Branco não sabe, mas seus olhos deixaram de ter sua peculiaridade e passou a acompanhar as estranhas cores das chamas da lareira que o chama:
“Walker… Prince…”
- Como sabe meu nome?
- Ele sabe de tudo sobre todos nós.
A voz vem de trás, distante, mas sua presença revela estar muito perto, praticamente ao seu lado.
Branco se vira rapidamente aguardando algum ataque, contudo se depara com um homem (que não consegue ver direito) sentado de forma onipotente em uma das cadeiras vermelhas. Ele não olha para Branco, apenas diz:
- Você não deveria estar aqui.
Toda a sala se rompe como uma paisagem de vidro se espatifando em incontáveis pedaços. Sua cabeça é atingida por uma forte dor de cabeça, seus olhos lacrimejam e seu corpo sente o impacto do esforço realizado.
Ao abrir seus olhos percebe que se encontra sentando ao lado do jovem se sentindo exausto. Sua voz soa baixa e rouca:
- Gohard… Blade…
Não há respostas, apenas silêncio e o silêncio já lhe diz o que precisa saber.
Branco usa seus dons, mesmo estando enfraquecido, e com eles capta uma movimentação que ocorrera segundos antes de despertar. Ele olha para o jovem inconsciente, sabe que é um risco deixá-lo a sós, porém sem os outros não teria muitas chances em uma luta caso despertasse. Não fraco como está.
Decide seguir o rastro sutil que consegue visualizar de leves movimentos ocorridos de mais alguém que não consegue enxergar direito (igualmente como o estranho sentado na cadeira vermelha). Houve um confronto, uma violenta batalha, alguém forte o suficiente para enfrentar diretamente Blade e Gohard. Mas quem? Poucos são capazes de entrar em confronto contra um Elemental e um Bestial ao mesmo tempo.
Branco prossegue no rastro, caminhando atento atravessando a sala chegando a um corredor de paredes grotescas onde somente no piso há um acabamento com cerâmicas manchadas. Devagar pega sua pistola de três canos que se encontrava escondida por seu paletó e a engatilha.
No fim do corredor ouve os sons de metais se chocando, acelera o passo, um clarão rompe o negro criando sombras assustadoras. Branco se depara com Blade enfrentando um homem com roupas desgastadas usando um capuz de couro que somente revela sua boca e um olho. Ele conhece esse homem, o viu quando entrou na mente do Deslocador.
Seus olhos buscam por Gohard que se encontra agachado e encostado na parede com uma das mãos em seu abdômen. O sangue abaixo dele demonstra a gravidade do ferimento, contudo não aparenta ser mortal e tendo conhecimento das capacidades regenerativas sobre humanas de seu amigo sabe que ficará bem. Sua segunda decisão é escolhida, de deixar de socorrer Gohard e ir até Blade para se juntar a ele no confronto com o encapuzado.
Branco corre em direção dos dois, mas é impedido por Blade que aflige em sua direção uma de suas cargas elétricas. Ao se desviar vê um vulto se movendo para o lado oposto, uma sombra semelhante ao do encapuzado. Um talento peculiar até mesmo entre eles. Seria ele um Replicante? Ou um Mental criando ilusões tão profundas ao ponto de causar os danos vistos em Gohard? Esses questionamentos surgem e desaparecem como fumaça em sua mente.
Branco o encara, vê aquele olho violeta o encarando de volta, ambos se preparando para lutar. A primeira investida vem do encapuzado, seu braço estica de forma surpreendente tentando acertá-lo com algo afiado. Seus movimentos são tão rápidos que Branco não foi capaz de distinguir o que seu oponente tem nas mãos.
O segundo ataque se repete, dessa vez quase o atingiu, foi preciso se esquivar no último instante.
‘Rápido… Ele é rápido demais. Não é possível um contra ataque. ’
Branco opta em se afastar, recua a cada tentativa contra ele, não revida em nenhum momento. Em vez disso estuda cada movimento que presencia, assim poderá antecipar suas como se estivesse em uma partida de xadrez.
Mais uma vez o encapuzado avança contra ele, sem diminuir em nada a sua velocidade. Branco não houve nem um som vindo dele, apenas seus olhos demonstram suas ações.
