Capítulo 06

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Katherine desprendeu os olhos do quadro já passava da hora do almoço. Camila sua dama dormia toda torta no sofá e Fernanda estava quieta fumando na sacada.

— Você sabe que isso é nocivo e destrutivo, por que fuma?

— Alguns humanos, princesa, necessitam se autodestruir — a loira respondeu encolhendo os ombros.

— Ao menos é bom?

— Definitivamente não tem os melhor dos gostos, mas varia a preferência de pessoa pra pessoa. Camila, por exemplo, odeia — Fernanda encolheu os ombros e após outra lenta tragada esticou o cigarro a princesa oferecendo a ela a chance de tirar suas próprias conclusões.

Katherine tragou devagar e quase se engasgou com a fumaça que ardeu sua garganta e a deixou seca por dentro. Devolveu com pressa o cigarro a guarda indo até o quarto e pegando uma garrafa de água, bebendo para aliviar a sensação.

— É péssimo. Como começou? — Katherine tossiu acabando com a garrafa em segundos.

— Eu via as pessoas fazendo e tive a mesma impressão quando traguei o do meu pai pela primeira vez, mas quando ele morreu, descobri que como tudo na vida, isso — balançou o cigarro — é só mais uma das coisas com que a gente se acostuma.

— Acostuma?

— É. Nós humanos, nos acostumamos com certas coisas, nos acostumamos com a morte, porque não podemos detê-la, com os dias frios porque não podemos impedi-los, nos acostumamos com nosso coração partido, com a mente sempre cansada, com a alma ferida, o tempo passando ao nosso redor... Acostumamos-nos com o mundo, com a fumaça dos motores, a dor das pancadas, o gosto do álcool e a queimação do cigarro. Nós humanos nos acostumamos com as facetas imprevisíveis da vida e até mesmo com as previsíveis.

— Isso é verdade... — a princesa acenou.

— Estamos sempre nos acostumando independente de tudo, nos adequamos às adversidades, previsíveis ou não.

— Você ama a Camila? — mudou de assunto de repente.

— Muito — acenou acabando o cigarro e colocando a bituca fora — e por ela estou me adequando também.

— Amar significa mudar?

— Os dois mudam princesa. Quando você ama, você não se importa mais apenas com a sua vontade, a vontade se torna "nossa", você não sofre sozinha as consequências de suas ações, vocês sofrem juntos... Nada mais é singular e isso é ótimo.

— É?

— É, porque nesse momento você também não sofre mais sozinha e todas as suas lágrimas vão ter alguém para amparar assim como você terá de amparar as da outra pessoa e você as amparará com gosto, porque tudo o que você vai querer é ver o sorriso dessa pessoa.

— Como eu sei que estou apaixonada? — Kath olhou Fernanda que se escorou na grade pensando.

— Quando você souber que, não importa a distância, a pessoa sempre vai estar nos seus pensamentos, não importa as brigas, as lágrimas e as palavras rudes, ainda assim você vai querer que ela esteja bem e quando tudo desmoronar você souber que se estiver com ela tudo ficará bem, é o momento que você vai saber que ama alguém de verdade.

— Eu nunca amei... — Katherine ponderou.

— Você só não achou sua alma gêmea, ainda — Fernanda sorriu enquanto as duas ouviram Camila bocejar.

— Vai lá com ela — Kath mandou sorrindo e a guarda acenou entrando no quarto.

A princesa suspirou enquanto uma ideia lhe veio a cabeça e fez sorrir entrando no quarto.

Trilogia A Primeira Fênix - Livro I, II e IIIOnde histórias criam vida. Descubra agora