A HORA ZERO

VIII - A Noite Mais Escura (7)

Apesar de todas suas capacidades, Carmem não saberia dizer exatamente como aconteceu. Seus olhos sujos de sangue fitam o horizonte que estremece pela tempestade, ela sente os músculos de seu corpo fisgarem devido a dor pelo esforço exigido. Ela olha em volta, entre a fumaça e o fogo, buscando compreender visualmente o que acabou de acontecer.

'Uma explosão?’ - Pensou - 'Sim. Somente dessa forma que não poderia se evitar o ataque’.

Ela se levanta e começa a farejar, mas os odores de enxofre ainda são intensos demais. Seus olhos enegrecem, os pontos luminosos vermelhos se destacam entre as sombras, suas pernas tremem ao se levantar, seu corpo instintamente se contrai se preparando para qualquer eventual ataque, após o passar de alguns (eternos) segundos ela começa a analisar tudo que há a sua volta. Percebe que se encontra dentro da casamata, que há destroços decorrentes da explosão, o cheiro forte presente usado para afetar os bestiais, bastões de choque para neutralização largados ao solo; sim, agora sua mente começa a desenevoar e ela pode ver com clareza os eventos ocorridos, tanto que recorda nitidamente de ter escutado a voz de Balthazar gritando:

- Carmem… Cuidad… - Antes de prosseguir um enorme clarão surge entre os dois seguido de um ensurdecedor estrondo e acompanhado de uma fumaça com odor intenso deixando Carmem desnorteada. Mas apesar do ataque repentino, o dom de Balthazar em prever pequenas ações e acontecimentos futuros foi o suficiente para prepará-la e com isso foi capaz de evitar ser completamente atingida, algo que ela não sabe dizer em relação ao seu parceiro. Ao abrir seus olhos Carmem mal consegue enxergar e ao tentar usar seu olfato percebe que usaram o enxofre para evitar qualquer ação nesse sentido dos Bestiais da unidade, que são o Sargento Khan, Antares e ela. Apesar disso ela ainda possui sua visão especial e seus instintos que nunca lhe falharam em situações de risco, e ao utilizá-los consegue evitar um segundo ataque direto pulando para trás e saltando para a esquerda. Ao se fixar no solo ocorre outro ataque.

‘Dois inimigos, manobra ensaiada, se prepararam bem contra mim. ’

Ela se desvia novamente.

‘Ao me posicionar me atacarão com tudo dessa vez. ’

Nem chegou a por os pés no chão e sentiu a lâmina atingir sua coxa direita e seu braço esquerdo. Foi um ataque duplo, ela sabe que o golpe mortal será pela retaguarda. Carmem espera, tudo acontece em milésimos de segundo, saber agir no momento certo define o resultado de um confronto. O terceiro surge para atacá-la e essa é sua janela para sair vitoriosa.  Os dois primeiros, acreditando que haviam limitado seus movimentos quando atravessaram as lâminas em seus dois membros, se descuidam permitindo seu contra ataque fatal. Com suas garras da mão esquerda ela rasga a garganta daquele que a atingiu na perna direita ao mesmo tempo em que com a garra de seu joelho esquerdo defere no peito do que a feriu no braço de mesmo lado, enquanto inclina sua cabeça para trás junto com seu tronco e expele um jato de líquido negro no rosto de seu terceiro agressor. Ela sabe que o uso de capacete e máscara irá retardar o veneno, mas é o suficiente para atrapalhar o ataque lhe dando chance para deferir o último golpe contra seu oponente. Com a garra de seu cotovelo esquerdo atinge diretamente o pescoço dele finalizando seu contra ataque nos três. Caída ela se desfaz o mais rápido que possível das lâminas que limitavam seus movimentos se posicionando firmemente e saltando novamente para não permanecer em desvantagem. Antes de se preparar ela sofre outro ataque. Seu corpo é atingido violentamente por o que lhe parece ser uma lança prendendo-a em uma parede de pedras.

'Uma manobra de quatro movimentos? Como fui tola em não prever. ’

Ela escuta uma voz familiar:

- Essa aí é osso duro. Tome muito cuidado ao se aproximar.

Carmem sabe quem é, mas teve a necessidade de erguer a cabeça para ver Balthazar, com seus olhos fixos nela, parado ao lado do homem que a acertou que segura com as duas mãos uma segunda lança enquanto responde:

- Não há necessidade de preocupação. Meu arpão não a permitirá atacar novamente.

Os dois se aproximam. Carmem sente a hesitação de seu antigo colega de armas, já o estranho demonstra prazer em como seu alvo se encontra. Ao vê-los se aproximando ela sente uma fúria emergir de seu peito invadindo todo seu corpo como se fosse um veneno.

…