IX - Todos os Nossos Pecados (4)

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A revolta dos céus parece interpretar a fúria de Carmem diante dos traidores a sua frente. Balthazar revela estar mais com medo do que o Sargento Khan que demonstra incrédulo diante do que vê.

- Balthazar - Fala baixo Khan enquanto o solta devagar para não derruba-lo - Você terá que sair daqui sozinho, soldado. A batalha agora é somente entre feras.

- Não seja duplamente tolo, Sargento. Primeiro que eu não tenho forças para fugir nessas condições. Segundo que você não está preparado para ela.

O olhar frio como lápide de Khan é a resposta suficiente para Balthazar se calar e com muito esforço sai caminhado devagar sem olhar para trás.

Carmem os observa de pé, de forma onipotente, não demonstrando qualquer sinal de dor ou desgaste dos ferimentos sofridos. E ao encarar ela bem nos olhos, Khan não consegue evitar sentir um frio percorrer sua espinha até atingir seu estômago.

É primitivo, meramente um instinto primitivo' .

Pensou a fim de controlar suas emoções e se manter equilibrado para o confronto. Ele desembainha sua espada velozmente, mas não o suficiente para evitar o primeiro ataque. Antes de conseguir se defender seu peito esquerdo é atingido pelas garras de Carmem, ambos se afastam e se posicionam. Khan se apoia no chão com um dos joelhos, com a espada direcionada para frente e com sua mão esquerda apertando seu ferimento. Carmem se mantém de pé como antes, sem tirar os olhos de seu oponente.

A vista de Khan embaça, ele sabe que é por causa do veneno. Carmem aperta os olhos, esboça um sorriso no canto da boca, compreende que o veneno não fará efeito nele depois, é uma das capacidades que possui, o de se adaptar não só ao ambiente, como também de agressores internos.

Dessa vez não há a desvantagem do descontrole dela, sua mente está vívida e seu corpo em pleno domínio, Khan tem conhecimento de suas capacidades, conhece seus movimentos, mas ainda assim ela o deferiu um golpe rápido demais para evitar. Será preciso outro tipo de tática, agir como se tivesse se deparando com ela pela primeira vez, esquecer-se dos movimentos que havia estudado, de suas ações presenciadas, de seu modos operante.

Não há tempo para reflexões de novas estratégias, Carmem avança mais uma vez, ainda mais rápida que antes. A ferocidade se seu ataque quebra a guarda de Khan que sente a dor do ferimento do peito que ainda não cicatrizou o suficiente; sua outra peculiaridade, a regeneração acelerada, algo que já o salvou inúmeras vezes da morte.

Mais uma vez ele retorna para a mesma posição, porem além de seu joelho apoiado no chão  ele também usa sua espada para se manter firme, ele sente uma dor pulsante no lado direito de seu abdômen inferior. Ao olhar vê uma perfuração com hemorragia. Sente o gosto de sangue na boca e o cospe.

São vinte e seis garras afiadas ao longo de seu corpo, quatro delas são peçonhentas. Possui presas perigosas que também inoculam veneno. Produz algo semelhante a teias, tem capacidades para grandes saltos, movimentos rápidos, é dona de uma força anormal e variante. Além disso, seus sentidos são tão aguçados quanto os meus’ .

Ele se ergue, seu primeiro ferimento está quase curado. O segundo já parou de sangrar. Seus músculos contraem, seus olhos enegrecem, sua ires aumenta de tamanho.

Carmem permanece imóvel e fria diante dele, seu olhar é de desprezo, o que faz Khan se sentir ofendido. Ele avança, planeja um falso ataque direto, é no contra ataque que conseguirá atingi-la com um golpe mortal.

Seus passos são rápidos e precisos, ele aproveita os ventos fortes e o barulho da tempestade para engana-la, usa sua espada já aguardando que ela se desviasse. O que ela faz de forma ágil, mais do que ele esperava, mas sua chance ainda existe no contra ataque. Sua espada age novamente, ele aguarda a jogada dela, observa atentamente os movimentos que ambos realizam para exatamente saber o que fazer, não pode haver erros, errar pode significar a morte.