‘Sim, é isso. ’
Seus olhos são a antecipação. E como um dia lhe foi ensinado, ele usa de seus talentos para realizar sua manobra. Observa seu inimigo, analisa seu olhar colorido e com isso descobre que apesar da frieza existente há a revelação que precisa. Então se concentra e aguarda pelo momento exato. O encapuzado realiza seu movimento, mais perto que da última vez, algo corta um pedaço da gravada de Branco que sobrevoa entre os dois como uma folha seca bailando ao vento.
A oportunidade surge, uma abertura nítida que ele aproveita no mesmo instante e em um único golpe atinge com o cabo de sua pistola as costelas abaixo da axila esquerda de seu adversário. Sons de ossos quebrando confirmam o êxito de seu ataque, porém a reação de seu inimigo demonstra o contrário, ele não recua ou dá qualquer sinal de que sofreu algum dano. Sua resposta foi outro movimento atingindo o ombro de Branco com uma das lâminas, que agora está nitidamente visível, fincada na carne. O ferimento queima provocando uma ardência que se espalha por seu tronco:
‘Envenenado. Fui envenenado. ’
Antes de sofrer outro ataque Branco gira seu corpo em um movimento rápido para se afastar. Ao se posicionar ficando lateralmente com seu agressor, antes que o encapuzado tente acertá-lo novamente com a mesma intensidade ele usa sua pistola dando três disparos sem mirar com exatidão. Cheiro de pólvora e sangue, o barulho curto e abafado de dois corpos caindo no chão.
Branco olha para o encapuzado que o encara. Ele não consegue ver seu rosto, mas sabe, ele sente de forma inegável de que está sorrindo.
‘O sorriso do vitorioso. ’
Seus olhos mudam de direção, buscam encontrar Blade, mas na posição que se encontra não consegue vê-lo. Seu corpo teima em ficar no chão, mas com esforço consegue se levantar se sentindo pesado e quente como se estivesse com febre. Sua mão trêmula desliza por seu paletó até alcançar um dos bolsos, dele retira um frasco que o leva até a boca. Com os dentes abre o invólucro, bebe todo seu conteúdo e faz uma careta. Sua vista turva por alguns segundos e ao normalizar enxerga seis metros à frente seu amigo com todo seu corpo protegido pela armadura que brilha em pequenos e rápidos lampejos. O outro encapuzado não está mais sozinho, ao seu lado há mais dois, todos segurando pequenas lâminas negras em ambas as mãos que balançam de forma ensaiada.
‘Maldito Replicante. ‘
Ele se levanta. Recarrega sua pistola com balas com cores diferentes. Uma prata, a segunda vermelha e a última negra. Olha para Gohard que já se encontra de pé caminhado em direção de Blade. Ele faz o mesmo.
‘Três contra três. Parece aceitável’.
Blade afasta seus oponentes com uma intensa descarga elétrica que clareia o ambiente e recua ficando próximo de seus amigos. Os seis se posicionam em lados opostos prontos para iniciarem um novo combate.
Gohard fica no centro, suas feições não são mais humanas, sua aparência de bestial se sobressai lhe dando a aparência de um leão feroz de cabelos negros, cuja razão se origina sua antiga alcunha, o Leão de Roma. Branco puxa o cabo de sua arma transformando-a em uma espingarda, Blade retira de sua armadura dois bastões metálicos que estavam presos nas laterais de suas coxas, ele bate uma na outra liberando um zumbido.
Os encapuzados os encaram, giram suas facas sincronizados parecendo reflexos em um espelho e avançam contra eles.
Gohard usa de sua força bruta e de suas garras para acertar dois deles jogando-os ao chão, mas se surpreende ao ver mais dois saltando acima dele indo em direção de Branco e Blade. Antes de realizar alguma ação se desvia para o lado esquerdo evitando um ataque a sua frente. Ao olhar se depara com mais três encapuzados indo ao seu encontro com suas facas em punho e apontadas para ele.
Gohard sorri:
- Isso vai ser interessante - E ruge ferozmente indo em direção contra os três.
...
VOCÊ ESTÁ LENDO
A HORA ZERO
Science FictionNa sociedade há mais do que nossa mente queira acreditar. Existem camadas por trás de outras camadas ocultas, complexas e terríveis. Nesse lado do mundo a agente Carmem, seu instrutor Branco e seu novo parceiro Johnny lutam constantemente com forças...