· Perspectiva de Rafa
Por mais que eu estivesse me sentindo apreensiva a contar tudo para o Tato, eu sabia que já havia passado da hora. Ainda me encontrava na sala da Dra. Dani, o nosso encontro tinha ganhado a presença do psicólogo que acompanhava o Tato momentos atras. Ele havia me explicado de qual seria a melhor forma para abordar o assunto com meu irmão, o que eu ouvir com toda e total atenção, assim que me instruiu ele se despediu deixando Dani e eu para trás.
Agora, estava somente ela e eu em sua sala.
Enquanto eu ouvia pela milésima vez a Dra. Dani me contar como estava sendo o avanço no quadro do Renato e de como a sua recuperação estava sendo espantosamente positiva e rápida, não consigo conter minha ansiedade em voltar a me juntar com Gizelly e Sofia.
Diferente de semanas atras, que o medo me fez agir como uma covarde e não acompanhar a Gizelly em sua primeira visita ao Renato, desta vez eu queria estar ao lado da minha esposa e filha.
Sim, minha filha.
Por ela sou capaz de qualquer coisa, é por ela que decidir abrir o jogo para o meu irmão. Por saber que em um ato inocente ela poderá acabar fazendo o que eu deveria ter feito a semanas atras. Desde quando ela aceitou visita-lo, ponderei sobre tudo o que poderia acontecer com sua visita, e em tudo o que isso acarretaria.
Última coisa que eu quero é que minha filha sinta que fez algo de errado, que se sinta culpada por dizer a verdade. Eu não sei como o Tato irá reagir com a informação de que além de estar casada com aquela que foi o seu primeiro amor, também me tornei a mãe da sua filha. Não que eu ache que ele irá fazer algo para machucar a Sofia, mas também eu não sei como ele irá agir. Não quero colocar a minha pequena em uma situação que possa lhe causar algum dano emocional.
Então, neste momento tento não demonstrar o quão impaciente estou com a divagação da Dra. Dani sobre o quadro do Tato, e tão pouco estou interessada em escutar pela milésima vez o quanto ela está encantada com a sua recuperação "milagrosamente rápida", como ela costuma rotular.
Com as pernas cruzadas, e mantendo minhas mãos apoiadas nos joelhos, tamborilo meu dedo indicador direito no dorso da minha mão esquerda, como se estivesse marcando o tempo que estou perdendo naquela sala.
Depois do que me pareceu longos e incansáveis minutos, ela finalmente encerra a conversa.
Não sei se foi o meu gesto rude, tamborilando os dedos de forma impaciente, ou se realmente ela havia se cansado de devagar sobre o Tato, pois fim a conversa.
Estávamos caminhando lado a lado pelo corredor, em direção ao quarto do Renato.
- Acredito que não demorara a receber alta, mas é claro que ele ainda precisará voltar regulamente ao hospital além de continuar com a fisioterapia. – Dizia a Dra. Dani.
- Eu fico tão feliz em saber que logo ele poderá ir para casa. Sei que o meu irmão vai estar logo correndo por aí. – Digo com um largo sorriso.
- Mas primeiro ele precisa caminhar, literalmente. – Ela rir de volta. – Como disse, as coisas precisam serem feitas com calma.
- Oh, sim. Sei muito bem disso.
Estávamos próximo ao quarto quando me deparo com minha mãe. Isso não poderia estar acontecendo.
- O que você está fazendo aqui? – Foi a primeira coisa que saiu da minha boca.
Eu não queria acreditar no que eu estava vendo, ela só poderia estar brincando.
Tínhamos um acordo em relação aos horários de visitação, o que ficou acordado a muito tempo. Aquele era o meu horário, ela sabia muito bem disto, o que me deixa ainda mais agitada.
