- Eu já entendi que ele está bem, mas eu realmente gostaria de ver com os meus próprios olhos. – Digo tentando não perder o resto da paciência.
- Entendo, Rafa, mas por enquanto é melhor desta maneira. Vá para casa, aproveite o final de semana em família. Seu irmão está bem e sobre ótimos cuidados, ele precisa deste descanso. Vocês precisam. – Diz ela, em tom complacente.
- Eu só preciso de um minuto com o meu irmão, Dani. Só um minuto. – Suplico.
- Rafa, eu entendo, mesmo, mas não está em minhas mãos. – Ela diz, desta vez não sustentando o olhar nos meus.
Isso me causa uma pontada de incomodo.
- Como não? Você é a medica dele, é você quem diz se ele está apto a receber visitas ou não, como já cansou de informar. E por quer agora não está em suas mãos?
Ela continua a evitar olhar para mim, e o incomodo que sentir inicialmente começa a se transformar em alerta. Sinto que ela não está me contando tudo.
Assim que acordei, decidir vir ao hospital para ver como o meu irmão estava, e quem sabe poder conversar a sós com ele e poder lhe explicar realmente como as coisas haviam acontecido.
Mas assim que pisei meus pés aqui fui informada na recepção que a Dra. Dani me aguardava em sua sala. A principiou sentir medo de que algo tivesse acontecido com o meu irmão, mas logo fui tranquilizada por ela, que logo me colocou a pá de todos os exames e procedimentos realizados para assegurar que o meu irmão continuava bem e que o acontecido não o havia causado nenhum agrave em sua recuperação.
- Você mesma me disse que ele está bem, que nada sofreu, por que não posso vê-lo? Quando eu sair daqui você me disse que as visitas serias feitas sobre monitoração, o que eu entendo devido o que houve em nosso ultimo encontro. Mas porque agora está me dizendo que não posso vê-lo? Que não está em suas mãos?
- Rafaella... – Ela começa ainda evitando me olhar nos olhos. – Eu não sei como posso te explicar.
Ela começa a dobrar um pedaço de papel de forma nervosa, como se não estivesse tomando ciência de que o estava fazendo.
- Como não? Primeiro você me diz que o meu irmão está bem, depois diz que eu não posso vê-lo. Agora você me diz que não está em suas mãos e que não sabe como explicar? – Tento não elevar a voz, mesmo estando irritada. – Se você não sabe explicar, quem saberá?
- Eu nunca estive em uma situação como está. Eu sou a medica do seu irmão, e como tal irei sempre priorizar o bem-estar dele, assim como ponderar sobre os seus desejos. – Ela continua a dobrar o papel enquanto fala. - Preciso que você entenda que eu estou em uma situação delicada. Como disse, eu preciso pesar os desejos do meu paciente, e neste caso, preciso respeita-lo.
Ela finalmente levanta a cabeça e desvia os olhos do maldito papel em suas mãos e me encara.
- O Renato não quer recebe-la, seu irmão pediu para que suas visitas fossem proibidas. – Ela diz, em um quase sussurro.
Ou eu que parei de ouvir de forma nítida, não sei ao certo.
"O Renato não quer recebe-la"
A frase reverbera em minha cabeça.
Ele não quer me ver.
Sinto uma enorme bola de fogo se formando em minha garganta, a queimando sem piedade.
- Rafaella, você está bem? – A ouço, sua voz baixa, distante, quase um sussurro.
"Seu irmão pediu para que suas visitas fossem proibidas."
As frases se repetem, e repetem...
"O Renato não quer recebe-la"
Ele não quer me ver.
Ele me proibiu sem ao menos me ouvir.
- Rafa, você está me ouvindo?
Tento responde-la, mas a bola em minha garganta me impede de respirar devidamente, falar era algo ainda mais impossível.
"Você mentiu pra mim, você me fez de idiota todo esse tempo."
Sinto como se meu tórax estivesse se contraindo, comprimindo tudo o que ele deveria apenas proteger.
"Seu irmão pediu para que suas visitas fossem proibidas."
- Rafa! – Ouço Dany me chamar, mas sua voz continua distante.
Começo a hiperventilar.
Ela não está distante, esta do meu lado segurando a minha mão, mas não consigo sentir seu toque, nem escutar o que ela diz de forma nítida.
Continuo sendo bombardeada pelas frases. Frases ditas por ela, mas também as ditas pelo meu irmão em nosso ultimo encontro. Todas elas se misturando, se repetindo.
"Me deixa, pelo amor de Deus, eu não quero ouvir mais nada."
- Rafa, olhe para mim. – Ela tenta chamar minha atenção.
"Sai daqui."
Ele não quer mais me ver. Nunca mais irá querer me ver, penso em meio ao caos.
Meu coração bate tão forte no peito, e, por um momento, juro que ele soa como metal golpeando as minhas costelas. Isso me deixa ainda mais desesperada e não consigo mais recuperar o folego.
- Calma! – Dani fala. – Você precisa se respirar, apenas respire.
"Calma"? Ela só pode está brincando.
- Respire, Rafaella. – Ela diz.
"Para de me chamar de Rafaella, pare de mandar eu me acalmar" Sinto vontade de gritas essas palavras, mas elas não saem.
Ela continua a me pedir para respirar, como se eu não estivesse tendo o maior ataque de pânico de todos os tempos.
Ela se afasta, não sei dizer por quanto tempo, e logo volta a repetir suas frases estupidas, mas desta vez contem algo em suas mãos.
- Vamos lá, só respire. – Repete.
Ela coloca um pequeno frasco em frente ao meu rosto.
- Apenas respire... isso
Sinto as batidas ensurdecedora do meu coração começarem a perder forças.
- Muito bem, só continue a respirar.
- O que é... – Eu finalmente consigo começar a falar.
- É apenas algo para ajudar você a se acalmar. – Ela explica.
Seja lá o que contem no pequeno frasco realmente está me trazendo de volta ao controle das minhas emoções, eu começo a me sentir mais leve e tonta.
- Pronto, já passou. – Diz.
Ela segura a minha mão, e não sei se é por causa do produto que ela me deu para cheira ou por estar as frases pararem de se repetir em minha cabeça, mas volto a ser eu mesma. Volto a estabilizar a minha respiração, tomando novamente o controle.
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A vida da gente
FanfictionPoderia começar dizendo que este não é apenas mais um conto clichê, mas não pretendo começar com falsidades. Afinal, é verdade que este romance tem suas raízes no clichê, mas permita-me destacar que, mesmo sendo inevitavelmente familiar, ele reserva...