Anny narrando...
- Porra índia quanto tempo ( falou se afastando de mim para poder me olhar dos pés a cabeça)
- O que foi menino ( perguntei sem jeito)
- Eu não lembrava que você era tão bonita não ( arrumou uma coisa nas costas que só agora percebi ser uma arma grande igual a do menino da entrada, não sei qual foi minha cara só sei que chamou a atenção dele) calma eu não vou fazer nada com você não ( tentei me controlar)
- Eu sei disso ( olhei para o chão, lembrando de tudo que minha mãe tentou afastar de mim, e agora vejo um dos meus únicos amigos aqui de dentro no meio de tudo, ele segurou meu rosto me fazendo olhar pra ele)
- Você tá chorando porque (perguntou preocupado e eu neguei)
- Não é nada importante, ou é mais agora não vem ao caso, Júnior você pode me levar a casa dos meus pais ( ele sorriu torto)
- É patricinha agora é, não sabe nem onde morava ( tirou onda e eu dei um tapa no seu braço)
- Nove anos sem vim aqui e está tudo muito mudado, você queria que?
- Tô vendo o quanto tá mudada ( sorriu pra mim, segurou minha mão me levando até o outro lado do beco parando enfrente a uma moto)- Bora sobre aí que eu te solto lá ( só concordei, ele subiu colocando a arma pra sua frente e eu fui logo atrás, quando eu saí daqui ele era uma criança como eu mas agora ele pilota moto, sorri internamente com os meus pensamentos)
Fomos passando por algumas vielas que mal cabia a moto fiquei até assustada, nas minhas lembranças era tudo mais perto e fácil de encontrar mas depois desse percurso meio longo percebi que estava completamente enganada.
Paramos a frente da farmácia que para a minha surpresa continuava aberta, desci da moto tirando o capacete e entregando ao Júnior que olhava pra mim sorrindo.
- Pronto a patricinha tá entregue ( falou zombando de mim)
- Não estou vendo graca júnior, eu não sou nenhuma patricinha ( falei colocando a mão na cintura)
- Sei, foi morar no asfalto e não voltou nem pra visitar os velhos amigos, e quando volta fica toda perdida sem saber por onde ir, olha que antes você corria por tudo isso de olhos vendados e não se perdia ( falou com uma pintada de tristeza nas palavras) agora tá aí parecendo essas patricinhas que andam montada na grife, você não era assim ( sorriu)
- Júnior você não tem noção do como é minha vida pra ficar me chamando de patricinha (falei meio grossa)
- Tenho mesmo não (ligou a moto) deixa eu ir preciso fazer a ronda ainda (ele ia saindo quando segurei seu braço)
- Desculpa, não queria ser grossa só não quero que pense que sou dessas pessoas que só porque moram lá embaixo se acham melhores que as outras, e é como te falei você não tem noção do inferno que é minha vida, mas quero muito contar pra você depois pode ser (ele abriu um sorriso)
- Me desculpa você, eu que já fui metendo o louco pra cima de você, mas deixa isso prá lá podemos marcar qualquer dia desses pra sair e conversar (confirmei e dei um abraço nele o pegando de surpresa)
- Fiquei muito feliz em ver você outra vez não quero mais perder o contato certo ( ele só confirmou trocamos número de telefone, quando ele olhou pra o lado vendo um homem claro com uma arma mas costas, ele nem falou mais nada simplesmente saiu me deixando ali falando sozinha não entendi foi nada)
Olhei pra dentro e lá estava a pessoa que eu tanto necessitava do abraço, ela é o meu porto seguro, entrei chamando a atenção de alguns clientes e na hora minha mãe virou e então me viu, olhou pra mim espantada afinal são nove anos sem vim aqui.
- Anny (ela saiu da parte de trás do balcão vindo ao meu encontro, naquele momento tudo que eu tinha esquecido e o verdadeiro motivo de vim parar aqui veio a superfície outra vez e eu me joguei em seus braços em meio as lágrimas)
- Mãe eu estava com tanta saudade da senhora (me aconcheguei mais em seus braços, ele segurou meu rosto me fazendo olhar pra ela e ver o quanto estava preocupada)
- Minha filha o que aconteceu, alguém fez alguma coisa com você, na verdade o que você está fazendo aqui Anny o que a gente conversou sobre isso (em minutos meu pai também estava doeu lado)
- Filha que loucura foi essa, porque não nos ligou.
