"Antes eu era flor, agora sou amor"

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Enquanto a seguia para fora do salão, meu coração começou a bater descompassado. O medo que que ela tinha me tirado do teatro para me dar uma má notícia tomou conta dos meus pensamentos. A principio pensei que talvez tenha sido algo com a Rafa. Que ela tinha sofrido algum acidente a caminho e que este era o motivo para ainda não ter chegado à apresentação, mas depois o alerta foi para a Sofia, só poderia ser algo relacionado a ela já que era uma de suas professoras ali.

Assim que passamos pelas portas duplas da entrada, eu disse:

- Aconteceu algo com a Sofia? – O desespero em minha voz.

Ela parou e se virou.

- Sim, mas não é nada grave. – Ela tentou me acalmar. – Ela está se recusando a subir no palco. Disse que não irá se apresentar até a sua mãe ir vê-la. Por isso vim chamar a senhora. Precisa ir falar com ela e acalmá-la, já está quase na hora dela subir.

Eu sabia que não era a mim por quem ela estava chamando, mas mesmo assim acompanhei a professora até a sala de concentração, que ficava atras do palco.

Enquanto a seguia pelos corredores, eu tentei novamente ligar para a Rafaella, e mais uma vez as ligações acabavam caindo na caixa postal. Deixei mais algumas mensagens antes de guardar o celular na bolsa e ir até a Sofia, que agora estava sentada em uma das cadeiras no canto da sala, com o semblante triste.

Me agachei em sua frente, me apoiando em um dos joelhos.

- Oi, minha pequena. – Disse passando os dedos pela lateral do seu rostinho. – O que aconteceu?

- Ela me prometeu. – Soso disse com a voz triste, atingindo o meu coração.

- A mama deve ter tido algum problema no trabalho, não foi por querer. – Tentei encontrar uma desculpa para a ausência da Rafaella ali.

- Mas ela me prometeu, disse que iria estar aqui. Ela prometeu.

Sofia se jogou em mim, me abraçando com os bracinhos em volta do meu pescoço. Tive que me esforçar para não tombar para trás ao recebe-la. Eu a apertei, envolvendo-a em meu abraço.

- Não fica assim meu amor, a mama queria muito estar aqui. Se ela não chegou ainda, deve ter acontecido algum muito sério que a impediu. Ela nunca iria quebrar uma promessa feita para você, não se dependesse somente dela.

- Eu não quero mais apresentar. – Ela disse com a voz de choro.

Fiz ela desfazer o abraço, o suficiente para olhar para o seu rostinho. Seus olhos denunciavam que uma cachoeira de lágrimas estavam prestes a romper.

- Ei! Você trabalhou muito para desistir agora.

- Eu não quero mais fazer isso.

- Meu amor, você não pode desistir assim. Você se esforçou tanto, não é justo desistir logo agora. Essa fadinha tem que subir naquele palco e brilhar.

- Não quero ir mais. – As lágrimas começando a escorrer pelo seu rostinho.

- Não chore, meu amor. – Disse enquanto enxugava as suas lágrimas. – Eu sei que você queria que eu e a sua mama estivéssemos aqui, para ver sua apresentação. E o fato dela não ter chegado te deixou tristinha, mas entenda que sua mama nunca iria quebrar uma promessa para você. Ela te ama muito, e sabemos que se ela não estar aqui é por algum motivo. Ela nunca iria te fazer chorar, ao contrário, ela sempre faz de tudo para que esse sorriso que tanto amamos fique sempre nesse rostinho lindo. Eu estou aqui, por mim e por sua mama. Vou estar lá toda orgulhosa para ver a sua apresentação, e prestar atenção a cada detalhe. A mama deve estar muito triste por não ter conseguido vir, e se ela souber que você não quis se apresentar vai ficar mais triste ainda. Você a quê triste?

Ela apenas negou com a cabeça.

- Então me promete que não vai chorar e vai subir naquele palco e brilhar. Promete?

Ela ficou em silêncio.

Naquele momento me deu vontade de matar a Rafaella. Se ela não apareceu por conta da videoconferência eu ira matá-la com toda a certeza. Controlei a minha raiva para não deixar que a Sofia percebe-se.

- Eu não ouvir. – Insistir.

- Eu prometo, mamãe.

- Muito bem. Agora vamos arrumar esse rostinho, colocando um sorrisão que só a minha Soso sabe dá e voltar a ficar feliz?

Ela me deu um sorrisinho ainda tristonho, mas só ter conseguido fazer ela parar de chorar já era o suficiente.

- Você sabe que te amamos, não é?

- Sim, mamãe. Eu sei.

- Não importa o que aconteça, nunca esqueça disso. Sua mama e eu sempre iremos te amar, mesmo que não possamos estar do seu lado todo o tempo. Onde quer que esteja, com quem esteja nunca se esqueça disso. Tudo bem?

- Sim, tudo bem. – Ela confirmou com a cabeça.

- Agora vou voltar para o teatro, preciso ver de perto uma fadinha brilhar. Te amo imensamente, minha filha.

- Também te amo, mamãe. – Ela voltou a me abraçar.

Antes de entrar no salão, voltei a tentar falar com a Rafa. E como sempre a chama indo para a caixa de postal. Então mandei uma ultima mensagem e rumei em direção ao assento para ver a apresentação da Sofia.

Assim que ocupei novamente o meu lugar, a coordenadora terminava de apresentar a turminha da Sofia. Sentir um grande aliviou ao localizá-la no palco entre os coleguinhas.

As apresentações começaram com um poema relacionando carros a primavera. O que fez todos rirem com a junção inusitada dos temas, ao final aplaudiram. E assim um a um foi tendo sua vez a frente do holofote.

Olhei mais uma vez para o assento ao meu lado vazio.

A raiva que antes eu estava sentido havia se dissipado e agora só sobrou a preocupação.

Então chegou a vez da Sofia.

Peguei o celular para poder registrar o momento.

Ela ficou um tempo em silêncio, percebi que estava procurando por mim no meio das pessoas. Seu olhar me localizou, ela apertou o microfone com suas mãozinhas demonstrando o quão nervosa estava. Sentir uma vontade de ir até lá e segurar em sua mão, lhe dando apoio. Mas apenas sorrir para ela, que retribuiu.

Após mais alguns segundos de timidez, ela começou a recitar sua poeminha.

- Eu nasci flor, mas não sou totalmente flor. Minhas mãezinhas fazem me tornar uma flor, me dando o seu amor. Elas fazem crescer dentro de mim o mais puro amor. Como a primavera, ele é repleto de cor. Um arco-íris de preciosidades, assim é o nosso amor. Antes eu era flor, agora sou amor. – Sua voz era tão doce.

Cada palavra desse poeminha me atingir com força total. Não conseguir segurar a emoção, as lágrimas escorrendo pelo meu rosto enquanto eu a ouvia. Minha filha sabia que era amada, ela sentia isso. Estava mais do que claro em suas palavras. 

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Como prometido, aqui está a att. 

Gostaram do poeminha da "Soso"? :)

Curtam o fds com sabedoria. Beijinho e até breve ;*


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