Um jovem de doze anos de idade, de cabelos escuros quase lhe cobrindo os olhos, usando um macacão jeans sujo, corre agilmente pelas ruas sujas e escuras de um gueto. Entra nas esquinas, salta sobre destroços, pula conseguindo rapidamente passar para o outro lado das cercas e muros. Seu ritmo perdura por um longo período, mas inevitavelmente vai reduzindo o ritmo pelo cansaço que o atinge pelo esforço prolongado. Por fim para de correr e passa a caminhar tirando os cabelos da testa os colocando com as mãos para trás. O suor escorre deixando sua camisa branca (e suja) molhada, sua respiração que antes estava ofegante se normaliza de forma surpreendente. Agora ele percorre devagar, sem pressa e despreocupado assobiando alguma canção qualquer indo para lugar nenhum.
O resto do dia teria sido bom, até divertido se tivesse permanecido assim, se mais adiante o jovem não notasse a corja que o persegue desde seus nove anos.
– Ali está o animalzinho! – Aponta para ele um adolescente encorpado de cabeça raspada, usando casaco de lona sem mangas expondo seus braços fortes para alguém de sua idade. Sua calça é camuflada, muito comum pelos caçadores da região, e usava botas de trilha. Outros três os acompanham, dois irmãos ruivos de cabelos compridos tão parecidos que poderiam ser confundidos com gêmeos, vestidos com camisas pretas com estampas de bandas de rock e calças jeans rasgados, ambos usando o mesmo tipo de tênis branco surrados. O último, um garoto magricela de cabelos louros espetados com ar zombeteiro e olhar perverso, veste uma roupa velha e muito grande para ele. A camisa é listrada em tons azuis diferentes e as calças escuras parecem mais ser de algum tipo de fardamento, mas são os coturnos que o deixa mais ridículo, pois fazem seus pés parecerem grandes demais.
De onde se encontra agora não há mais como fugir, ele é veloz, todos sabem disso, mas não o suficiente, não ainda. De todas as vezes que escapou foi utilizando de sua agilidade e seu conhecimento das esquinas, buracos, rotas e esconderijos. Mas estava em campo aberto, estava bem nas trilhas de ferro antigas da estação ferroviária que nunca fora construída. Olhou para a floresta ainda, para o alto, mas era íngreme demais, se fosse uma descida, mas subindo o pegariam na metade do caminho.
'Me puxariam pelo tornozelo e esmagariam minha cabeça'.
E isso foi o mais simples que imaginou para si mesmo, ele sabia que eles fariam coisa muito pior, como fizeram com Carl Pink Gaguinho, esse nunca mais tinha sido o mesmo depois que passou pelas suas mãos cruéis. Pelas mãos da gangue dos Caçadores, formada pelo careca Eric, o Tijolo, pelos irmãos ruivos Lant e Lian e o garoto de olhar perverso, o Marcus. Foram dois dias até encontrarem o menino escondido na cabana de seu avô. Ficou internado no hospital fora da cidade por semanas sem falar uma única palavra, no mesmo dia que teve alta e voltou para casa se enforcou com seu próprio sinto no sótão. Os responsáveis nunca foram presos, não havia nada contra eles e ao ver pela polícia eram somente vagabundos burros demais que faltavam a escola.
O jovem olhou para eles, restou somente uma única alternativa aceitável. Ele encarou os quatro e correu com toda sua velocidade para cima deles.
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A HORA ZERO
Science FictionNa sociedade há mais do que nossa mente queira acreditar. Existem camadas por trás de outras camadas ocultas, complexas e terríveis. Nesse lado do mundo a agente Carmem, seu instrutor Branco e seu novo parceiro Johnny lutam constantemente com forças...