VII - Aquelas Velhas Canções (1)

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"Seu sorriso era tão inocente que enganaria o próprio Diabo."


Cais do porto. Branco corre com esforço sentindo seu corpo se tornando mais pesado a cada passo. Ele se esforça para não cair se apoiando com uma das mãos nas paredes que são manchadas com seu sangue. Sua respiração esfumaça devido ao ar congelante da madrugada, seus pulmões queimam e sua outra mão aperta firme o ferimento em seu abdômen. Não demora muito para que seu corpo exija parar ser encostado em um dos postes afastado das edificações. Ele se abaixa, pega sua arma, a segura entre as pernas para carregar a munição com balas negras, enquanto seus olhos buscam algo que se mova nas sombras, qualquer coisa que lhe revele onde possa estar quem o está caçando.

A lua reaparece após estar escondida pelas nuvens e isso lhe é reconfortante, é com sua presença que seus talentos mais se tornam apurado.

A brisa cessa deixando o mundo paralisado no tempo, não há a presença de qualquer som além de sua própria respiração e a sensação de desolação lhe atinge como um murro no estômago.

Com sua pistola de três canos em punho retorna com seus passos (agora sem a dificuldade de antes) sem pressa, atento sempre aos locais encobertos por sombras ao seu redor, aguardando surgir o Boneco Espantalho atacá-lo a qualquer momento.  

- Que vacilo foi esse, Branco? - Sussurra para si.

O frio se intensifica, a escuridão parece se mover enquanto as luzes dos postes vão esmaecendo até extinguirem, mas a lua ainda prevalece presente e com ela sabe que ainda pode ter alguma chance de sobreviver.

Branco se concentra em todos seus sentidos e nos seus instintos, se posiciona firmando bem suas pernas, se curvando e inclinando seu corpo um pouco para frente. A lua brilha iluminando o cais e seus olhos parecem brilhar juntamente. O silêncio é interrompido por rápidos assobios cortando o ar em torno dele, seu braço esquerdo e a coxa de sua perna direita ardem. Ele vê fixado no solo, e em um dos postes, pequenas lâminas com respingos vermelhos. Uma sombra tenta lhe atingir, contudo apesar de ferido, consegue se desviar do ataque veloz. O silêncio retorna e o frio agora parece uma presença, ele se posiciona novamente buscando encontrar indícios de seu agressor. As lâminas cortam o ar, ele se desvia com mais sucesso que anteriormente e ao pressentir o avanço de seu inimigo consegue atingi-lo com uma coronhada com o cabo de sua arma impedindo que o acerte. As luzes dos postes retornam fazendo as sombras recuarem, contudo o perigo não foi embora e Branco tem consciência que pode perder sua vida se cometer um único erro nessa batalha.

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