A HORA ZERO

II - Meu Nome é Johnny (1)

"Há dias que vejo a beleza das árvores balançando ao vento,
Há dias que somente escuto a triste canção que o vento traz."

O celular tocou nove vezes e ela se quer olhou quem telefonou. Devido às cortinas pesadas não sabe dizer se ainda é dia ou noite, mas isso não lhe interessa agora.

Carmen está sentada no chão de seu quarto, vestindo uma camiseta cinza e shorts laranja. Seu corpo está quase na posição de lótus, mas seus braços estão soltos, largados com as mãos tocando o assoalho. Com a cabeça baixa seu olhar paira sobre uma luva de couro marrom do senhor Branco que se encontra a sua frente. Mais adiante, no canto da parede estão uma tigela com ração para cachorro e outra com água. Johnny a fita deitado debaixo da cama dela e ambos continuam em zeloso silêncio como se estivessem velando seus mortos. O aparelho toca mais uma vez, Carmen ergue a cabeça soltando um som de irritação, fica de pé e vai até a janela. Abre parte da cortina e vê que está começando a amanhecer, em seguida desvia o olhar para o cachorro e lembra que ao contrário dela ele não sabe usar o banheiro. Vai até outro quarto, retorna vestida com um casaco vermelho desbotado até os joelhos, calçando tênis de corrida e com uma coleira presa em uma corrente na mão. Johnny levanta a cabeça movendo as orelhas ao mesmo tempo.

Carmen permite ser guiada pelo caminho que o animal quer ir sem se importar para onde a vai levar e com as pessoas que passam por eles. E somente quando Johnny se aquieta é que ela percebe que está no parque, não muito longe de seu apartamento, um lugar que nunca havia vindo conhecer. Ao estar pela primeira vez, sentindo o aroma das folhas, da grama, da terra e vendo os outros cães com seus donos, correndo, brincando, ou simplesmente deitados enquanto as pessoas conversam, leem ou sem fazerem nada, apenas sentados nos bancos ou no gramado, fez com que sentisse certa paz diante disso. Quando Johnny se deita na grama, Carmen tira os tênis, se senta ao seu lado e olhando a sua volta tenta sentir uma vida normal onde ela é somente uma universitária de história antiga passeando com seu labrador. E isso a faz sorrir.

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