V - O Legado de Nossos Pais (4)

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A jovem está fascinada com todos os objetivos presentes no quarto de seu avô.

‘O quarto secreto das maravilhas’.

Pensou ao recordar das histórias que seu pai lhe contava todas as noites antes dela dormir. Recordou especialmente da última que escutou quando ele se encontrava enfermo no leito de hospital por consequência do câncer. Nessa época ela já não era tão criança e sua mãe já havia partido o que a levou a viver por alguns anos com sua madrinha, Amanda Kunts, mas a ideia da existência de seu avô paterno sempre vagou em sua mente. Pela forma que seu pai lhe contava havia algo de fantástico sobre ele, apesar de menciona-lo somente ao contar suas histórias, fora isso nunca falava nada sobre o mesmo e muito menos respondia qualquer pergunta que ela fazia. Era como se seu avô fosse um personagem fictício de um livro de aventuras e mistérios.

Depois de investigar nos pertences de seu pai, após seu prematuro falecimento, não foi difícil encontrá-lo. Agora sorridente não consegue deixar de imaginar a ligação entre os três, do quanto ela se assemelha com seu pai e de como seu pai certamente se parecia com seu avô.

Caminhando pelo quarto secreto seus olhos não param, vão de um objeto a outro, dos inúmeros livros devidamente organizados, enfileirados em estantes dentro das paredes. Há estátuas antigas, algumas bem destruídas, peças de estranha aparência e artefatos antigos, engrenagens de ouro, moedas raras, máscaras talhadas na madeira e até mesmo o leme de um navio. Ao contrário do restante do apartamento aqui não existe qualquer quadro, nenhuma pintura, mas acima da lareira há uma flauta dourada, um lampião de metal reluzente e algo que parece ser uma mistura de relógio e bússola, que apesar de seu aspecto antigo possui um designer moderno. Após circular pelo cômodo ela se senta em uma grande e ornamentada poltrona de veludo que se destaca no recinto.

‘Parece um trono’.

Olha para uma peça de carvalho em forma de espiral com um livro escuro de capa dura confortavelmente em cima. Ela se ergue e vai até o livro e o manuseia vendo que não possui título, mas sim um símbolo de um crânio humano mordendo uma serpente. Seus dedos deslizam sobre a marca e abre o livro. A primeira página é uma folha transparente que protege a seguinte que possui a letra V, o número cinco em romano. Vira mais uma página e lê:

“Não vivemos no primeiro mundo, nem no segundo e muito menos no terceiro. Encontramos-nos no quarto e creio que de forma inevitável estamos indo rumo ao final dele.”

Ela faz um olhar intrigante e prossegue entretida completamente com o livro, tanto que não escuta os passos lentos dentro do quarto.

A HORA ZEROOnde histórias criam vida. Descubra agora