Perspectiva de Gizelly
Observo Sofia e Renato sentados em frente a escrivaninha do quarto, eles estão sentados ali a uns bons minutos, colorindo alguns desenhos que ele mesmo escolheu para o encontro de hoje.
- Não acho que fica legal essa cor, está muito escura Renato. – Diz Soso apontando para o lápis azul-marinho nas mãos do Tato.
Ela o chama pelo nome, disse que não se sentia à vontade para o chamar de Tato como nós fazemos. E mesmo antes da nossa terapeuta aconselhar que não deveríamos impor como seria sua relação com Renato, Rafa e eu respeitamos os limites impostos por nossa filha.
O mesmo é feito por ele. Conversei com ele na companhia da terapeuta que acompanhava Sofia. Conseguir que ela fizesse uma sessão extra no hospital, para que ela pudesse fazer com que ele entendesse e agisse com a Sofia de uma forma que não afetasse o começo de aceitação que ela vinha demonstrando.
Em nossa terceira visita, vendo que Soso começava a se irritar toda as vezes que ele a chamava de filha, ele começou a chama-la apenas pelo nome.
- Não vai, é noite, então o céu deve ser um pouco escuro, não acha? – Ele pergunta de forma doce.
Ela parece parar e ponderar enquanto bate a ponta do lápis em sua mão no queixo.
- Não sei, a mama que é boa nessas coisas. Ela sabe combinar todas as cores do mundo, ninguém consegue fazer como ela. - Ela diz sorrindo.
Sinto um pequeno nó se formar em minha garganta. Sinto tanto por Rafa não está aqui, por não está fazendo parte deste momento.
Após saber que sua visita ao irmão estava proibida pelo mesmo, achei que não iria conseguir continuar vindo sem ela, ainda mais sabendo que ela estaria em casa arrasada por seu irmão a rejeita-la como ela tanto temia.
Mesmo ela insistindo, dizendo que estava tudo bem, que ela ficaria bem, não consigo deixar de sentir uma pontada de tristeza por sua ausência.
Haviam se passado seis semanas, tentei algumas vezes conversar com Renato sobre Rafa, sobre nós, nosso casamento e tudo o que havia acontecido. Explica como as coisas haviam acontecido, mas ele sempre me cortava. Dizia que não precisava saber de nada, nada além da sua filha e do futuro.
- Ela fez uma colação... – Se virando para mim, ela pergunta. – Mamãe, como é o nome mesmo que a mama fez para mim? Aquelas roupas com minhas cores favoritas.
- Uma coleção. – Digo sorrindo para a minha pequena.
- Isso! – Ela vibra em animação. – A mama fez uma coleção com meu nome, com minhas cores favoritas. Disse que eu sou sua maior inspiração.
Sofia diz orgulhosa.
- Como não se inspirar em você, você é perfeita. – Renato diz.
Em todos os nossos encontros, é impossível que Sofia não conte algo relacionado a Rafa.
Não importa qual seja a atividade que ela esteja fazendo com o Renato. Um jogo de tabuleiro. Uma conversa sobre a escola. Falar sobre o que gosta de fazer, Sofia sempre inclui Rafaella no diálogo.
E mesmo demonstrando certo desconforto, Renato nunca deixou transparecer para minha filha. Ele sempre a ouvi atentamente e diz coisas agradáveis em resposta. O que me deixa mais esperançosa de que as coisas podem melhor. De que ele possa finalmente parar e escutar o que sua irmã tem a dizer.
- Sim, eu sei. A mama e a mamãe também me dizem isso. Sou perfeita porque sou a junção das duas. A cara da mama e o temperamento da mamãe. – Ela começa a arrumar os lápis enquanto diz.
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A vida da gente
FanfictionPoderia começar dizendo que este não é apenas mais um conto clichê, mas não pretendo começar com falsidades. Afinal, é verdade que este romance tem suas raízes no clichê, mas permita-me destacar que, mesmo sendo inevitavelmente familiar, ele reserva...