Enterro. (cap.62)

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   Eu fico ali abraçada com ela durante um longo tempo, até que eu acabo dormindo.

   Quando acordo, olho para o despertador e vejo que são nove e meia da manhã. Em seguida, olho para onde a minha mãe estava e vejo que ela não está mais ao meu lado, então, me levanto e caminho até a porta.

   Assim que chego no último degrau, a vejo abraçada com o meu pai.

   Acho que ele acabou de chegar, pois uma mala está perto dele e ele está com a aparência cansada.

   — Filha! — Ele grita assim que me vê.

   Sorrio, corro até ele e o abraço.

   Eu, ele e a minha mãe nos abraçamos fortemente.

   Depois de alguns instantes, nos afastamos.

   — Eu vou lá em cima me arrumar para o enterro. — Minha mãe diz tristemente ao subir para o quarto.

  — Ela não está nada bem. — Meu pai diz ao vê-la subir a escada. — Mas com o nosso apoio ela vai melhorar.

   — Você vai no enterro? — pergunto. — Você parece cansado.

   — Claro que vou. Realmente estou muito cansado, assim que cheguei em Cancun, você me ligou, depois disso eu peguei o primeiro avião pra cá, mas eu não posso e não quero deixar a sua mãe nesse momento. — Ele suspira. — Eu só vou comer algo e depois vou tomar banho.

   — Você está certo, não podemos deixar a mamãe sozinha agora. — digo. — Vou para o quarto me arrumar.

   Ele olha para mim surpreso por eu ter chamado a minha mãe de "mamãe". Eu nem tinha percebido que tinha dito isso. Na verdade, eu raramente a chamo de "mamãe", eu sempre a chamo de mãe.

   Subo as escadas rapidamente enquanto meu pai caminha até a cozinha.

   Assim que chego no meu quarto, caminho diretamente para armário para procurar uma roupa adequada para o enterro.

   POV JÚLIA

   Só eu e Deus sabemos o quanto estou sofrendo pela morte da Silvia.

   Eu tento transparecer que estou bem, mas não consigo. Ela era a minha melhor amiga. Era minha irmã. Era com ela que eu compartilhava os meus segredos, era com ela que eu me divertia, era com ela que tudo parecia bem quando eu achei que tinha perdido o bem mais precioso da minha vida...

   Mas eu tenho que me conformar, eu preciso me conformar.

   Eu sei que ficar chorando pelos cantos não vai resolver nada. Não vai trazê-la de volta.

   Faz alguns minutos que eu tomei banho e que me vesti. Nesse momento, estou penteando o meu cabelo.

   Escolhi um vestido preto, bem simples.

   Fico me olhando no espelho por alguns minutos. Meu rosto está um pouco corado, meus olhos vermelhos e inchados por conta da noite passada. Ao me ver acabo me recordando de alguns momentos vividos por mim e pela Silvia. O nosso nervosismo e a nossa ansiedade pelo primeiro dia no colégio (sim, nós duas estudamos juntas e na mesma sala a vida inteira). A primeira decepção amorosa. Quando ela me ajudou a me arrumar para o meu casamento com o Pedro. Quando eu a ajudei no casamento dela com o pai da Isabela, enfim, de tudo.

   Ao me recordar de tais memórias, lágrimas descem pelo meu rosto, mas as seco rapidamente.

   Quando termino de me arrumar, me levanto para pegar a bolsa e do nada, sinto uma tontura e quase caio no chão, mas o Pedro entra nesse exato momento e me segura.

Uma garota nada comum [COMPLETO - EM REVISÃO ]Onde histórias criam vida. Descubra agora