Capítulo 32

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Os livros de história humanos são tendenciosos, contam a história dos vencedores como eles querem que seja dita, contam a história de uma forma onde seja tudo preto no branco, um lado o mal e outro o bom, sem meio termo, nuances ou a paleta de tons cinzas entre o preto e o branco.

O vencedor dita como quer que as outras gerações acreditem que ele venceu, mas não dita nos livros dos deuses, neste a verdade é meticulosamente retratada e nada, absolutamente nada além dela, seja bonita ou horrenda. Seja sobre desconhecidos, ou as atrocidades cometidas por seus próprios amigos afinal, existe luz e escuridão dentro de cada ser e, diferente do que muitos acham, essa balança em equilíbrio pende para um lado ou outro dependendo da situação.

Às vezes pessoas boas precisam fazer coisas ruins pelo bem geral, às vezes pessoas ruins são capazes de atos bons e puros e às vezes, a hesitação em fazer algo, independente do lado da balança, é o que define o destino.

Até mesmo os deuses erram achando fazer o certo. Errar não é humano, errar é viver, uma lembrança poderosa de que se está vivo e de que se é livre para fazer escolhas, escolhas essas que só saberemos se foram boas ou não depois, e acima de tudo, escolhas que nunca são cem por cento boas ou cem por cento ruins.

Olhando sua figura refletida no espelho, não havia muito que ser dito, Rebecca sabia olhando dentro de seus próprios olhos que, independente do desfecho, aquela seria sua última guerra. Vencendo ou perdendo, ela não tinha mais forças para abrir mão de si mesma e dos que amava para vencer algo. Naquele momento, olhando para si, ela sabia que o fim se aproximava, o fim definitivo.

Ergueu-se e saiu do quarto. Katherine ainda dormia isenta das inúmeras preocupações que corroíam a mente da fênix e a própria preferia que ao menos por enquanto, até todas as peças se tornarem pretas ou brancas e tomassem suas posições, sua esposa permanecesse deste modo. Um jogo de peças cinza como eram agora era extremamente confuso e perigoso e tudo tendia a ficar ainda pior.

Andou pelo corredor até o quarto de Demétrius e bateu na porta ouvindo um "entre" baixo como resposta.

— Como você está? — foi a primeira pergunta que a fênix fez assim que fechou a porta.

— Velho e cansado. Como você está?

— Cansada de alma. — ela suspirou sentando ao lado dele na cama e em seguida, assim que ele abriu espaço, deitou ao seu lado.

— O que aconteceu?

— Falei com Maximiliano, ele não me disse nada do que eu já não suspeitava.

— Como o fez falar?

— Bem, Maximiliano está enlouquecendo, culpa unicamente de suas escolhas ruins e de com quem se aliou, eu usei isso ao meu favor, o fiz acreditar que tinha a cura para a loucura que o acomete.

— E não tem? — Demétrius a encarou.

— Não existe na verdade, apenas coloquei água, sal e açúcar em um vidro e menti.

— E o deixou acreditando que ia se curar?

— Não. — Rebecca suspirou olhando pra baixo. — Eu contei antes de sair da sala e disse que aquilo era o que ele merecia, que era pela Carol.

— Está arrependida?

— Sabe que não? Eu o odeio, e não me importo se fez por querer ou sem querer, por manipulação ou escolhas. Ele fez e eu não ligo se isso condena a minha alma ou não, mas eu não o perdoo.

— Deveria, mas no seu tempo, e provavelmente um dia vai.

— Duvido muito disso — Rebecca disse fria.

Trilogia A Primeira Fênix - Livro I, II e IIIOnde histórias criam vida. Descubra agora