- Boa tarde para você também, Rafaella. – Ela diz de forma inexpressiva. – Boa tarde Dra Dani. - Desta vez seu tom soa doce, e é acompanhado um sorriso. – Espero que o nosso rapazinho não tenha se esforçado desnecessariamente. Trouxe algumas coisinhas para ela. – Disse levantando a sacola que carregava.
- Boa tarde, Dona Genilda. – Dra. Dani sorriu de volta. – Nunca o deixaria que isso acontecesse.
- Você ainda não respondeu a minha pergunta. – Interrompo de forma grosseira a conversa.
- Oras, o que uma mãe faz no hospital que o filho se encontra internado por culpa de umazinha aí?
Sinto um nó se formar em minha garganta com a sua insinuação.
Minha mãe sempre deixou claro de que me culpava pelo que tinha acontecido com o Renato, o que não era diferente do sentimento que eu nutria dentro de mim. Por mais que eu lute, e lá no fundo saiba que a culpa não foi minha, ainda assim não consigo deixar de extinguir totalmente esse sentimento. E ela, ela sempre faz questão de tocar nesta ferida.
- Você sabe que este é o meu horário, então não tem motivos para esta aqui. Não agora. – Digo, tentando manter meu tom cordial.
Ultima coisa que eu desejava era causar uma cena hoje, ainda mais no meio do corredor do hospital, a poucos passos da porta do quarto que o meu irmão ocupava. Onde também estavam Gizelly e Soso.
- Ah! Não me diga que agora vou ter horário marcado para visitar o meu próprio filho.
- Mãe, você sabe muito bem que eu tenho horário, então vamos pular essa discussão desnecessário, por favor.
- Dona Genilda, que tal irmos até a minha sala. Assim podemos conversar um pouco é o tempo que Gizelly finaliza a visita. Tenho que conversar algumas coisas com a senhora mesmo. – Dra Dani tenta amenizar o clima tenso que estar se formando entre minha mãe e eu. – Venha comigo, tomamos um café enquanto conversamos e você aproveita e me conta sobre essa surpresa para o Renato.
- Eu irei amar tomar um café com você, filha. – Ela diz de maneira gentil para a Dra Dani, tanto quanto nunca foi em nenhum momento comigo em toda a minha existência. – Mas não agora. Eu estou muito empolgada para ver o meu menino.
Ouço o barulho do bip da Dra. Dani.
A medica ignorou o ruido e tornou a perguntar a minha mãe.
- Sei o quanto ama ficar perto dele, mas será poucos minutos. – Insistiu.
- E como amo. -Voltando a me encarar, minha mãe continua. - Você não irá se incomodar em voltar um outro momento, não é filha. Sei que você deve estar louca para voltar para sua vida e afazeres – Por mais sutil que tenha sido, não pude deixar de notar seu tom sarcástico.
O bip soou novamente e a Dra. Dani olhou para ele, dizendo:
- Desculpem, tenho que atender a esse chamado. Se me derem um instante. – Disse se afastando da minha mãe e eu.
- Mãe, por favor, não torne tudo isso uma discursão desnecessária. Estou dentro do meu horário, elas estão me aguardando. Prometo que não iremos demorar. Só nos dê alguns instantes e já estaremos de partida. – Digo dando um passo a frente, me aproximando um pouco mais da porta do quarto.
- Elas? – Ela eleva a voz. – De quem você está falando.
- Sim, elas, Gizelly e Sofia estão me aguardando. – Digo. – Viemos visitar o Tato.
- Aquela ordinariazinha está aqui, juntamente de sua bastarda?
Antes que eu pudesse dizer algo, minha mãe passa por mim como um furação abrindo a porta do quarto de Tato com tudo.
VOCÊ ESTÁ LENDO
A vida da gente
FanfictionPoderia começar dizendo que este não é apenas mais um conto clichê, mas não pretendo começar com falsidades. Afinal, é verdade que este romance tem suas raízes no clichê, mas permita-me destacar que, mesmo sendo inevitavelmente familiar, ele reserva...