Sala de cirurgia

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Eu tentei me desprender o cinto, mas não conseguia me soltar. Meu coração batia em desespero. Eu gritava para que o meu irmão recobra-se a consciência enquanto ouvia uma voz se aproximando abafado pelo barulho da chuva e da água que invadia o carro.

O carro foi sendo coberto pela água, tudo aconteceu muito rápido antes que me desse conta de tudo.

Quando finalmente conseguir me soltar do cinto, sentir o vidro sendo quebrado e alguém me puxando. Me debati em protesto, eu queria que tirassem o meu irmão primeiro. Queria pedir que me deixassem ali e o salvasse, mas tudo ficou escuro e eu pedir a consciência.

Quando acordei, uma ambulância havia chegado tão, parecia mais que estava me esperando, os paramédicos me atenderam e me colocaram na maca me levando para a ambulância, mas meu desespero por noticias do meu irmão fizeram com que me aplicassem algum tipo de sedativo. Tudo escureceu novamente.

- Meu amor?

Ouço uma voz familiar, mas ainda não consigo reconhecer.

Estou recobrando a consciência aos poucos, isso me faz sentir um desespero.

- Calma, vovó está com você agora. Está tudo bem.

Finalmente consigo abrir os meus olhos. A vejo sorrindo para mim.

Vejo os cateteres no meu braço, agora fico ciente da dor que sinto na lateral do meu rosto. Tento olhar para a minha perna, tenho medo do que possa ter acontecido com ela. Minha avó segue o meu olhar.

- Está tudo bem com ela, apenas alguns cortes, mas nada que tenha prejudicado a sua perna, meu amor. – Ela diz num tom doce.

Eu não iria aguentar ter que voltar a passar por um tratamento para ter a minha mobilidade normalizada. Já tinha sofrido demais antes com todo o processo. Então me dou conta do Tato.

- Ta... o Tato. – A simples palavra sair com muita dificuldade da minha garganta.

O olhar da minha avó suaviza um pouco mais, ela vem até mim, me abraça. Como forma de me confortar, ela passa a mão pelos meus cabelos.

- Ele está na sala de cirurgia. Ele vai ficar bem meu amor. – Disse num tom baixo.

As lágrimas começam a escorrer, sem que eu conseguisse as controlar. Eu estava com medo de perder o meu irmão. Tive medo de saber qual era o seu real estado.

Minha avó tentava me acalmar quando minha mãe entrou no quarto em que eu estava.

- Sua ordinária. Tudo culpa sua. – Ela esbravejou vindo em minha direção, minha avó tomando a frente para me proteger.

- Genilda se controle, sua filha acabou de acordar. Você deveria estar feliz que pelo menos um deles está bem. – Minha avó tentou acalmá-la.

- Essa sonsa poderia ter morrido, eu não me importo. Mas se meu filho, meu único filho morrer ela vai desejar não ter nascido. Eu aposto que foi sua a ideia de pegar a estrada sem mim. Eu juro Rafaella, se o meu filho não sobreviver você irá se arrepender.

Eu não conseguir ouvir mais nada, os soluços do meu choro tomaram conta do quarto. Os aparelhos começaram a apitar e logo algumas enfermeiras entraram no quarto.

- Saia daqui Genilda. – Foi a última coisa que eu ouvir a minha avó gritar.

Passei dois dias sedada, sem receber noticias do meu irmão. Minha avó permaneceu ao meu lado todo o tempo.

Eu queria sair daquele quarto ir em busca de notícias, mas elas me mantiveram presas ali. Sentir que as palavras de minha mãe eram verdade. Se eu não tivesse contado sobre a minha suspeita ele não teria tomada a decisão de sair aquela hora em busca da verdade, não teríamos sofrido o acidente.

No terceiro dia, finalmente recebi a noticia sobre ele.

A cirurgia tinha sido um sucesso, mas ele ainda não tinha acordado. Já faziam dois dias desde sua saída da maca cirúrgica, mas seu organismo não estava respondendo como o esperado.

No quinto dia ali, sem receber notícias de que meu irmão tinha reagido, acabo me surpreendendo com a visita dela.

- Eu vim o mais rápido que pude. – Ela diz num tom frágil.

Eu já estava conseguindo me movimentar, dos machucados, eu estava bem.

Abrir os braços para que ela viesse até mim, e assim ela fez. Ficamos abraçadas por um longo tempo, ate que o contato foi rompido. Lhe contei sobre o acidente e o desespero que estava sentindo por ele não acordar, minha avó tinha nos deixado sozinhas no quarto do hospital.

- Eu estou com medo dele não conseguiu sair do coma. – Disse entre lagrimas.

- Ele é forte, um campeão. Vai sair sim, tenha fé. – Disse ela apertando a minha mão.

- Estávamos indo atrás de você. – Finalmente disse a ela.

Estávamos sentadas na cama hospitalar, nossas mãos entrelaçadas.

- De mim? – Gizelly perguntou confusa.

- Sim. – Fiz uma pausa, a encarando antes de prosseguir. – Sabemos da neném. Ela não é sua irmã, é filha de vocês. Sua e do Tato.

Gizelly soltou a minha mão no mesmo instante, se levantando, ficando de costas para mim.

- Você está enganada. Deve ser por conta do acidente. – Gizelly me ofereceu um meio sorriso.

- Não precisa mais mentir, eu só não sei o que te levou a esconder isso da gente. Mas eu respeito sua decisão, sei que você deve ter tido fortes razões para isso. Mas saiba que eu estou aqui para te apoiar, e logo ele também estará.

O sorriso que Gizelly me deu ficou obscuro.

- Não sei levou ele a pensar que a Soso seria dele.

- Ele me contou sobre a cachoeira. Eu sei o que aconteceu lá, é só fazer as contas. Eu só não sei o motivo de você esconder ela da gente. Dele. - Eu sabia que era filha deles e pela a reação de Gizelly eu sabia que não tinha me enganado. Soso era filha deles sim. – Você a escondeu da gente. Escondeu dele, Gi. Eu estou aqui... Estamos aqui para ela, para você.

Eu não conseguia parar de pensar que fazia parte daquilo. Que eu também tinha relação com a Soso, que tinha direito em fazer parte da sua vida tanto quanto o meu irmão.

- Você está enganada. – Ela enxugou algumas lágrimas que escorria pelo rosto. Vindo em minha direção continuou. – Eu sinto muito, preciso ir. Sinto que a visita tenha sido curta, mas prometo voltar aqui para visita-la novamente.

- Gi, por favor. – Tentei insistir no assunto.

- Não, Rafa. Preciso ir.

Ir assim ela saiu daquele quarto.

Eu sabia que não estava errada, eu podia sentir que Sofia era sim filha deles, mas não pude ir atras dela. Não podia sair daquele hospital. Mesmo se pudesse, não iria fazer até saber que meu irmão sairia junto comigo. Eu precisava acreditar que ele sairia, que iria acordar e ficar bem. Que iria conseguir conversar com Gizelly e entender o motivo dela ter escondido sua filha, que iria conseguir traze-la de volta para nossas vidas. Ela, e a pequena também. Eu precisava acreditar nisso. 

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Já, Já volto com mais capítulos. 

Até breve😘

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