A HORA ZERO

I - Entre as Sombras e Neblinas (final)

Épilogo:

A chuva começa a cair, mas Johnny havia se escondido nos arbustos muito antes dos primeiros pingos. Enquanto permanecia deitado ele fica assistindo os dois estranhos entrando pelo portão, passando por ele e chegando até a porta da casa. Em outros tempos teria saído correndo e latindo ferozmente contra os invasores para proteger seu território, mas aqui não é território dele, aqui todos são invasores. Ele também aprendeu que há certos estranhos que devem ser temidos, então ele espreita de seu canto seguro, longe do perigo.

O cheiro ruim retorna intenso como antes, o cheiro caminha em direção aos estranhos e Johnny se encolhe ao ouvir o terrível barulho vindo da casa se misturar com o som forte da chuva. Tudo cheira a podridão, morte e medo. Seguindo seus instintos Johnny corre para fora dos arbustos, passa por um espaço que ficou no portão da frente, indo em direção para debaixo do carro dos estranhos.

Assim permanece por um longo período se mantendo distante do risco. E quase pareceu que era uma noite chuvosa comum quando veio à serenidade depois que os sons terríveis terminaram. Mas após um tempo, ao distante, ele ouve os passos dos estranhos saindo da casa. Tinha algo de diferente, havia cheiro de sangue e a coisa parecia cada vez mais longe.

Um novo som forte surge vindo do céu, algo que faz as folhas das árvores e os arbustos tremerem. São outros estranhos que surgem do nada e da mesma forma como vieram partem levando junto o cheiro de sangue com eles.

O som vai embora, as folhas se acalmam e um deles ficou para trás. Ele não precisa ver que está triste, consegue sentir de onde está. Depois de um tempo o estranho se aproxima, abre a porta do carro e antes de entrar volta passando pelo portão e parando logo em seguida. Johnny o vê pegando algo no caminho de pedras que lhe parece com uma mão. Ele aproveita e entra no carro pela porta que fica aberta e vai para a parte de trás como já fizera várias vezes antes, quando sua família o levava junto, e deita ficando quieto no estofado. Logo ouve o estranho entrar fechando a porta, escuta o ronco do motor surgir e sente que está indo embora daquele lugar que tanto lhe causou temor.

Ao longínquo, no quintal da residência da família Darwin, se pode ver um amontoado de terra cobrindo um enorme espaço no solo. Abaixo dele estão restos de ossos de cinco crânios. Dois de adultos e três de crianças. Essa foi à única coisa que Johnny pôde fazer para sua família, um funeral no lugar que um dia pensaram ser seu lar.

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