VI - O Senhor das Feras (6)

33 10 42
                                    

Já haviam se passado sete horas desde a chegada do senhor Branco e Juarez na fazenda de Otelo. Apesar de terem disponibilizados quartos de hóspedes, ambos permanecem na sala de estar, já seus anfitriões, Muralha e Bella Anna, deixaram o recinto e foram para seus aposentos. A primeira observação que Branco fez foi o silêncio noturno que lhe dava a sensação de estar em um lugar esquecido e completamente isolado do resto do mundo, onde o único som presente era do vento que cantava lá fora desde que o sol se pôs. Em momentos assim tensos, ouvir o vento sempre lhe fez bem.

– Eles ainda estão lá fora. Olhando para cá como se tivesse visão de raios-X. – Fala Juarez que está sentado, com os braços cruzados, em uma poltrona próxima de uma das janelas. – Percebi que eles fazem turnos. – Diz sem tirar os olhos da janela. – São como soldados.

Branco que está sentado em um dos sofás, de costa para seu amigo, se vira sem se levantar e olha para a mesma janela que Juarez não se desprende:

– Eles são somente vigias, meu amigo. Enquanto estivermos aqui dentro estamos seguros.

Juarez olha para Branco (que agora mantém seu olhar atento á janela) e responde:

– Aqui dentro é menos segura que lá fora, B.

– E o que o leva a tal informação?

– Porque ao analisar bem quem reside nessa moradia não fica tão improvável crer que os vigias, como você referiu, estão aqui não para tomar conta do perímetro e nem por causa de meros intrusos ou indesejáveis convidados. – Ele ajeita seus óculos de armação metálica e volta a fitar a janela como antes. – Eu cheguei a uma conclusão, que esses vigias estão aqui devido ao que está dentro… Para impedir que saia.

Branco observa seu amigo que está com o rosto voltado para a janela, com toda sua atenção direcionada para o lado de fora. Depois passa a olhar a sua volta, começando pelas escadas. A ausência de quadros lhe dá certo desconforto, o lugar cheira a cedro, suas paredes são troncos empilhados uns em cima do outro e apesar da estética rústica do casarão, da beleza dos móveis antigos, num estilo que o agrada, o lugar lhe parece insistentemente morto. De fato para Branco lhe veio nitidamente a certeza de que está em um cemitério em vez de uma residência no campo.

Talvez por, tanto Juarez como Branco, estarem tão entretidos em seus próprios pensamentos nenhum dos dois percebeu (ou analisaram o local) que há uma câmera oculta acima da lareira registrando cada gesto deles. E em algum lugar está um homem sentado em uma poltrona, escondido nas sombras, os observando atentamente através das lentes dessa câmera.


A HORA ZEROOnde histórias criam vida. Descubra agora