Capítulo 60

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Rebecca sabia que havia algo muito, muito errado acontecendo ao seu redor, ela só não fazia a mínima ideia do que era ainda, mas sentia em suas veias, que estava passando dos limites. O poder, a energia de Bitxia que Lehen havia lhe ensinado a controlar para diminuir a velocidade com a qual seu corpo se deteriorava parecia completamente fora de controle, como se estivesse impulsionando todos os bloqueios desesperadamente em busca de estocar-se em resposta a algo externo.

A situação estava tão complicada para si que, constantemente, ela se via acordando pela madrugada com o corpo quente o suficiente para fazê-la suar até encharcar os lençóis e a pele translúcida, com as veias visíveis e douradas, como se no lugar de sangue, corresse fogo, corresse pura energia, puro poder. E acima de qualquer luminosidade preocupante, havia também a dor no peito, a sensação de peso, como se seu coração não conseguisse bombear o sangue, como se seu sangue de repente fosse tão insuportavelmente denso que ela era capaz de senti-lo escorrendo lentamente por seu corpo, trancando-se nas veias, congelando-a em uma bola de calor e palpitação...

— Rebecca! — Ona chamou-a de forma firme e numa altura de voz que lhe indicou que aquela não era a primeira vez que seu nome era chamado.

— Eu...? — murmurou sentindo algo viscoso escorrer por seu nariz e ao olhar para a toalha branca da mesa onde estava sentada diante, notou os pingos escarlates. — O quê...? — questionou para si mesma enquanto viu pelo canto do olho a deusa do caos pôr-se de pé e ir até ela.

— Aqui — Ona resmungou entregando um guardanapo de tecido para Rebecca que logo usou o mesmo para estancar o sangramento repentino.

A morena não tinha certeza de quanto tempo passou presa pela sensação de queimação que se instalou no meio do jantar, mas pelo olhar de Ona, observador e especulativo, tinha certeza que foi tempo demais para passar despercebido.

— Então, — a deusa começou após garantir que Rebecca havia conseguido estancar o sangramento. — tem algo para me contar?

— Ao que se refere? — Rebecca questionou respirando fundo e recebendo o olhar torto da deusa que havia se escorado na mesa e cruzado os braços numa posição quase de um adulto que repreende uma criança que fez algo que foi lhe avisado para não fazer.

— Ao fato de você estar sangrando, ter ficado parada como em transe e das suas veias terem ficado brilhantes — Ona enumerou e Rebecca fez uma careta descontente ao se ver totalmente sem saída a não ser contar a verdade a deusa.

— Isso é o poder da Bitxia, a energia da curiosidade, passando pelas minhas veias. — Rebecca suspirou.

— Por que o poder daquela... — Ona respirou fundo claramente engolindo a ofensa na ponta da língua. — Dela, está em você?

— Estamos ligadas, desde sempre isso acontece, mas agora que ela voltou e usa essa energia a intensidade está um pouco mais forte.

— Pouco? — Ona arqueou a sobrancelha em descrença. — Você estava sangrando Rebecca, parecia que ia explodir, isso não é um pouco.

— Definitivamente "pouco" foi eufemismo da minha parte — A morena pôs-se de pé largando o guardanapo sujo de sangue e indo a passos até a janela.

— O que mais está me escondendo Rebecca? — Ona questionou observando a morena escorar-se ao lado da janela e observar a paisagem noturna.

— Eu estou morrendo. — contou de uma vez fazendo a boca da deusa se abrir em uma exclamação silenciosa de surpresa. — De acordo com Lehen e minhas contas, eu tenho apenas mais algumas semanas antes de meu corpo explodir pelo excesso de energia canalizada automaticamente, porém, de uns dias para cá as coisas andam piorando, todos os bloqueios que Lehen me ensinou a fazer para retardar a ação nociva do excesso de poder num corpo frágil parecem não surtir mais efeito... A intensidade das agressões ao meu corpo parecem superiores e é como se o pouco tempo que eu já tinha tenha se esvaído ainda mais...

Trilogia A Primeira Fênix - Livro I, II e IIIOnde histórias criam vida. Descubra agora