· Perspectiva de Rafa
Quando Gizelly, Sofia e eu chegamos em casa depois de ter passado um tempo com Bianca e Mari, sentir que estava um pouco mais tranquila. Passar um tempo com as meninas tinha tirado um pouco do peso dos acontecimentos, assim como o desabafo que fiz ao conversar com Bianca.
Externar meus medos para uma pessoa de fora desse enlace que se transformou a minha situação com Gizelly me dava uma nova perspectiva. Não que não fosse importante a conversa que tive com a própria Gizelly, ou até mesmo que tivemos com a minha avó. Mas conversar com alguém que não estivesse ligada emocionalmente com a situação me deixou um pouco mais a vontade para admitir meus temores com um pouco mais de abertura.
Então quando Gizelly conversou comigo novamente sobre a nossa ida ao psicólogo, não só por conta de Sofia, mas agora também por nós, eu me sentir mais do que disposta. Seria um alguém imparcial disposta a nos ajudar a entender e a nos auxiliar.
Depois que concordei, nos sentamos para conversar com a Soso, tentar da maneira mais simples e didática explicar-lhe o motivo de irmos ao psicólogo a partir de amanhã.
Quando a Soso tinha apenas dois anos e começava a me ver como mãe, Gizelly procuramos a ajuda de uma psicóloga infantil para nos auxiliar como agir diante disso, o que realmente nos ajudou. Então eu não via motivos para não começar a levar a Soso, e principalmente a passar a termos nós mesmas sessões com algum profissional.
Eu estou mais do que disposta a fazer qualquer coisa que me ajude a lidar com tudo isso, mas que principalmente me ajude a não deixar que meus medos acabem com minha felicidade, minha família.
- Então vamos amanhã depois da escola, combinado? – Gizelly pergunta mais uma vez.
Sei que ela estar querendo passar para a Soso que ela tem escolha nessa situação, que o desejo dela também importa.
- Combinado, mamãe. – Sofia diz ao desviar os olhos do seu caderno de pintura e encarar Gizelly.
Estávamos em seu quarto.
Depois do jantar, Sofia havia subido para brincar um pouco antes de ir dormir, como de costume, enquanto Gizelly e eu organizávamos a cozinha. Ela quase sempre assim, jantávamos, ela subia, brincava enquanto organizávamos, assim que a gente finalizava íamos ao seu encontro, conversava um pouco sobre o seu dia e a colocava para dormir com alguma história, ou simplesmente lhe fazia carinho até pegar no sono.
Mas desta vez, Gizelly escolheu conversar com ela sobre a nossa ida ao psicólogo.
- Então já que estamos de acordo, que tal guardar esses lápis? – Digo, pois já tinha passado um pouco da sua hora de ir para a cama.
- Me ajuda, mama?
- Sim, ajudo.
- Mamãe, conta uma história? – Sofia pediu manhosa.
Assim que terminamos de guardar suas coisas, a colocamos na cama, Gi e eu ladeando a Soso. Dez minutos depois já estávamos saindo do seu quarto, pois ela não havia demorado a dormir.
- Você acha que ela vai conseguir aceita-lo? – Gizelly perguntou num sussurro, enquanto caminhávamos em direção ao nosso quarto.
Eu não sabia se seu tom foi por conta de ainda estarmos próxima a porto do quarto da Sofia, ou por puro medo que a rejeição dela, mesmo com a ida a psicóloga insistisse.
A puxo, a abraçando lateralmente enquanto continuamos a caminhar.
- Sim, acredito que irá aceitá-lo. Ainda mais quando ela ver como ele é incrível.
Não era uma mentira para reconforta-la, eu achava meu irmão incrível. Por mais que tivéssemos tido uma infância complicada graça a nossa mãe, ele conseguiu deixar as coisas menos complicada para mim.
- É, ele é incrível. – Ela deu um longo suspiro. – Mas ela puxou o meu temperamento, por mais que tenha adquirido um pouco da doçura da mama dela. A Soso consegue ser teimosa como eu quando deseja.
Era maravilhoso ouvi-la nesses momentos, quando ela dizia algo sobre a Soso, como se eu realmente tivesse participação na sua existência. Como se de alguma forma um pedaço físico meu também fizesse parte de tudo aquilo, se é que me entende.
- Ela vai acabar sendo mais maleável, é só darmos o tempo dela. E com o acompanhamento, creio que isso logo acontecerá. – Digo, tento tranquiliza-la.
Assim que chegamos ao nosso quarto nos preparamos para irmos para cama em silêncio, assim que a tenho deitada ao meu lado, com a cabeça recostada sobre o meu peito ela o quebra.
- Ele está tão mudado, e ao mesmo tempo tão igual.
Não tínhamos conversado sobre como foi o seu encontro com Renato, então eu sabia que o momento tinha chegado ao ouvi-la falar dessa maneira.
- Ele pareceu tão fragilizado naquela cama, eu não quis deixar ele falar, mas em compensação eu falei bastante, contei tudo sobre a Soso para ele. – Sentir que ela sorriu ao dizer essa última frase. - Queria que você estivesse lá comigo, eu realmente desejei isso.
Me sentir culpada, eu deveria ter lhe contado a verdade antes.
- Me desculpe por não ter ido. – Me sinto mal por não ter tido coragem, e ainda mais mal por ter mentido para ela. – Eu fui uma covarde, mas eu não tive coragem.
O quarto estar sendo iluminado pelos nossos abajures.
Gizelly então se inclina de modo que agora está apoiada em seu cotovelo me encarando com um semblante confuso.
- Do que você está falando?
- Não existiu problema algum para resolver com a Bia. – Confesso. – Eu... Eu só não tive coragem de ir ao hospital, eu realmente deveria ter te acompanhado
Gizelly então levanta, sentando na cama.
Então eu faço o mesmo, me colo sentada apoiada na cabeceira da cama de frente para ela.
Sinto o meu coração acelerar ao sentir o peso do seu olhar, o medo de ter a magoado pulsando forte, assim como meu coração. Me sinto tão culpada por ter mentido para ela.
Ela me encara em silencio, mas o seu olhar me diz que sua mente não está tão em silencio assim. Sei que ela estar assimilando o que acabei de confessar.
- Eu não queria mentir para você... – Começo, sentindo um enorme bolo em minha garganta. – Eu só sentir que vocês precisavam ter esse momento sem mim... eu estou com muito medo, eu sei que soou estupida ao dizer isso em voz alta, mas não consigo deixar de ter medo.
- Rafa... – Ela tenta falar, mas eu a interrompo.
- Eu não queria mentir para você, eu juro. Eu só não estava pronta para te acompanhar, não estava pronta... – Minha voz embargar, mas me forço a continuar. – Vocês precisavam ter esse primeiro encontro a sós, longe de mim e desse medo sufocante que carrego comigo. Eu sinto muito mesmo, eu não queria ter mentido.
Então ela se aproxima de mim, sentando em meu colo, colocando uma perna de cada lado.
Fecho os olhos ao sentir suas mãos acariciando as minhas bochechas. Foi então que me dou conta de que eu estava chorando, que ela estava tentando enxugar as minhas lagrimas.
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A vida da gente
FanfictionPoderia começar dizendo que este não é apenas mais um conto clichê, mas não pretendo começar com falsidades. Afinal, é verdade que este romance tem suas raízes no clichê, mas permita-me destacar que, mesmo sendo inevitavelmente familiar, ele reserva...