XI - Um Mundo Além de Nós (4)

6 1 0
                                    

Gohard cai imóvel. Seu corpo pesado ecoa causando perturbação aos ouvidos de Branco.
Os encapuzados olham para ele. Levantam suas lâminas, uma em cada mão. Correm em sua direção balançando as dez facas que logo viram quatorze. Ao saltarem sobre ele, Branco brilha novamente, sua última carta. Sabe que agora não há mais nada que possa fazer a não ser lutar até morrer. Três deles caem desorientados, os outros se espalham a sua volta e de quatro viram seis, de seis se tornam oito. Avançam diretamente por todos os lados, alguns por cima igualmente aos primeiros. Branco se prepara.

Foi uma honra, amigos.

Antes de atingi-lo sons de leves zumbidos surgem no ar. Ele vê os corpos caindo, todos eles atingidos na cabeça. Branco olha para um deles, visualiza uma flecha fincada em sua têmpora. Uma flecha negra.

Sombras.’

Branco olha em volta, vê pessoas saindo do escuro, todas de vestes negras e idênticas dos Guerreiros do Deserto ou como um dia lhe foi apresentado, os Mercadores da Morte.
Na frente deles está um homem negro, alto, de cabeça raspada e olhos claros. Eles se encaram, mas Branco declina e vai até Gohard.

O homem fala alto:

– Ele ainda não está morto.

Branco põe a mão cobrindo os cortes da garganta para conter a hemorragia:

– O ferimento foi grave demais. Seu corpo já estava desgastado de tanto se recuperar – Ele cheira o sangue de uma de suas mãos – E o maldito ainda usou veneno.

Uma das mulheres se aproxima. Ela aparenta ser muito jovem e sua pele alva e seus cabelos louros presos em uma longa trança a faz se destacar dos demais.

– Se afaste Mestre Branco. Deixe-a agir – Fala o homem.

Ela se abaixa. Branco tira as mãos do ferimento. Ela cheira o sangue, passa a língua e após alguns segundos vomita sobre o ferimento um líquido esbranquiçado com um cheiro doce e agradável. Depois fecha sua mão de onde entre os ossos dos dedos sai uma pequena garra curva dentilhada. Ela faz uma pequena perfuração em seu próprio pulso e derrama seu sangue no ferimento e na boca de Gohard.

Branco observa atentamente em silêncio.

O homem se aproxima dele, põe a mão em seu ombro:

– Aguardemos. Não é prudente removê-lo agora.

– Eu não posso esperar – Sua voz soa séria e enraivada – Blade foi levado e o covarde do encapuzado está fugindo. Preciso encontrar seu rastro antes que desapareça, é a única pista que tenho.

O homem faz sinal para alguns do grupo que obedecem imediatamente seguindo para direções diferentes.

Branco fala impaciente:

– Ele é muito forte. Veja como nos deteve. E ainda há um Deslocador com ele.

– Não se preocupe Mestre Branco. Somos Sombras. Não podem atacar o que não podem ver. Se estiver por perto nós o encontraremos.

Branco se levanta. Vai até os bastões de Blade que ainda estão presos no chão. Ele usa a coronha de sua arma para retirá-los, sabe que ainda estão energizados e que não pode tocá-los. Um dos integrantes dos Sombras vai até os bastões, retira de suas vestes um par de luvas grossas emborrachadas e as calça, em seguida pega os bastões e permanece parado em silêncio.
Branco olha para ele, em seguida para a mulher que ajudou Gohard e, por fim, para o líder deles:

– Eu não quero parecer ingrato, longe disso, afinal salvaram a minha vida e de meu amigo, mas como chegaram aqui? Como nos seguiu sem que pelo menos Gohard tivesse conhecimento?

– A meu ver, antes de entrarem naquele templo destruído, ele sabia de nossa presença. Entre sua espécie ele é possuidor de grandes capacidades. É raro conseguir manter a razão em sua forma Bestial nesse nível, o natural é a fera dominar o homem, mas parece que ele domina facilmente seu lado animal – Ele olha para Gohard que ainda está inconsciente – Um Leônidas, quem diria? Séculos atrás éramos inimigos por natureza – Ele encara Branco de forma séria – E foi seu amigo, o Cavaleiro Metálico, quem nos contatou. Nós respeitamos sua vontade de não segui-lo, mas temos também a obrigação de proteger o Guardião dos Segredos, sendo assim ao sermos informado de que iria a uma missão que exigia de perigo fomos obrigados a seguir nossas leis.

Blade. Droga, eu devia tê-lo escutado. Se não tivéssemos vindo sozinho nada disso teria acontecido.

– Sem culpas, mestre Branco. Tudo acontece como tem que ser. O que faz pensar que teria sido diferente? Nossa vitória veio devido à falta do conhecimento da nossa presença aqui. Um detalhe diferente e o resultado poderia ser outro.

– Sim. Talvez esteja certo, mas na realidade não há como de fato sabermos.

O homem nada respondeu. Permaneceu imóvel e calado como todos os outros.
Branco também não disse mais nada, caminhou até seu amigo, segurou sua mão, fechou os olhos e sussurrou palavras em um dialeto desconhecido.

Todas os Sombras começam a sussurrar com ele também.

...

A HORA ZEROOnde histórias criam vida. Descubra agora