Carmem se move rápido, mas não tenta atingi-lo, se desvia, bloqueia, é como se soubesse o que ele pretende. Khan modifica sua estratégia, usará um movimento enganador seguido de outro para acertar sua oponente e antes que ela possa reagir atingirá ela novamente com um terceiro golpe definitivo. Sua intenção é cortar sua cabeça ou desmembra-la para incapacitar seus ataques e aumentar suas chances.

Sua espada corta o ar deixando um risco luminoso ao realizar o movimento enganador, Carmem o bloqueia com as palmas das mãos, ele a acerta com o joelho e em seguida defere um golpe que a acerta no peito com uma pequena lâmina retrátil no cabo, ela o afasta chutando seu rosto de forma hábil, mas ao se preparar para contra atacar percebe que a lâmina em seu peito está conectada á um cabo que se liga a espada de Khan. Seu corpo queima com a carga elétrica, uma manobra inteligente, ela reconhece e agora compreende as intenções dele e sabe o que está por vir. Ela conhece bem o Sargento, de suas “finalizações” em seus combates, afinal não é a toa que o chamam de o Retalhador. Ela vê a espada se aproximando, mais uma vez desvia evitando atacar. Sabe que Khan sempre foi o melhor em contra ataques. Por alguns segundos os dois permanecem nessa dança, Khan utilizando da guia da pequena lâmina para evitar que ela se afaste enquanto sua espada avança de forma feroz e Carmem agilmente evitando ser atingida.

Khan enxerga sua chance, deixou creditar que estava prevendo seus golpes e põe seu plano em ação. Usa a guia puxando-a para reduzir o espaço entre os dois, aguarda ela agir de modo que espera que faça, conhece seu temperamento.

Novamente ela faz como imaginou em sua mente, irritada usa uma de suas grandes garras para arrebentar a guia, é um movimento de milésimos de segundos, Mas para Khan é uma imensa janela que aguardava para passar. Ele a atinge com a espada tentando separar o braço dela do resto do corpo, Carmem desvia se prepara para contra atacar. Um barulho forte e cheiro de pólvora invadem seus sentidos e ela sente um impacto doloroso de raspão em sua têmpora. Seu corpo gira para trás e antes mesmo de conseguir se equilibrar ela ouve o som da lâmina se aproximando. A finalização perfeita de Khan. Ele arremessou a espada para seu peito, por milímetros não acertou seu coração, seu corpo se contrai devido a dor, ela se prepara para o próximo golpe, aquele que deverá ser o definitivo para a vitória de seu inimigo.

Os olhos de Carmem buscam de onde ele virá, sua audição e olfato são inúteis agora.

De cima’ .

Foi seu instinto que previu. Ela aguarda, a atmosfera chega a ficar pesada e tudo a sua volta se torna mais vivo do que nunca. Ela sente cada gota da chuva, a eletricidade no ar, o frio que entra em seus pulmões, a dor e tensão de seus músculos e sente Khan. Ela não se lembra de ter sentindo alguém assim, sempre utilizou de seus cinco sentidos ao lutar, mas agora ela o sente, sabe de que lado virá e que pretende mata-la.

Khan cai sobre ela com duas lâminas em forma de lua em punho, Carmem não pensa, não planeja, deixa seus instintos dominarem suas ações. Antes de ser atingida ela jorra um líquido viscoso na direção do Sargento, nada que o matará, o corpo de Khan resistirá ao veneno, contudo a intenção é de bloquear sua visão e dessa vez de enganá-lo utilizando de sua própria técnica.

Khan se prepara para o ataque de Carmem e assim que o fizer ele irá tirar sua vida. Contudo não houve ataque, ele sente seu corpo ser preso por finos fios que o imobiliza, ele se esforça para não ficar completamente preso, usa se todas suas forças para romper, então se dá conta que tanto ele, como Carmem, sabe que isso não o deteria.

Um truque. Um truque barato’ .

Antes de se preparar ele sente sua própria espada atravessando seu corpo, atingindo a sua perna direita e ficando ao solo o mantendo preso.

Acabou’ .

Pensamentos turvam sua mente distorcendo seus sentidos, seu corpo sente as consequências de seus ferimentos e por mais que seu orgulho não queira permitir aceitar ele sabe que foi derrotado.

...

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