Trilogia A Primeira Fênix - Livro I, II e III

Capítulo 02

A princesa Katherine Íon, terceira na linha de sucessão de Ur se encontrava com o corpo na sala do trono, mas a mente vagava pelo próximo quadro que queria pintar. Uma representação de uma fênix que viu em um sonho: uma figura feminina com os seios cobertos por longos cabelos castanhos lisos, a parte intima por chamas e as asas eram incandescentes. Era o tipo de quadro que ela teria prazer em pintar, mas sua mãe não poderia nem sonhar com a existência.

O reino de Ur estava se tornando uma segunda versão do intolerante Haize, completamente controlado pela Igreja graças a mãe de Katherine, Victória, que detinha uma fé cegante e queria espalhar a todos tal fé censurando e ameaçando quem discordava, sem contar que a bancada religiosa que a mesma montou estava ferrando com o reino.

Pelo que tinha conversado com Camila, sua dama, a rainha Rebecca Santiago, soberana de todos os reinos estava a caminho justamente pelo apelo do povo para que ela trouxesse uma solução às mudanças drásticas e preocupantes de Victória.

Katherine não conhecia a rainha pessoalmente, mas já havia visto algumas fotos da mulher que era inegavelmente bela, mas o atual olhar frio e triste a deixava mais apagada do que o brilhante das antigas fotos. Para a princesa era uma perda muito grande a luz que aqueles olhos já não carregavam mais.

Por cima, Katherine sabia que a rainha havia perdido a noiva há cerca de três anos durante uma viagem onde o carro em que ambas estavam foi alvejado e não se sabe ao certo se foi um tiro errado que acertou a princesa de Izotz dentro do carro enquanto Rebecca saiu para se entregar ou se a princesa se colocou na frente da rainha, a única coisa que se sabe é que encontraram a rainha segurando Caroline Íon em seus braços já morta.

Depois desse incidente Rebecca Santiago passou mal no enterro de sua noiva e foi levada de ambulância para o hospital sob suspeita de envenenamento que não foi negada nem confirmada. Assim que saiu do hospital a rainha passou o comando para as mãos de sua mãe durante seis meses e desapareceu reaparecendo daquela forma depois, sem brilho algum no olhar e assustadoramente mais fria.

Katherine via que grande parte – se não toda – da rainha havia morrido junto com a mulher que ela amava.

— Pensei que ela detestava atrasos — ouviu a voz de Alice, sua irmã, ecoar pela sala.

— E odeia, mas ela não está atrasada, está dando uma volta na cidade, mais especificamente, correndo atrás das pinturas daquela artista desconhecida — Chris, o irmão mais velho de Katherine respondeu.

— Por que ela está olhando as pinturas? Vai ordenar apagar tudo como a mamãe já tentou fazer? — Katherine revirou os olhos e recebeu um olhar reprovador de Alice que odiava quando ela falava mal da mãe e um sorriso de lado de Chris.

— Você não conhece Rebecca Santiago — ele disse como se aquilo explicasse algo.

— Não conheço mesmo, o que isso quer dizer?

— Que é capaz de ela criar um decreto impedindo que repintem e até punindo quem depredar. — Chris sorriu olhando seu celular — Pela cara dela ela gostou e muito — mostrou a foto da rainha sorrindo ao tocar a pintura de uma rosa.

— Nossa — Alice se aproximou — não vejo esse olhar em fotos desde a morte de Carol.

— Por que todos vocês já conheceram ela e eu não? — Katherine olhou os dois bufando.

— Você estava na Escola de Arte enquanto nós estávamos viajando. Conhecemos todos os reis e príncipes — Chris explicou pacientemente.

— Você passou seis anos num colégio interno Kath e nós viajando e estudando governo. — Alice deu de ombros — Você falou com Rebecca depois do enterro, ela continua sociável? — se voltou para Chris.