser aceita...