- Eu só queria ver vocês, eu queria vim pra casa (respondi por fim)
- Isso não foi uma boa ideia, olha o seu estado só pode ter sido alguém que te fez isso, foram os meninos da entrada eles mexeram com você ( ela falava sem me dá oportunidade de responder)
- Não mãe ninguém daqui de dentro mexeu comigo ( olhei meu pai se afastar para atender uma senhora que acabou de entrar) pelo contrário o Júnior me ajudou a chegar aqui encima eu fiquei perdida ele me trouxe de moto( ela levou a mão até a boca em sinal de espanto)
- Você encontrou o Júnior como assim, Anny você veio com ele ( confiei)
- Sim mãe eu vim com ele qual problema tem nisso, ele sempre foi meu amigo.
- Anny ele é envolvido com coisas erradas, ele não é mais o mesmo, voce não tem juízo de subir na moto de um desconhecido ele poderia fazer algo com você minha filha (eu não entendia o motivo pra esse desespero dela)
- Ele não é nenhum desconhecido ele é meu amigo e eu sei que ele não faria nada comigo, crescemos juntos aqui correndo por essas ruas, subindo edescendo esse morro.
- Anny deixa eu te explicar, você não pertence mais a esse mundo e não sabe o que tem dentro dele, não é qualquer um que chamamos de amigo muito menos esses meninos que trabalham pra o fantasma, o Júnior não é mais aquele que vivia com você por aí não, ele agora mata a sangue frio e gosta disso ( não sabia que minha mãe estava assim tão preconceituosa com as pessoas principalmente com um garoto que ela viu ainda criança)
- O que ele faz por aí não é da minha conta, mas saiba que o que me trouxe aqui foi o meu amigo Júnior e sei que ele não seria capaz de fazer nada contra uma pessoa que nunca fez nada contra ele ( falei por fim querendo dar aquela conversa por encerrada)- Certo minha filha isso não vem ao caso, eu só quero saber o motivo de você ter vindo até aqui mesmo sabendo que não gostamos disso (me abraçou e foi me levando pra dentro, achei melhor nem falar nada por agora)
Subimos pelas escadas da parte de dentro da farmácia, lembranças da minha infância invadiram minha mente me fazendo voltar a chorar, como eu fui afastada da minha casa pra não viver um certo tipo de vida e agora eu estou aqui por um motivo igual.
Minha mãe abriu a porta me dando passagem para entrar, eu olhava tudo aquela sala que muitas vezes ficávamos nós quatro assistindo algum filme agora estava com um novo visual, toda branca inclusive o sofá em L, as únicas cores que existiam ali era das almofadas que estavam encima dele umas amarelas e outras verde Tiffany.
Uma bela tv bem grande por sinal presa a um painel também branco, um raque logo baixo onde tinham fotos nossas, em vários passeios que eram nossa tradição de domingo.
Senti minha mãe me puxar e eu tirei o foco nos objetos pra levar até ela que agora me levava até o sofá, olhei em seu olhos e aí meu mundo caiu ali onde era o meu refúgio também era uma zona de perigo, eu não sei nem como começar a falar, na verdade não sei se tenho coragem de falar a verdade a ela, já que por mais de dois anos eu vivi um relacionamento do qual ela lutou para que eu não tivesse e que a um ano quando eu resolvi dá um basta luto contra ameaças e acusações sem lógicas.
- Anny meu amor você está me assustando, fala alguma coisa ( abaixei a cabeça com vergonha mas determinada a falar tudo que eu passei nas mãos de um homem que ela elogiou tanto falando que era aquele tipo de homem que ela sempre sonhou pra mim e que eu merecia)
Reuni toda a minha força e coragem para tirar a minha bolsa que estava em meu ombro, ela parecia pesar uns mil quilos, segurei a barra da minha blusa a levantando, na hora que minha mãe mão viu o conjunto de roxo amarelo e vermelho que estava em minha costela ela levou a mão até a boca a primeira lágrima desceu dos seus olhos.
- Meu amor o que foi isso, quem fez isso com você Anny.
- Foi ele mãe, o Murilo que fez isso comigo ontem , mas essa não foi a primeira vez.
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Acaso Parte l (Concluída)
RomansaEduardo Castelli,32 anos dono do Vidigal uma das maiores favelas do Rio de janeiro, preso por 5 anos injustamente acusado da morte do irmão mais velho, sem cumprir nem metade da pena ele consegue liberdade por falta de provas, ele da Ary franco jur...