"Nas entranhas daquela floresta silenciosa enterraram medos monstruosos e imperdoáveis segredos."
Derik foi a primeira a dar o aviso da chegada das sentinelas, porém Dorothy não conseguiu fazer o mesmo a tempo. Assim que Johnny, Carmem e Derik se prepararam para darem retirada, dois deles já se encontravam dentro do apartamento.
- Passagem secreta - sussurrou Johnny para sua parceira.
Agora não havia mais como escaparem, e mesmo que o fizessem o provável é que sabem quem são, o que seria apenas questão de tempo até chegarem a eles. Carmem olha para Johnny, ela faz sinal de que irá atacar, ele sabe que é a única alternativa viável, então se prepara (a contra gosto) pegando seus bastões. Mais três segundos e o combate terá início. Jonhhy faz sinal para sua parceira com os dedos da mão esquerda enquanto seus lábios se movem sem emitir som:
‘Mil e três… Mil e dois… ‘
- Poupe o esforço desnecessário, senhor Brasco - Uma das sentinelas falou em um tom amistoso. Pela voz Carmem e Johnny sabem que se trata de uma mulher aparentemente jovem, mas que demonstra a segurança de alguém experiente. Ela prossegue enquanto se aproxima do quarto secreto:
- O Mestre Branco deixou instruções claras para sua última pupila e para aquele que ele considerou seu melhor aluno.
Uma mulher de vestes negras que se assemelham as dos desertos do Oriente, mas sem cobrir-lhe a face e os cabelos dourados longos (presos em uma volumosa trança) que vai além de sua cintura, para diante da entrada do quarto com as mãos para trás. Seus olhos são negros com pontos vermelhos como os de Carmem. Ela olha em volta e em seguida para ele:
- Nesse caso ele se referia a sua pessoa, senhor Brasco.
Ele se ergue baixando a guarda. Olha para a estranha, guarda seus bastões magnéticos e caminha até ela:
- Nunca li ou soube de uma agente com sua descrição. Como se chama?
Ela se mantém imóvel na mesma posição que parou:
- Nomes são irrelevantes para nós, senhor Brasco. É assim que devo me dirigir a sua pessoa? Ou devo me referir ao senhor como Johnny?
- Tanto faz, fique a vontade para me chamar como desejar.
- Pois bem.
- Você disse nós?
Seus olhos negros se direcionam para Carmem que ainda permanece com seus músculos tencionados, preparada para lutar. Ela sorri e fala novamente olhando para Jonhhy:
- Não há necessidade de lutas aqui, senhorita Carmem. Estamos em um templo de conhecimento e não em um campo de batalha. Não é permitido sangue derramado nessas estruturas.
Carmem reluta, mas fica ereta mantendo distância da estranha. Ela olha para seu parceiro que aparenta estar mais curioso do que preocupado com a situação. A mulher prossegue:
- E respondendo a sua pergunta, senhor Johnny, nós, eu me refiro aos outros e a mim. Somos todos as Sombras do Mestre Branco.
A guardiã do Quarto dos Tesouros dá um passo para dentro do recinto mantendo ainda os braços para trás. Carmem tenciona novamente seus músculos, agora por instinto, mais uma vez ela sorri ao ver a tensão que demonstra. Johnny se apoia na parede, cruza os braços, olha para entrada da porta e vê um homem calvo usando as mesmas vestes negras, de pele escura, lábios finos que mal são visíveis e olhos tão claros que se destacam no escuro. Ele busca o olhar de sua parceira para ver se ela visualizou o mesmo que ele, mas o que ele nota é uma atmosfera pesada entre as duas, como se houvesse uma eletricidade de rivalidade pairando no ar prestes a romper as paredes da cordialidade. ‘Bestiais e seus instintos territorialistas’ . Pensou e imaginou se deveria falar a respeito disso, mas declinou e decidiu retornar de onde parou:
- Tenho que admitir que me sinto Desconfortável, e até mesmo em desvantagem, não sabendo seu nome, ou codinome, enquanto demonstra saber tanto a nosso respeito.
- Peço desculpas por provocar tais sensações, mas o sigilo faz parte de nosso credo, além do mais, também nos permite proteção. Como bem sabe senhor Brasco, nomes são meios de informação que nos ligam à pessoas e principalmente ao passado. E nosso passado é cheio de pecados, não? - Ela muda a posição de seus braços para frente apoiando a mão direita sobre a mão esquerda. Carmem demonstra nítida hostilidade, mas se mantém firme em sua atitude “pacífica”.
Dorothy surge pairando no ar em frente de Johnny. Ela assobia, ele responde sorrindo:
- Tudo bem, tudo bem Dorothy. Sei que não foi culpa sua, se acalme. Está tudo bem, não são perigosos - Ele olha para a estranha - Pelo menos não para nós.
- Que bom que vê dessa forma, agora se quiserem podem usufruir das coleções do Mestre Branco. Fomos orientados a dar livre passe para vocês dois. Com sua permissão, irei me retirar - Ela acena com a cabeça para Johnny e em seguida para Carmem. Os dois ficam parados olhando ela partir, na porta se mantém firme a outra Sombra, o homem de olhos claros que os observa em silenciosa vigília.
Johnny desvia seu olhar da porta para Carmem, ela aparenta ainda estar se contendo, mesmo depois da saída da estranha. Johnny se aproxima dela:
- Parceira?
Ela o olha, mas parece não o estar enxergando. Ele a chama novamente e após alguns segundos demonstra sinal de que o escutou:
- Estou bem Johnny, não precisa me olhar assim.
- Você a conhece? - Pergunta seriamente.
- Não exatamente. Mas há algo nela que me perturba - Ela olha em volta, fita alguns objetos, se aproxima de uma peça de carvalho em forma de espiral com um livro negro de capa dura. No livro há o símbolo de um crânio humano mordendo uma serpente - Há um cheiro de outra pessoa aqui, alguém jovem, feminino… - Ela olha para seu parceiro.
- O que houve? - Ele a indaga.
- Essa pessoa tem o cheiro parecido ao do Branco.
…
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A HORA ZERO
Science FictionNa sociedade há mais do que nossa mente queira acreditar. Existem camadas por trás de outras camadas ocultas, complexas e terríveis. Nesse lado do mundo a agente Carmem, seu instrutor Branco e seu novo parceiro Johnny lutam constantemente com forças...