O Gato

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Me levantei cedo, como de costume, Rafa ainda dormia profundamente no seu lado da cama, seu braço esquerdo por cima do rosto.

Andei quieta até a cozinha, antes passando no quarto da Soso para verificar seu sono. Preparei café e coloquei, na estação de som, uma música baixa.

A maioria das coisas que usaria no café da manhã já estava pré-prontas, então o único trabalho seria montar a mesa e preparar algo que eu desejasse acrescentar de última hora.

O dia estava frio, mesmo assim decidir abrir as cortinas que davam para o quintal. Então decido por assar alguns pães. Enquanto faço isso ouço o barulho da porta se abrir, era a Thais.

- Bom dia! – Ela me salda com um largo sorriso. 

- Bom dia. Como está? – Pergunto.

- Estou bem, obrigada. – Ela coloca a bolsa em uma das cadeiras, depois aponta para o forno. – Quer ajuda com isso?

Sua aparência mostrava que realmente ela estava bem. O mesmo não poderia ser dito sobre mim.

- Sim. Agradeço por isso.

Ela me ajuda a encontrar duas bandejas de vidro para dispor os pães. Ela também cobre alguns com o resto de chantili que tinha na geladeira e eu noto quando ela nota um pouco da minha preocupação.

Thais está em minha vida desde que me entendo por gente, ela foi o mais próximo de uma mãe que eu pude ter. Seria impossível esconder algo dela. Ela conhecia cada parte da história dos três: Rafaella, Rento e eu. Não só havia feito parte da minha infância, mas também na adolescência do Renato e Rafaella. E agora também na infância da minha filha. Então, enquanto terminamos de arrumar a mesa lhe conto sobre a última novidade.

- Nossa! Serio que ele finalmente tomou juízo? – pergunta em surpresa. – Porque que bobagem o menino Tato estava fazendo em se afastar da menina Rafa dessa maneira.

- Sim, eles conversaram ontem. – Digo num tom baixo. – Ela contou que ele parecia bem disposto a recomeçar, ou pelo menos criar uma nova vida para ele pode seguir a diante.

Ela parece analisar minhas palavras, o que deixa nosso diálogo com uma longa pausa.

- Isso não seria algo bom a se fazer? – Ela questiona me encarando ao escolher uma das cadeiras e a ocupar.

Escolho uma de frente a sua, assim não quebrando o olhar.

- Claro, isso é maravilhoso.

- Mas então o que está tirando sua paz? Porque sabemos que existe algo fazendo isso. -  Ela abre um sorriso terno.

O que me faz soltar um longo suspiro.

- Não me entenda mal, eu realmente estou feliz que ele finalmente parou com a babaquice de manter a Rafinha afastada. Eu não aguenta mais vê-la sofrendo por conta de algo que não tem culpa. Ela não manda no coração, ninguém manda, não é?  Enfim. – solto outro suspiro em exasperação. – Ontem ele teve outra crise, mais uma vez se culpando por coisas que não existe.  Teve um momento em nossa conversa que ela confessou estar arrependida. - Sinto um nó se formar em minha garganta. – Por um momento eu tive medo que ela estivesse arrependida da gente. Arrependida de estar ao meu lado. Enquanto crescemos, eu via o quanto o Renato era tudo para ela. E por minha causa a vida dos dois sofreu um grande estrago.

Thais se levanta e ocupa a cadeira ao meu lado, puxando minhas mãos para o seu colo, as cobrindo com a suas.

- Meu bem, não é bem assim e você sabe disso. Ninguém teve culpa alguma nesta história. Como você mesma disse, ninguém manda no coração. – Ela enxuga uma lagrima que escorre no meu rosto. – Não diria que sofreu estrago, mas sim grande mudança. A vida de todos sofreram grandes mudanças pra ser mais exata, não somente a deles. Claro que o menino Renato está tendo que lidar com algo muito grande, mas isso não diminui o que a Rafa e principalmente você também teve e está tendo que lidar. Mudança ou estrago, seja lá como queira chamar, isso nada tem a ver com você. Você ter se envolvido com o Renato na adolescência foi algo do destino, algo que não foi planejado. Assim como a menina Rafa e você terem se apaixonados adultas. Vocês não escolheram esse enlace complicado para a vida de vocês.

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