IX - Todos os Nossos Pecados (2)

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1978

Um carro branco de faróis vermelhos anda devagar em uma rua de paralelepípedos. O silêncio noturno faz parecer que não há mais ninguém além daqueles que se encontram dentro do veículo perolado. O motorista ajeita seus óculos rubros enquanto observa a quietude do mundo lá fora, admira os tons azulados pinceladas pela luz da lua. Ao seu lado um homem de ar sério, vestido um sobretudo cinza que encobre um colete metálico de aparência incomum, se mantém atento para cada esquina que se aproxima, enquanto no carona está outro homem prendendo seus cabelos compridos em um rabo de cavalo desleixado, suas roupas se diferem dos dois primeiros, não usa nada sofisticado, são vestes bastante casuais. Ele coça sua barba tão negra quanto seus longos cabelos enquanto se inclina para frente sorrindo:

- Muito bem, cavalheiros. Cá estamos ignorando as normas “santas" da Central.

- Você parece muito a vontade com isso Gohard - Fala o de sobretudo.

- Não venha com essa Blade, está tão entusiasmado quanto eu e o Branco aqui.

- Ah. Com toda certeza nosso amigo B está. Aposto minha armadura que ele nem dormiu ainda só de antecipação.

- E quem precisa dormir aqui? - Diz Branco.

Os três começam a gargalhar como se fossem jovens saindo para se divertir a noite, sem culpa, sem remorsos, apenas a emoção.

O carro para, os faróis se apagam. Branco olha para Blade:

- É aqui. Você tem certeza que quer ir conosco? Se estivermos certos talvez não haja mais volta para sermos agentes.

Gohard coloca a mão no ombro de Blade:

- É agora, meu velho amigo. A decisão sobre atravessar a porta que te falei.

- Nunca voltei atrás em uma decisão minha Gohard. Hoje não será diferente.

Branco é o primeiro a sair do carro, seguido de Gohard e Blade. Os três olham para o outro lado da rua onde se encontra uma velha catedral de aparência abandonada. Branco retira seus óculos revelando seus olhos pálidos, em seguida descalça suas mãos e guarda as luvas de couro nos bolsos de seu paletó negro. Gohard fecha os botões de seu casaco xadrez e cobre sua cabeça com um capuz enquanto Blade faz o oposto e abre seu casaco revelando uma armadura por baixo da mesma. Eles se entreolham e começam a caminhar até a inóspita edificação, seus passos soam altos, ecoam na penumbra revelando suas presenças. Ao chegarem na entrada param e olham o grande portão enferrujado da época vitoriana, Branco se direciona para a fechadura, mas Gohard toma a frente e com as mãos nuas abre o portal quebrando a tranca, logo depois fica ao lado da entrada e faz uma referência aos outros:

- Depois de vocês, mocinhas.

Blade assume a frente, Branco sorri e segue pelo caminho. Gohard olha para a rua, encara uma esquina mal iluminada, seu semblante de um homem sorridente transmuta para a seriedade do guerreiro que habita nele. Seus olhos se tornam amarelos como de um felino, seus músculos se contraem, a lua é encoberta por passageiras nuvens, ele se vira e vai de encontro aos seus companheiros que o aguardam.

De longe são observados por sombras que se movem entre as velhas casas.

...

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