I - Entre as Sombras e Neblinas (6)

202 61 495
                                    

Laura está com ar de cansada já faz uns dois meses que não dorme direito. Começou com sonhos inquietantes que mudaram para pesadelos aterradores. Nos últimos dias mal tem conseguido dormir. Desde que começou a acordar assustada em um grito mudo já não tenta mais voltar a deitar.

Ela está sentada em uma poltrona florida bem próxima a uma das janelas que dá para o jardim da casa. Ela fica olhando o gramado, as flores que ela mesma cultivou e observa o caminho de pedras.

'Era tudo tão lindo.' - Pensou.

Entre suas pernas uma garrafa de uísque pela metade e os dedos da mão esquerda circulam na borda de um copo vazio que segura com as palma da mão direita. Enquanto ela permanece imóvel olhando pela janela perdida no vazio, Johnny a observa com olhar de aflição. Se ao menos eles pudessem compreendê-lo, se fosse capaz de falar do modo certo que os fizessem compreender o que ele sabe. Que todos deveriam partir. Que haviam invadido terras além de suas imaginações. Johnny queira descobrir um modo de poder avisá-los, de poder salvá-los.

Salvar sua família do ser estranho e sombrio que reinava sobre essa casa. O ser faminto que a tudo deseja devorar.

Ele sai frustrado, caminha até a porta saindo da casa pela portinhola de cachorro chegando até o quintal, o lugar onde ainda se sente seguro. E começa a cavar o mais profundo que pode.


...


Senhor Branco mal consegue ver o que o atingiu, apenas sentiu o impacto ao ser arremessado contra a parede, já Carmen consegue se esquivar saltando sobre a coisa negra que tenta golpeá-la esticando seus longos braços.

Ela gira para a esquerda, tentando sempre se manter em movimento, fugir do campo de visão de seu adversário. Se falhar, se cometer um erro sabe que irá morrer.

A coisa grita, rosna e emite sons indescritíveis de raiva e agonia. O balé entre os dois dá tempo para senhor Branco se recompor e ficar apoiado por um dos joelhos se mantendo agachado e parado para não despertar a atenção da criatura. Seus olhos atentos seguem os movimentos de seu inesperado anfitrião, ele busca alguma forma, uma brecha, um ponto fraco... Qualquer ponto fraco e depois olha fixamente para Carmen que a cada movimento que faz para escapar dos ataques que sofre seguidamente um atrás do outro. Ele percebe que a cada segundo a morte se aproxima dela. Sem qualquer hesitação se ergue ficando de pé, ereto se mostrando nitidamente para a coisa.

Carmen, mesmo concentrada em se manter longe dos ataques e se defendendo sempre que é alcançada, se surpreende ao ver a ação de seu parceiro e fica ainda mais surpresa ao vê-lo fechar os olhos e abrir os braços de forma calma. A criatura o nota e se move junto com as sombras indo na sua direção, há certa excitação no seu ato diante de sua vítima e seu rugido se transmuta rapidamente para uma gargalhada humana de um homem velho e louco.

Seus braços agora parecem mais serem vários galhos secos e pontiagudos serpenteando na direção do corpo do senhor Branco.

- Carmen! No meio das costas - Grita no exato momento que sente queimar entre as suas costelas.

A coisa ainda tenta virar para trás, mas ele a segura firme enquanto Carmen salta atingindo-lhe e obrigando a se curvar para o chão fazendo-o se chocar no assoalho de madeira. O que antes eram galhos agora são braços se apoiando fortemente no piso e se esforçando para se erguer. Ela está em cima dele agora, com um dos antebraços enfiado em sua coluna, em seguida coloca os dois pés nas costas da coisa, enfia o outro antebraço pouco abaixo do outro e em um rugido furioso utiliza toda a sua força caindo para trás carregando consigo parte da coluna dele ouvindo-lhe se contorcer gritando no chão. Seu grito é um guincho quase ensurdecedor que causa mais medo que seus gruídos. Carmen larga de lado a parte negra de sangue podre que arrancou e salta para o alto se fixando no teto pelas garras que saem de seus tornozelos e plantas dos pés, ficando bem acima da coisa e com os dedos de suas mãos arremessa sobre ele um emaranhado de fios finos como de teias de aranha o prendendo ao solo e sabendo que isso não iria detê-lo demonstra as garras que saem de seus joelhos e cotovelos. Sua vítima agora tenta se libertar com mais voracidade ao se deparar com o que lhe aguarda, mas é em vão. Carmen cai sobre ele ficando-lhe as quatro garras afiadas como navalhas e cheias de veneno. Com seu joelho ela o prende impedido de tentar se levantar e com os dois cotovelos rasgam-lhe do pescoço até a barriga liberando esguichos de líquido escuro e fétido que empesteia todo o ambiente. A coisa ainda tenta, já sem forças, reagir e deixa de se mover. Ela fica de pé depois de um tempo, afastada por segurança e antes de ir até seu parceiro ouve a coisa tossir e virar sua face para ela:

A HORA ZEROOnde histórias criam vida. Descubra agora