Trilogia A Primeira Fênix - Livro I, II e III

Capítulo 76 (Fim do Livro III)

Trinta anos depois...

O tempo sempre foi uma coisa confusa, que ninguém, nem mesmo o próprio deus referente a ele, sabia exatamente descrever ou definir. Sempre foi uma coisa moldável a situação e a pessoa que o percebia, mesmo que, no fim, fosse igual para todos. O tempo era um só, mas a forma como era interpretado, era o que o tornava muitos.

Trinta anos para Rebecca, passaram como uma estação mortal. Havia tanto a ser feito, falado, aprendido e controlado que, o passar das décadas lhe soou ínfimo, como se fosse apenas uma rápida e singela primavera.

O universo precisava de ajustes, já que, como previamente avisado, cada ação tem uma reação, e reescrever uma dimensão inteira trouxe inúmeras reações na mesma magnitude de poder que aquela ação. Não havia mais o risco daquela dimensão ruir, entretanto, coisas piores pareciam rondar as outras conforme o tempo passava, como uma punição interrompendo a paz de Rebecca.

Ao longo dos anos a deusa da sabedoria e os outros deuses se viram correndo para dimensões ao redor do universo para conter cataclismos e crises a nível global provocadas unicamente pelas mudanças que ela fez, mas, mesmo com todo o trabalho extra, Rebecca não se arrependia de ter salvo a dimensão em que sempre viveu, nem de ter salvo seus amigos. Mesmo com todas as perdas, o saldo positivo era maior, e embora ainda não conseguisse lidar totalmente com a saudade, estava aprendendo aos poucos.

Ás vezes haviam dias difíceis onde tudo que Rebecca queria era desistir daquela ideia estúpida de equilíbrio e correr para os braços de seus amigos, ouvir de Will que tudo ficaria bem, levar algumas doces alfinetadas de Fernanda, escutar piadas ruins de Camila e receber o olhar terno de Diego, mas assim como esses momentos chegavam, eles iam, bastava apenas ela olhar o mural de fotos que havia feito com todas as conquistas de seus amigos em vida.

Will, além de Luca, tinha mais dois filhos, Jasmim e Raphael, Diego tinha duas filhas, Esmeralda e Agatha, Ian e Liam tinham Hugo, e Camila e Fernanda tinham Beatriz, que inclusive, havia se casado há alguns meses com um gentil moço chamado Inácio e pego o posto de rainha soberana das mães para si.

No fim, Rebecca tinha fotos de todos eles para lembrar-se, constantemente, que embora doloroso não os tê-lo em sua vida, era justo e gentil, que eles pudessem viver as deles. E, cada vez que olhava seus amigos antigos e novos zanzando pelo jardim, percebia que, no fim das contas, não havia perdido tanto assim. Cada pessoa tinha seu valor diferente e a ausência era sentida, mas ainda haviam amigos que sabiam quem ela era, e havia Katherine, e Bitxia a enlouquecendo com suas tolices e Lehen enchendo-a de perguntas e Denbora sendo a voz racional do grupo e Diana em inúmeras crises existenciais...

Ainda havia tanto a se perceber e viver, que cada vez que uma sensação ruim como a de querer acabar com todas aquelas mudanças, se apossava de Rebecca, um exército de boas surgia, fazendo-a perceber que, doeria para sempre a ausência daquela vida e daqueles amigos, mas que era uma dor que permitia uma vida aos outros, e que a vida dela, não havia se encerrado por conta daquela decisão.

— Rebecca! — Diana invadiu o quarto da morena, e faltou pouquíssimo para que ela não deixasse a xícara de café se espatifar no chão pelo susto.

Deuses não tinham a necessidade de comer, eram eternos e a única energia da qual necessitavam eram das coisas pelas quais eram responsáveis, entretanto, era cômodo beber e comer, e agradável descobrir novos sabores, na maioria das vezes, então, como uma boa alimentadora do poder de Bitxia, Rebecca constantemente aproveitava-se dos velhos hábitos de comer e beber o que gostava.

— Meu deus Diana, você é a deusa da sensatez, não do infarto! — Reclamou fazendo a outra rir.

— Preciso te mostrar uma coisa. — A deusa anunciou.