VIII - A Noite Mais Escura (3)

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Alenora observa o mar pela janela da antiga casa da praia. Demorou para reconhecer onde estava após despertar e se deparar com Charlotte, a protetora do quarto secreto de seu avô. Suas melhores lembranças são daqui, dos tempos em que seus pais ainda eram casados, quando seu avô Lincoln costumava passar os fins de semana durante os verões e lhe falava de suas viagens em países com nomes engraçados.

‘Tempos que não voltam mais’. Ela pensou.

Charlotte permanece sentada observando-a naquele instante de serenidade, vendo aquela jovem que viu tantas vezes antes quando era apenas uma menina cheia de curiosidades e muitas perguntas. Aos seus pés está imóvel a grande tartaruga Robson Crusoé que parece estar ignorando as duas.

A sala demonstra uma atmosfera familiar, o que impressionou Charlotte, levando em conta pertencer a um homem que ela havia aprendido, de maneira árdua, a temer. Lincoln Mãos de Ferro, ou Lincoln o Terrível, como foi mais conhecido devido a sua forma severa com seus inimigos e por ser um dos poucos que havia sobrevivido ao extermínio ocorrido na Europa de pessoas com capacidades como as dele. Após caçar e assassinar inúmeros responsáveis pelos atos criminosos, Lincoln emigrou para as Américas e se estabeleceu como um dos maiores agentes que o Escritório já teve na sua época. Após anos em campo deu início a cargos mais elevados na Central, o lugar que desenvolveu seu maior trabalho na área de inteligência e estudos sobre a evolução do DNA.
Sua fama havia se estabelecido grandiosamente até o surgimento do misterioso, e por muitos considerado excêntrico, senhor Branco, um homem com habilidades duvidosas, de difícil compreensão, vista por seus colegas como rara tanto quanto perigosa, o que gerou muita desconfiança entre vários agentes.

Os dois se tornaram rivais por anos, mesmo depois do casamento de seus filhos, mas com o nascimento de Alenora veio um bem maior para ambos, a segurança da única neta deles.

Charlotte se levanta e caminha silenciomente até Alenora, uma peculiaridade que a jovem recordou sobre isso em suas visitas durante sua infância, que ela nunca fazia barulho e sempre lhe pareceu que vivia sem pressa.

Ao se aproximar ela fica parada ao lado de Alenora, ambas nada dizem por alguns minutos até a jovem se pronunciar:

- Meu avô Branco, você tem contato com ele diretamente?

- As vezes sim, outras não.

- E agora é sim ou não?

- Agora estou no aguardo.

Alenora morde os lábios e fica novamente muda, Charlotte permanece respeitando a atitude da jovem enquanto ambas fitam o mar pela janela.

Um trovão brande estremecendo as vidraçarias das janelas, um risco se forma entre as nuvens cinza chumbo formando um enorme clarão.

- Está vindo uma linda tempestade - Diz Charlotte.

- Meu pai me contava que o avô Branco sempre falava que fenômenos da natureza, por mais leves que fossem, eram mensagens de Deus.

- É bem a cara dele dizer algo assim - Fala com um sorrindo de banda enquanto coloca seu chapéu.

- O quê será que essa tempestade significa para ele?

- Difícil de responder isso, menina. As respostas e visões de seu avô dificilmente são óbvias. Mas pelo pouco que aprendi com ele eu me atreveria lhe dizer, mas faço isso sem devida certeza, que essa tempestade anuncia exatamente o que ela demonstra ser.

- Que seria?

- Desolação.

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