VII - Aquelas Velhas Canções (5)

17 6 16
                                    

Carmen já se encontrava sentada em uma das mesas pequenas tomando um copo de café gelado quando Johnny entrou no estabelecimento como marcado. Por hábito observou o lugar e todos os presentes, o fez rápido como lhe foi ensinado, contou a quantidade de clientes, os que estão sentados, os que estão em pé na fila, observou o que consomem e o que fazem, se conversam, se estão em silêncio entretidos em seus aparelhos eletrônicos ou lendo. Também fez uma contagem dos funcionários, prestou atenção nos nomes em seus uniformes. Fez isso enquanto caminhava até sua parceira, ao chegar puxou uma cadeira, se sentou e fez contato visual com uma das garçonetes que se direcionou até ele:

– Boa tarde. O que deseja?

– Olá. Queria o número três, por favor.

– Sim, senhor. E a senhorita, quer mais alguma coisa?

– Não, obrigada.

E com um leve aceno de cabeça e sorrindo se afastou para buscar o pedido.

– Sabia que há estudos que afirmam que o café faz mal? – Fala Johnny dando um sorriso de banda.

– Ainda assim não paramos, não é?

– Nossa raça é peculiar pelos defeitos, mas principalmente pelos vícios.

Ambos encerram a conversa quando a garçonete retorna com o pedido de Johnny. Ele agradece sorrindo e os olhos de Carmen se tornam acinzentados demonstrando claramente a seriedade desse encontro.

– Pois bem. – Fala observando a funcionária se afastar. – Vamos direto ao centro dessa sua tempestade que vejo em seu olhar.

– Preciso de informações, Johnny.  

– Para me chamar até aqui assim tenho a obrigação de lhe perguntar. – Ele dá um gole devagar, degustando o café. – Tem certeza que realmente quer isso? Pois tem algumas portas que ao serem abertas não há mais como fechar e você entra mesmo sem atravessá-la. – Ele se inclina para frente se aproximando mais. – Carmen, é como mergulhar num precipício.

Ela não demonstra qualquer reação com o que lhe foi dito e seu silêncio é uma resposta que diz mais que qualquer palavra. Johnny a observa, dá outro gole, põe a xícara em cima da mesa, cruza os braços e esboça um sorriso:

– Pois bem. Agora que conhece as regras do jogo... O que deseja saber?

– Quando fui recrutada pelo Escritório estava nas forças especiais da Karev. Atuei inicialmente na Europa até ser encaminhada para as Américas. Sempre fui soldado, Johnny, até mesmo quando me tornei uma agente eu pertencia ao grupo tático. E durante esse tempo testemunhei o inesperado, vi coisas que fizeram me fechar para o resto do mundo, principalmente depois que meu pai desapareceu. – Seu parceiro permanece calado analisando cada palavra.

Ela termina de beber seu café, os dois se encaram por indeterminado tempo sem nada dizer até ela prosseguir:

– Branco não era somente meu mentor, ele é meu amigo. – Dessa vez é ela quem se inclina no intuito de se aproximar falando em um tom mais baixo. – Quero que me conte tudo que sabe a respeito sobre os Campos Verdejantes e suas fazendas.


A HORA ZEROOnde histórias criam vida. Descubra agora