Branco para e fica de frente a Juarez:
– Se o que você está falando de fato for verdade sabe que o que pode estar por vir vai além de nossas capacidades?
– Sim. Essa conclusão me parece óbvia antes mesmo de chegar a tal verdade.
– Se chegar.
– Não diria se, e sim quando.
Os dois retornam a caminhar. Juarez aponta para uma equina no outro lado da rua. Ambos seguem sem pressa. Aguardam o sinal abrir passagem para os pedestres, e ao acontecer, atravessam devagar. Juarez olha para Branco enquanto caminham:
– Na próxima esquina entramos. No final veremos uma placa amarela com um convidativo "bem-vindo" em letras escuras e grandes.
– Certo. Espero não causarmos nenhum infortúnio ao seu amigo.
– Não somos amigos. E não se preocupe, não causaremos qualquer problema a ele. Afinal é um de nós.
– O quê?
– Desculpe. Eu não mencionei antes?
– Sério que está me perguntando isso?
– Devo ter deixado passar por não considerar relevante. Enfim... Chegamos.
Os dois param diante de uma grande placa amarela presa, de uma ponta a outra, nas paredes dos prédios que formam o beco.
Branco sente um leve sabor metálico, quase imperceptível, mas ainda o que reconhece. Ele põe a mão no ombro de Juarez que o olha com ar de indagação:
– Sim?
– Esse seu fornecedor? O que ele fazia antes?
– Serviu o exercito. Hoje está reformando.
– Deus. Como a vida pode fazer o mundo parecer tão pequeno quanto...
O som de destroços se erguendo do solo interrompe o monólogo de Branco. Os dois se posicionam ao mesmo tempo que aguardam um ataque. Hastes de alumínio e vigas de ferro flutuam em torno deles como lanças de forma que os impedem de avançar ou fugir. Uma voz do alto ecoa. Seus olhos se voltam para cima visualizando um homem de vestes simples, em tons cinzentos, mas em pé de forma elegante, demonstrando grandeza, em cima da grande placa amarela. Seus cabelos brancos estão um tanto longos e caem em seus olhos, sua barba grisalha e cheia esconde ainda mais suas feições:
– A vida não tem nada com isso, meu caro senhor. – Sua mão faz um movimento sutil, um estalo alto surge abaixo dos dois acompanhado de barulho de engrenagens em ação. Em seguida em torno deles aparecem grades da terra formando uma gaiola. – É o destino que com seu incômodo senso de humor tende a cruzar em meu caminho aqueles que deveriam permanecer no passado.
Mais um gesto e surge novamente o barulho de engrenagens. A grande placa começa a descer e das paredes saem placas de metais que se encontram formando uma escadaria. Ele caminha devagar sem tirar os olhos de seus visitantes inesperados:
– Juarez. Já não avisei que antes de vir é preciso entrar em contato primeiro?
– Desculpe. A situação presente não me permitiu seguir o seu protocolo. – Ele olha em volta da gaiola. – Eu havia deduzido que seus talentos haviam reduzido drasticamente, mas pelo visto estava equivocado.
– Não. Está certo. De fato hoje pode se afirmar que estou decaído. Se lhe causei espanto com esse pequeno ato não acreditaria se testemunhasse minhas ações em minha era de ouro e glórias. – Seu rosto se desvia para Branco. – Não é mesmo, meu velho amigo?
Branco o encara sério. Em seguida revela um sorriso jovial e diz:
– Como vai, Salvatore?
...
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A HORA ZERO
Ciencia FicciónNa sociedade há mais do que nossa mente queira acreditar. Existem camadas por trás de outras camadas ocultas, complexas e terríveis. Nesse lado do mundo a agente Carmem, seu instrutor Branco e seu novo parceiro Johnny lutam constantemente com forças...