IX - Todos os Nossos Pecados (7)

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Independente dos ventos fortes Carmem conseguiu pressentir a chegada do primeiro projétil. A explosão não foi tão intensa, a arma era mais de intuito para causar incapacitação do que provocar estragos.

Ela e Kahn foram arremessados para lados opostos á uma curta distância. Carmem se ergueu depressa, preparada para outro ataque, ignorando os enjoos, a dor em seus ouvidos e a ardência em seus olhos e narinas, tudo oriundo dos produtos químicos da granada. Seu olhar enegrece, ela busca encontrar seu inimigo para eliminá-lo antes que se recupere. Ao distante vê luzes no alto das colinas.

‘Reforços para o maldito covarde’.

Seu instinto a alerta mais uma vez. Sons de projéteis são disparados em sua direção. Carmem sabe que não há como fugir, por mais rápida que seja. Então tenta se desviar e se afastar o máximo que pode do segundo ataque para não ser atingida pelas explosões. Todas as investidas são com armas de paralisação, cada disparo, apesar de não alcançá-la diretamente, afetam seus sentidos bestiais a fim de limita-la ao máximo.

Carmem sabe que precisa ser rápida para escapar do terceiro ataque, então se utiliza de meios que seu pai lhe ensinou quando era uma menina.

‘Se não houver uma porta, faça uma’.

Uma frase que para ele havia mais de uma interpretação.

Carmem usa suas garras para cavar e se enterrar na areia, se aproveita da própria fumaça causada pelas granadas e da tempestade que lhe permite ocultar o seu calor corporal. E isso é importante, o calor de seu corpo pode entregar sua posição. Ela fica imóvel, dentro de seu pequeno túmulo, se concentra para seu coração desacelerar, reduz a temperatura de seu corpo e tenta usar sua audição para acompanhar o que ocorre na superfície.

Agora que está fora do alcance direto conhece os estratagemas que podem seguir. Eles podem cessar com as bombas e tentar fazer uma busca com grupos de soldados ou, na pior da hipótese, pode direcionar um ataque amplo bombardeando todo o perímetro para garantir que ela não saia viva do local.

O silêncio demorado foi à resposta para o pior. Carmem sabe que pode morrer ali, enterrada.

‘Não poderia ser mais irônico’.

Pensou devido a sua ameaça feita antes do confronto com Kahn. Não, não foi só uma ameaça, foi mais do que isso. Foi pessoal, foi uma promessa.

Seu tempo para agir é curto. Ela escava mais profundamente, se encolhe e aguarda. Não demorou muito para ouvir o estrondo acima, de sentir a terra estremecer e queimar. Ela foi capaz de suportar a dor, mas o calor minaram suas forças e tudo a sua volta pareceu um sonho distante e sem sentido. Ela sentiu seu corpo ser levado como se fosse atingida por uma onda do mar e sua mente se perder flutuando na tranquilidade morna e escura no oceano do inconsciente.

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