VI - O Senhor das Feras (1)

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"Não temo demônios,
não temo monstros,
Não temo as criaturas
que surgem do desconhecido.

Meu único temor é dos homens."




David trabalha no mesmo lugar há dezessete anos, nunca teve uma promoção, jamais fez algo além de suas obrigações que seu cargo exige. Ele passou todos esses anos vendo os Agentes de Campo, pelo menos assim são chamados, virem e irem trazendo estranhos objetos, ou até de aspecto comuns, mas todos tratados como algo importante ou perigoso. Em certas ocasiões surgiam com os restos de alguma criatura que nem ele pôde ver uma única vez e em outras situações, raras situações, apareciam com prisioneiros que muitas vezes não demonstravam serem perigosos, mas alguns também nem pareciam humanos. Hoje ele seguiu sua rotina como sempre e ao ler a mensagem no monitor com os dizeres: ENTREGA. UMA UNIDADE. EDIÇÃO DE COLECIONADOR. Ficou surpreso, pois será a primeira vez que irá receber um pacote desse nível. Ele sai de sua sala, segue por um longo corredor, para diante do elevador e encaixa uma chave no painel girando-a para a direita fazendo as portas se abrirem. Entra no elevador e aperta com seu polegar um botão com uma seta apontando para cima e fica imóvel com as mãos para trás. Após uma longa subida o elevador chega ao seu destino, ele usa novamente seu polegar em outro botão do painel para abrir novamente as portas. Sai e percorre outro corredor, de aparência fria, e para diante de uma porta de vidro escuro com as bordas de bronze. David utiliza outra chave para encaixar na fechadura, gira dessa vez para o lado esquerdo enquanto uza novamente seu polegar para abrir as trancas. Guarda a chave, ajeita os colarinhos de sua farda, abre a porta e se depara com o jovem Black, firmemente imobilizado, acompanhado de Carmen e Johnny, cada um de um lado do prisioneiro.

Ele encara Black, depois Carmen e por fim Johnny e volta o olhar para Black de novo:

- Credenciais, por favor?

Carmen ergue seu braço esquerdo, levanta a manga de seu casaco revelando uma tatuagem estilizada em forma de espiral no pulso. David pega do bolso de seu paletó um aparelho cinza pequeno, do tamanho de um isqueiro metálico. Ele encosta o aparelho em cima da tatuagem emitindo um leve som, se afasta e aguarda o próximo agente. Johnny se aproxima, dobra a manga de seu casaco do braço esquerdo expondo sua tatuagem em forma de uma torre em chamas em seu antebraço. David repete o mesmo procedimento, o som surge novamente, guarda o aparelho e sorri para ambos:

- Podem seguir, por favor. - Fala enquanto direciona a mão para a porta de onde veio.

Carmen e Johnny prosseguem levando Black com David os seguindo com cautelosa distância. Depois de passarem pela porta ele a fecha automaticamente. Os passos ecoam pelo longo corredor, ao chegarem ao elevador David usa a chave como fez antes. As portas se abrem e todos entram, ele usa seu polegar, mas dessa vez em um botão com uma seta apontando para baixo, posiciona seus braços para trás como antes e permanece parado com um esboço de sorriso sem emitir uma única palavra.

Carmen ignora o silêncio do homem e fala com seu parceiro:

- Já veio aqui antes?

- Sim, algumas vezes. Você não?

- Nunca tive um prisioneiro antes.

- Ahhh... Por isso seu apelido no tempo em que trabalhei no Escritório.

- Que apelido?

- A Coveira.

David observa, pelo reflexo da porta do elevador, os dois parados da mesma forma, imóveis enquanto Black parece dopado emitindo um barulho ou balbuciando algo sem significado.

A HORA ZEROOnde histórias criam vida. Descubra agora