VII - Aquelas Velhas Canções (11)

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Juarez permanece calado sentado na mesma poltrona que fica virada para a janela. Permanece imóvel fitando a fazenda  enquanto Branco e Bella Anna conversam sentados no sofá.

– E então, senhor metido a misterioso, decidiu finalmente aceitar o convite de nosso patrono. Tenho que reconhecer que estou surpresa, nunca imaginei que o veria saindo de campo, na verdade ainda não consigo te ver como um homem que não empunhará novamente aquela sua pistola antiquada de três canos.

– Na realidade eu já não a uso há uns bons anos.

– Sério? Estava em ação desarmado? Oh céus, Branco, não somos da classe dos Bestiais. – Seu tom de voz aumenta direcionando seu rosto um pouco para trás, na direção de Juarez. – Somos todos de um nível superior, da família dos Mentais, não é mesmo, querido Juarez?

Ele se limita somente a olhar para ela sem nada a dizer.

– Perdoe meu amigo, Anna. Ele não se encontra devidamente bem aqui, nessas terras. – Diz Branco.

– Deduzo que seja devido às circunstâncias. – E volta a falar alto novamente. – Mas fique tranquilo, Juarez, agora será diferente, não há necessidade de tal desconforto.

Branco se levanta, olha para seu amigo e vai para trás do sofá ficando entre os dois:

– Poderia me responder a uma dúvida, Anna?

– Se for de meu conhecimento. – Responde sorrindo maliciosamente.

– Creio que seja especificamente de seu alcance.

– Prossiga então. – Ela muda de posição, a fim de ficar virada para Branco.

– Como teve a capacidade de torturar seus ex-colegas e até parceiros quando fez parte dos Subjugadores?

Anna leva a mão direita a sua boca e solta uma (falsa e nítida) risada curta:

– Céus, mas você continua sendo o mesmo, não? A raposa puritana das neves onde o mundo é sempre preto ou branco. – Fala na defensiva.

– Perdão?

– Ora, Branco. Realmente crer que todos nós, me refiro aos demais como eu, como o Juarez. – Aponta para ele. – Ou como o Roman, somos indispensáveis como você?  Como o Blade era? Como o pai de Carmenita, o grandioso Leão de Roma? – Ela se levanta e caminha devagar e de forma elegante na direção dele. – Não, meu velho amigo, pode ter certeza que não, a maioria de nós são descartáveis, então quando há uma pequena janela para nos mantermos no jogo, esse sórdido e deplorável jogo, nós passamos por ela sem nem olhar para trás.

– Então essa é sua resposta para os pecados que cometeu? Apenas seguindo ordens, sem culpa, sem consequência, sem misericórdia. Tudo para se manter no jogo?

– Não me venha com essa sobre o livro do certo e errado. – Sua voz soa séria e há uma notória mágoa no fundo de suas palavras. – Não se trata somente de permanecer no jogo, é uma questão de sobreviver, Branco. Não há um depois para pessoas como nós, ou somos necessários ou não servimos para mais nada. – Ela se aproxima dele e coloca seu dedo indicador em seu queixo. – Não existe aposentadoria para nossa gente, Branco. O fim do nosso trabalho é o final de nossa estrada e a maioria de nós não possui uma estrada longa como a sua.

Juarez se ergue, os encara e permanece imóvel, em silêncio, juntamente como eles que também o encaram. Ele se direciona até os dois e fala baixo, quase sussurrando:

- Estamos em perigo.


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