Segredos questionados

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Mal consegui dormir direito aquela noite depois do aniversário de Daniel, a discussão com Maurice não me deixou nada confortável, a impressão que eu tive é de que eu era a culpada do pai de Daniel não ter conhecido o filho, faltavam uma hora para amanhecer o dia, saí da cama sem fazer barulho, Louis dormia virado de costas para mim, calcei a sapatilha de dormir e fui para a sala.

A neve caía insistente lá for, tudo estava branco e o céu cinza, me sentei perto da janela e fiquei olhando para o tempo, lá fora.

Senti a presença de alguém e olhei, Maurice sorriu sem jeito, roupão listrado e os cabelos bagunçados.

- Sua irmã me expulsou da cama... - Disse ele se sentando na poltrona.

- O que fez de ruim para ser expulso as 5 horas da manhã?

- Aquela barriga imensa. - Ele brincou com a própria barriga, tive que rir.  - Me desculpa... Eu não devia ter te questionado daquele jeito.

- Tudo bem! - Sorri amável. 

- Você tem rasão... Chris tem a família dele, você a sua...

- Não pense que me sinto indiferente com isso, Maurice. - Dei de ombros. - Mas eu não o conheço e não sei como vai reagir se eu chegar e contar... - Dei de ombros. - EU não quero estragar a vida dele... Mas eu sei que devo contar, isso uma hora vai acontecer.

- Só que agora você não quer?

- Não quero! - Fui honesta com ele. - Não estou certa disso.

- Muito bem! - Ele sorriu. - O que acha de um café quente?

- Perfeito. - Sorri.

Seguimos para a cozinha, enquanto preparava o café, conversava com Maurice e descobria coisas sobre o pai de Daniel, e quanto mais ele contava, mais eu achava estranho ter me envolvido com Christian Garrel, ainda mais sendo filho de Julis. Eu deveria ser muito louca para concordar com isso e manter segredo.

Aos pouco a família foi acordando e se juntando a nós na cozinha, nessas alturas, eu e Maurice já falávamos de outras coisas, como o bebê e a casa maior que iriam viver na Inglaterra, isso era bom, Maurice agora estava ganhando muito bem e minha irmã poderia viver como ela gostava.

Dois dias depois, cada um tomou seu voos para seus destinos, e sentada na minha poltrona esperando para que o avião saia do lugar, pensei em minha mãe que não apareceu no aniversário do neto, e todas as vezes que vinha para a cidade, ela não nos procurava, olhei para Louis que brincava com Daniel.

- O que minha mãe disse para você?

- Hã? - Ele me olhou franzindo o cenho. - Sua mãe?

- Sim! - O encarei.

- Disse que estava com dores nas pernas, cansada. - Louis deu de ombros e voltou a brincar com Daniel que ria com ele.

Me ajeitei na poltrona e o encarei, não iria dar o assunto por encerrado.

- Me conte a verdade. - Pedi.

- Estou dizendo a verdade... - Ele me olhou rapidamente.

Louis tinha corado rapidamente e voltou a brincar com Daniel, tomei o urso de sua mão e dei para Daniel.

Cansada de segredos, você não me contou que o tal Chris veio me visitar enquanto estava doente, como meu pais também não me conta o motivo da separação, muito menos Juliete que sempre foi agarrada com a mamãe e agora mal vai vê-la.

Louis torceu a boca soltando o ar pelas narinas, descansou a cabeça na poltrona me olhando sério.

- Sua mãe praticamente te humilhou quando sei pai teve o infarto, falou coisas horríveis que te deixaram tão fora do cão, que acabou provocando o acidente, durante sua estadia no hospital e recuperação, ela não foi te ver uma unica vez... - Louis olhou para Daniel. - Já Chris... Eu me sentia inseguro o suficiente para não deixar que ele ficasse muito perto de você.

- E Você não contou de Daniel para ele. - Afirmei.

- Não... Porque ele não merece o amor do Daniel... - Louis me encarou. - Eu sou o pai dele e não abro mão disso... Uma porque ele saiu da casa dele para vir até aqui, bater em você e pedir que ficasse bem longe dele... Esse cara não te amou... Se amasse, não teria feito o que fez, esperaria pela sua chegada e aí sim, conversaria com você.

- Louis... Daniel nunca vai deixar de ser seu filho, mas não podemos esconder isso por muito tempo. - Segurei sua mão nervosa que acariciava as costas de Daniel. - Ele vai saber de alguma forma, ou pela mãe dele ou por Maurice que pode soltar a qualquer momento.

- Eu já pensei nisso. - Louis sorriu triste. - Eu preferia que ele nunca soubesse.

Sorri para ele, Louis nos amava tanto que o medo de perder era grande, mas não podia mais guardar esse segredo para nós, Chris precisava saber de que tem um filho. Voltei a olhar para fora da janelinha, as asas da aeronave recebiam jato de produto químico para ser descongelada. Voltei a pensar no que fazer, daria mais um tempo, já que esse homem acabou de ter uma filha, isso seria maldade em tirar seu foco da filha tão pequena, mas estava decidido, assim que desse, iria procurar por ele e contar.

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