II - Meu Nome é Johnny (3)

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O celular toca o som peculiar de mensagem e isso incomoda Carmen profundamente. Ela pega o aparelho e desliza seu polegar no visor:

RUA CAMINHO VERDE. 36. EDIFÍCIO GLASS FOX.  

Antes dela guardar o aparelho chega outra mensagem:

EDIFÍCIO DEXTER. 23 HORAS.

Carmen fecha os olhos e pensa quantas vezes seu parceiro deve ter passado por isso.

– Vamos, garoto!

Chama Johnny enquanto se levanta. Ele faz o mesmo. Ela calça os tênis e os dois seguem pelo parque indo para casa.

A caminhada se torna agradável, apesar de tudo que aconteceu para eles, até mesmo a distância, já que ela decidiu pelo caminho mais longo e isso não pareceu ruim, muito pelo contrário, foi até uma necessidade a ser realizada. Ao chegar na frente de seu prédio ela vê um homem vestido como um executivo, de cabelos escuros longos, penteados impecavelmente para trás, e cavanhaque, sentado nos degraus lendo uma HQ com o título em vermelho vivo OS DESAFORTUNADOS. Ao seu lado um copo grande de café que ela reconhece ser da lanchonete que fica no final da rua que costuma ir. Por impulso seu corpo fica tenso e hesita em prosseguir. Johnny a acompanha em cada passo que dá ou não dá. O homem a encara aparentando a princípio ser mais velho antes pelo semblante sério, mas agora que vê seus olhos pode afirmar que não é muito mais velho que ela, porém, ainda assim, há algo de velho nele, algo de antigo. Ele fecha a revista e pega o café, dá um longo gole, depois a cumprimenta com o copo e fala:

– Carmen, não é?

Ela não responde.

– Como não fomos oficialmente apresentados pensei em vir aqui. – Da outro gole. – Ainda acredito muito no olho no olho.

Carmen permanece na mesma atitude. Johnny agora se senta ereto ao seu lado.

O homem se levanta, balança o copo para ver o quanto ainda tem, desce os degraus com a revista na outra mão. Ela olha para a revista e ao perceber isso ele mostra a capa:

– Conhece? – Estica o braço lhe entregando. Ela segura como se fosse algo precioso e diz:

– Um amigo costuma ler isso...

B?

Carmen o olha surpreso e sem resposta.

– Foi ele quem me deu. Depois que li nunca mais parei. Isso deve fazer... – Ele dá um sorriso de banda. – Uns bons anos.

Ele se aproxima do cachorro, se abaixa para os olhos ficarem no mesmo nível e alisa o pescoço dele:

– Lindo menino.

Carmen observa os dois, presta atenção como o labrador parece calmo diante dele:

– Você conhece o senhor Branco há quanto tempo?

– Desde meus dez anos, logo depois que perdi meus pais. – Ele olha para ela. – Diria que nosso mundo é um mundo de órfãos, não?

– Como você se chama? – Pergunta em um tom sério.

Ele olha para a placa presa na coleira do cão:

– Meu nome é Johnny.


...

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