XI - Um mundo Além de Nós (2)

4 1 0
                                    

Max arregala os olhos. Abre a boca no intuito de falar, mas nada diz. Olha para Charlotte com nítida pergunta nos olhos.

Ao encara-lo e ver sua atitude ela gargalha sem se importar se chamará atenção ou não:

- Ok, ok. Eu sei que é inusitado, mas não cogitei que lhe faltaria palavras.

- Ahh… Desculpe-me. De fato foi um momento revelação para mim. Igual como nós filmes - Ele sorri de forma desconcertante e se aproxima de Alenora erguendo a mão – Me apresentarei de forma correta. Pelo visto sabe sobre os codinomes, então irei lhe dizer o meu verdadeiro, já que tem conhecimento de minha alcunha Max.

Alenora sorri com o gesto dele.

Max limpa a garganta e fala cordialmente:

- Eu me chamo Nimoy. Erick Nimoy. Mas pode me chamar de Max13.

Alenora aperta sua mão em um compromisso de cavalheiros. Ela pára de sorrir e tenta responder séria:

- Prazer, senhor Max13. Já tem conhecimento de minha graça, e ao contrário de sua pessoa e Charlotte eu não possuo um codinome.

- Ah, sim. Mas podemos remediar isso facilmente. A propósito, sem essa de senhor, sei que a etiqueta exige, mas, por favor, apenas me chame de Max. Ou se quiser de Treze.

- Ok, Treze.

- Muito bem - Fala Charlotte caminhado  devagar para outra parte do salão - Agora que são amigos, vou deixá-los a sós por alguns instantes. Preciso fazer alguns telefonemas. Alenora, querida, com sua permissão. Max, juízo, hem garoto.

Max sorri. É um sorriso infantil o que lhe dar ainda mais ar de jovialidade o que contradiz com seu comportamento sério. Ele olha para Alenora:

- Gosta de arte?

- Sim. Meu pai sempre me levava a museus e a exposições. Mesmo quando estava muito ocupado. Foi algo que ele dizia que herdou do pai dele. Ele não era de falar de meu avô, exceto quando me contava histórias deles como contos antes de eu dormir, mas quando íamos ver alguma exposição ou passear em algum museu ele acabava soltando alguma coisa dele.

- É bom saber algo do professor assim.

- Gostava dele não é?

- Oh, sim. Ele me ajudou de uma forma que me direcionou para seguir meu próprio caminho. Então eu diria que ele foi meu primeiro tutor - Max olha para o quadro que estava observando antes - Venha, quero que veja uma coisa.

Max caminha em direção a sua mochila que deixou frente ao quadro. Alenora segue curiosa. Ao parar se vira para ela e pergunta:

- Então?

Ela olha para a pintura. Nela há a imagem imortalizada de uma jovem de cabelos longos, louros e ondulada como os dela. Nas extremidades de seus cachos existem formas de espiral que chamam sua atenção. A jovem aparenta ter doze ou treze anos, mas seu olhar parece tentar revelar algo além de seu tempo de existência. Ela está sentada no parapeito de uma janela de madeira com a vidraçaria colorida que enchem o ambiente de vida pela luz do sol. Do lado de fora da janela está o cenário de uma praia tão realista que faz Alenora recordar da casa de praia de sua família, contudo isso não lhe traz desconforto algum, mas sim o que ela visualiza atrás da jovem, em sua sombra. A imagem de algo vivo e faminto, se alimentando dela de uma forma que a própria não perceba a sua presença.

Alenora encara a coisa que mora nas sombras, ela sabe que já viu tal coisa em uma de suas “alucinações”. A coisa que sempre está faminta.

'Famintos por carne e ossos. ’

Seus olhos embranquecem por leve instante. Max a olha da mesma forma que outrora fazia com o quadro.

Ela fala sem desviar o olhar da pintura:

- De quem é esse quadro?

- Está registrado como artista desconhecido. E veja isso - Ele aponta para a placa abaixo do quadro onde há um pequeno texto - Ele também escreveu algo. Escreveu atrás da pintura. Ao lado há uma fotografia.

Alenora se aproxima um pouco mais. Abaixa-se deixando seu rosto na altura do texto. Em seguida olha para a foto com o texto escrito pelo autor atrás da tela como Max lhe disse.

- Bela caligrafia - Diz ela de forma analítica - Era alguém estudioso, dedicado… E solitário. De quando foi?

- Não tão velho como aparenta, de algumas décadas atrás.

Alenora olha para a placa de identificação. Nela está escrito O Ingurgitador, acima de Artista Desconhecido.

Passos quebram o silêncio. Ambos olham para trás, para Charlotte que caminha até eles:

- Muito bem, eu preciso ir. E infelizmente não poderei levá-la comigo, querida. Max seja bonzinho e a leve até o Refúgio dos Pássaros. Assim que puder entrarei em contato.

Ela dá um abraço rápido nele e um beijo na face de Alenora. Segura seu queixo e diz:

- Paciência, mocinha. Paciência, não se esqueça disso. Sei que está com um turbilhão de perguntas em sua cabeça, mas não é o momento adequado para conseguir as respostas, mas sei quem poderá lhe fornecer tudo que está buscando.

- O avô Branco?

- Não, querida. Você irá se encontrar com a esposa dele. Com sua avó.

A HORA ZEROOnde histórias criam vida. Descubra agora