VIII - A Noite Mais Escura (1)

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"Jamais foram crimes hediondos ou terríveis pecados, foram apenas imperfeições. "



Um carro estaciona do outro lado da rua de um edifício de aparência antiga, de tijolos avermelhados, com uma fachada com estátuas de gárgulas e uma torre na parte central. A chuva forte abafa os outros sons da noite como um manto ocultando tudo que habita afora. Carmen e Johnny estão parados observando a entrada do prédio. Ela demonstra estar concentrada nesse ato de vigília quando Johnny, que se mantinha igualmente, bate no volante se virando para sua parceira:

– Certo, vamos recapitular. Sua ideia é invadir o apartamento do B e “cavar” na esperança de encontrar algo. Mesmo já ciente, diga-se de passagem, por mim, que é um ato considerado criminoso e que com toda a certeza o lugar deve ser vigiado.

– Em um resumo simples é exatamente isso.

– Ok… Ok. Pensar em fazer isso faz até sentido levando em conta que é a morada do B, mas… – Ele começa a abrir um dos seus bolsos do casaco. – Não gosto de fazer isso sem a certeza de que há algo a ser encontrado. O resultado é que faz validar o risco e o risco aqui é alto.

Carmen observa atenta o que ele retira do bolso, que é uma caixinha de metal negro cheia de caracteres que não tinha visto antes. Ao abrir a tampa ela ouve pequenos estalos e da caixa vê três insetos robô. Johnny pega um deles e o coloca na palma de sua mão:

– Porém existem outras formas menos arriscadas que uma invasão direta que levaria a um alarde desnecessário.

– Entendo o porquê de toda essa cautela, mas confesso que preferiria fazer do meu jeito.

– Seu jeito consiste em chutar a porta colocando-a abaixo. Eu não faria isso nem se não houvesse vigilância, além do mais é a casa do Branco, já sinto um incômodo só de estar aqui. É como se estivesse fazendo algo errado.

– Sei… O discurso é belo, mas não condiz com a ansiedade que farejo em você, parceiro. – Ela fala sorrindo.

– Convenhamos que a ideia do quê possa haver lá de informações é o suficiente para me causar tal reação, apesar de todo meu respeito com nosso querido mestre. Mas reafirmo que ainda sinto desconforto. – Ele fecha a palma da mão que contém o inseto de metal.

Carmen olha de forma curiosa para o que ele faz, mas tenta disfarçar ainda conversando:

– E quanto a localização de um dos Campos Verdejantes aqui no Estado, conseguiu algo?

– Apesar de ter me dado uma boa limitação para procurar ainda não foi possível de imediato, mas acredito que antes de terminarmos aqui terei no mínimo um perímetro mais favorável e otimista.

Surge o som de um leve zumbido vindo de sua mão, Carmen sente um distante odor metálico, mas esquece desses detalhes ao se admirar a beleza do inseto voando e pairando entre os dois. Ela ergue a sua mão esquerda e fica com o dedo indicador elevado como se pretendesse tocar nele. O inseto pousa em seu dedo a fitando com seu aglomerado de olhos verde brilhante enquanto emite sons que lembram assobios. Johnny percebe o encanto de sua parceira pelo pequeno imitador a sua frente:

– Eu a chamo de Dorothy. As outras são Dallas e Derik. São minhas mosquinhas xereteiras.

– Você quem as fez?

– Oh, não. Quem me dera. Minhas capacidades na engenharia são limitadas a aparelhos eletrônicos como aqueles que presenciara no caso de meu xará, o senhor Black. Essa coisinha aqui, como suas irmãs, é tão complexa que chega a parecer que realmente está viva.

Ele assobia para Dorothy e ela o responde o imitando. Carmen sorri enquanto a olha de forma intrigada:

– Quem então?

– Não sei se já ouviu sobre ele, de um homem chamado Juarez.

Juarez. O nome ecoa de uma das memórias de Carmen, vindo dos lábios ensanguentados de seu amigo Branco após o ataque feroz sofrido no último caso que trabalhou com ele. A noite que viu pela primeira vez um Andarilho da Noite.

Johnny nada diz diante do silêncio de sua parceira, em seguida assobia chamando por Dorothy que o atende e sai voando pela janela enfrentando facilmente a forte chuva até chegar ao seu destino, até o apartamento do senhor Branco.



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