III - O Rei Impiedoso (3)

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A primeira impressão que passa do apartamento do senhor Branco é que parece ser de alguém que nunca está ou que acabou de se mudar devido a presença de poucos móveis (antigos por sinal). Os vãos são espaçosos para serem mobiliados com objetos e peças grandes, dá até para por um piano de cauda ou mesa de bilhar que ainda permaneceria espaçoso, mas pelo contrário havia pouquíssimas coisas. Na sala principal há somente uma mesa antiga de madeira clara, como todos os outros móveis pelo recinto, com uma máquina de escrever ao lado de um computador moderno claramente muito caro. Uma cadeira de aparência colonial e bastante confortável, um tapete que parece ser oriental e uma estante de madeira da década de vinte (muito bem conservada). A cozinha tem uma geladeira antiga vermelha, que causa impacto pela cor diante dos outros móveis, um fogão de quatro bocas que parece ter sido restaurado e um aparelho de micro-ondas. Com exceção do computador esses objetos são os únicos que parecem ser de dias atuais. Seu quarto contém sua cama, um criado mudo e um guarda roupas, todos de aspecto colonial. O seu banheiro não há mais que uma toalha de rosto e de banho (ambas brancas), escova e pasta de dentes, fio dental e um rolo de papel higiênico recém-trocado. Já o banheiro da sala está vazio. Os outros quartos não possuem móveis, mas como todo o resto do apartamento, estão impecavelmente limpos. O que há em quantidade espalhados por todas as paredes, até nos banheiros, são quadros pintados a mão que vão de antigos a modernos. Em alguns quartos têm tantos que chegam a ocultar a visão das paredes, há até quadros no chão encostados e alguns estão empilhados uns sobre os outros. Mas existe algo que chama a atenção acima de toda essa excentricidade, uma porta sem maçaneta, sem tranca, com um jogo de quebra-cabeças no centro dela. Uma jovem move com rapidez as peças no intuito de conseguir montar a imagem que elas criam. Ela move e move sem parar, nem por um instante, e depois de inúmeros movimentos finalmente a imagem surge, a imagem pintada de uma raposa das neves. Ela se afasta aguardando que algo aconteça, então percebe que a peça onde ficam os olhos da raposa está mais a frente que as outras. Sua mão vai até os olhos da raposa e com o indicador empurra igualando todas as peças causando um forte som de estalo seguido de um barulho mecânico que faz a porta abrir para o lado direito revelando outra porta, com um desenho de uma raposa vermelha, que abre para o lado esquerdo. Automaticamente em seu interior as luzes acendem. Ela fica parada hesitando em entrar, sentindo seu coração batendo em seu peito, a respiração intensa e os olhos fixos na entrada que conseguiu abrir com uma brincadeira que seu pai lhe ensinou. Ela fecha os olhos por um instante, respira fundo, abre os olhos novamente e dá o primeiro passo para a luz.



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