Sete minutos no céu

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· Perspectiva de Gizelly

Eu estava tão feliz por tudo ter dado certo. A festa que organizamos para o Tato estava sendo um sucesso, todos estavam curtindo a noite, exceto ela, Rafaella. Quando a vi no quanto não conseguir deixar de ir até ela para saber o que estava lhe incomodando.

- Dez centavos pelos seus pensamentos. – Disse ao senta-se no seu colo.

Eu achava lindo a maneira que o rosto dela corava, ela é mais clara do que eu, e é tão fácil de ficar em tons vermelhos. Eu acho muito fofo, e alguns meninos devem pensar o mesmo, o que não me deixava nada feliz, mas não conseguia saber o porquê. Ainda não entendi o motivo dela nunca ter me falado de um, todos os nossos amigos já tinham beijado, exceto a gente. Eu sabia o meu motivo, mas o dela, esse era um grande segredo.

- Maninhas, vamos participar da brincadeira. – Tato chamou nossa atenção. – Ei pessoal, a hora da diversão irá começar. Vamos para a sala de jantar.

Todos fizeram o que ele mandou, excerto eu e a Rafa. Eu odiava quando ele me chamava assim, eles não eram meus irmãos. Ele não era o meu irmão. Aquilo me deixou irritada, sair do colo da Rafa e me joguei no espaço vago ao seu lado, cruzando os braços e fechando a cara.

- Que brincadeira? - Rafaella pergunta desconfiada.

Não que eu os odiasse pelo meu pai ter se casado com sua mãe, mas isso não fazia deles meus irmãos, não podia fazer. Eu iria me sentir a pior pessoa do mundo por gostar de um irmão de uma maneira nada ortodoxa. Esse pensamento me faz ter calafrio.

- Adivinha? – Ele desafiou.

Ele estava em pé a nossa frente, com aquele sorriso presunçoso que me deixava sorrindo feito uma idiota, eu e todas as meninas que chegavam perto dele. O que me deixava ao mesmo tempo com raiva, era inevitável não sentir ciúmes.

Eu reviro os olhos para ele.

- Deixa de se fazer de chata, Gi. – Ele se jogou, sentando ao meu lado e passando um dos braços por trás de mim, me puxando em um abraço de lado. – Vamos, adivinha.

- Alguma brincadeira idiota que você e seus amigos, mais idiotas ainda, inventaram. – Respondi.

Notei Rafaella tentando prender o riso.

Ele se colocou de pé, e me puxando junto disse:

- Hoje é o meu aniversário, então vocês irão fazer o que eu quiser.

- Tecnicamente é amanhã. – Respondeu Rafaella.

- Tecnicamente é quase meia noite, e além do mais essa é a minha festa, então eu que mando aqui. Vamos participar da brincadeira e pronto. – Disse ele num tom firme.

Pegando a mão da Rafa e me prendendo ainda no meio abraço, Tato nos guiou até um grupinho sentados no chão em círculo. Ao ocupar nossos lugares, tinham dez pessoas naquele círculo, cinco meninas e cinco meninos.

Olhei para a cara da Rafa, ela encarava o irmão, como se não estivesse nada satisfeita com a imposição que ele tinha feito.

- Todos sabem as regras, não é? – Tato perguntou, ignorando o fuzilamento que estava levando da Rafa.

Quando olhei para o meio do círculo e notei a garrafa e uma pequena cesta entendi o motivo dela está irritada com o Tato. Iriamos participar de uma brincadeira a qual ambas nunca tinha feito, mas que sabíamos muito bem qual era sua finalidade.

- Se não sabem, ou não se lembra, vou dizer. Todos devem tirar os seus relógios e celulares e depositar ali. – Tato apontou para o pequeno cesto. – Vamos girar a garrafa em sentido horário, então o primeiro será o Pyong, a segunda a Bianca, depois Caon e assim por diante. Todos irão ter a sua vez de girar. Quem a garrafa apontar será o seu parceiro por sete minutos no céu. – Continuo ele, num tom aveludado. – Não importa se gostou ou não do escolhido, vocês devem ficar por sete minutos dentro do banheiro, não importa se farão algo ou não. Irei cronometrar o tempo de cada um, e se for a minha vez outro fará o mesmo. Alguma dúvida?

Meu coração começou a bater em disparada, não era bem dessa maneira que eu queria dar o meu primeiro beijo, mas fiquei um pouco mais tranquila em saber que não seria obrigada a nada. Só me restava ter esperança que o escolhido pela garrafa na minha vez fosse o Tato.

Todos negaram com a cabeça, sinalizando que não possuíam dúvidas.

- Então, que comecem os jogos. – Disse Tato, com um largo sorriso no rosto.

A sequência de lugares na roda era a seguinte: Eu estava sentada entre Rodolfo e Tato, Rafaella ocupou o lado esquerdo do irmão e ao seu lado estava Fred seguindo por Sammy, Pyong, Bianca, Caon e Mari fechando o círculo.

Pyong seria o primeiro a girar, como tinha combinado. Assim a ordem seria ele, Bianca, Caon, Mari, Rodolfo, eu, Tato, Rafa, Fred e pôr fim a Sammy. A apreensão tomou conta da sala, a expectativa em saber para quem a garrafa iria apontar tomou conta de todos.

A garrafa parou em Sammy, ele não disfarçou a alegria que sentiu com o resultado. E assim foram os primeiros a irem para o banheiro.

Esperamos pelos minutos, Rafa agora me olhava. Eu não soube identificar o que ela estava sentindo, seu olhar estava estranho. Quando eu ia perguntar se ela estava bem o casal voltou e, assim foi a vez de Bianca girar. A garrafa acabou parando Mari, achei que elas iriam surtar e se recusarem a ir, mas não foi bem o que aconteceu.

- Vem, neném. Vem experimentar o sabor de um beijo de anjo. – Disse Bianca animada puxando Mariana para o banheiro.

A maioria riu com a sua animação.

E assim o jogou continuou. Raon acabou tirando Sammy, o que não deixou Pyong muito feliz. Na vez da Mari, ela acabou tirando o Fred. Na vez do Rodolfo a garrafa acabou sendo apontada para o Caon, o que fez gerar piadas entre ele, Tato e Rodolfo. Eles eram amigos inseparáveis, eu não ia muito com a cara dos dois, e não entendia o motivo do Tato gostar de andar com eles.

Quando chegou a minha vez todo o nervosismo e expectativa se alojou em mim. Minhas mãos começaram a suar, meu coração a bater em disparada. Eu queria muito tirar o Tato, desejava que o primeiro menino que beijasse fosse ele.

Sequei minha mão na minha roupa, para secar antes de girar a garrafa.

Acho que usei muita força, pois ela girou tão forte que tive a impressão que nunca iria parar.

Tudo começou a ficar na mesma velocidade que a garrafa, a velocidade dos rostos diminuído conforme a garrafa diminuía. Sentir que tudo estava em câmera lenta, a garrafa passeando por cada um como se estivesse escolhendo minuciosamente o seu alvo.

A esta altura eu sentia meu coração batendo em minha garganta, como se estivesse preste a saltar pela boca.

E então, ela finalmente parou e junto com ela o meu coração. 

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