· Perspectiva de Gizelly
Faz três anos desde o aniversário catastrófico de 15 anos do Tato, desde então não tocamos mais no assunto. Depois da sua formatura, passamos a nos ver menos ainda. Agora todo o seu tempo era usado para o tênis e suas novas amizades.
Desde que sua mãe nos pegou no corredor, algo mudou. Não sei explicar exatamente o quer, mas sei que foi ali que ele começou a se afastar de mim. A sempre arrumar uma forma para me manter distante, mesmo nos raros momentos que iria buscar a Rafa e eu na escola, o que eu odiava por motivos óbvios.
Sentia como se ele tivesse montado uma barreira entre nós, sempre que eu estava por perto ele se fechava. Pouco tempo depois começou a andar com uma tal de Ana, uma garota nova da nossa turma, minha e da Rafa, o que me deixou triste e extremamente irritada. Queria muito saber o motivo da mudança radical, mas não queria confronta-lo. Rafa e eu também não tocamos no assunto beijo, afinal foi uma bobeira de amigas para testar se realmente saberia fazer aquilo quando chegasse a hora.
Era nosso ultimo ano na escola, iriamos fazer uma viagem para um acampamento local para comemorar o fim das provas das turmas do segundo e terceiro ano. Estava muito afim de ir, pois não sabia se meu pai iria deixar eu fazer algo do gênero tão cedo, era a última oportunidade de viajar com as meninas. Porém não estava nada animada para o que viria depois, meu pai tinha preparado um estagio para mim em sua empresa. Mal tinha recebido o resultado da faculdade, ele já organizou toda a minha vida, como sempre. Quando não estivesse em aula, passaria o acompanhando na empresa sem direito a revogar sobre a sua decisão. Me sentia mais como um fantoche do que sua própria filha, e isso era um saco.
- Temos que pegar a mesma cabana. – Disse Bianca ao se sentar no colo da Mari. – Não quero ficar com as pirralhas do segundo ano, sem paciência pra criança.
- Até parece que elas são tão novas quanto a gente. – Rebateu Manu, se sentado ao meu lado.
Ela tinha chegado na escola no ano passado, mas não demorou a participar do nosso grupo formado por mim, Rafa, Bianca, Sammy e a Mari.
Estávamos sentadas no pátio esperando nossas caronas.
- Vai ter criança? Não sabia que iria permitir criança nessa viagem. – Disse Mari, levando a mão ao queixo.
- Não, amiga tem criança nenhuma. – Olhando para Bianca continuei. - As meninas são um ano mais novas que a gente, larga de drama Bia.
- Ficando perto dos meninos, por mim está ótimo. -Disse Sammy.
- Meninos não, menino. – Todas rimos. – Essa safada tá querendo dar. – Provoquei.
- Aff, Gizelly. Tão delicada. – Sammy disse, levando uma mão ao peito de forma teatral.
- Fiquei sabendo que Talles vai estar na viagem, ele confirmou de última hora, logo depois de saber que uma certa pessoa também iria. Quem saiba nessa viagem ela finalmente conheça os prazeres da carne. – Bianca olhou para mim, ela sabia o quanto eu odiava quando ela fazia isso.
Esse garoto estava tirando a minha paciência, mesmo deixando claro que não queria nada com ele não largava do meu pé. E o fato das minhas próprias amigas usar isso contra mim, só me deixava ainda mais com raiva dele e sem sentir o menor interesse. A única que se mantinha calada era a Rafa.
- Não ferra, Bianca.
- Eita, ela ficou putinha. – Disse Bianca rindo.
- Deixa, ela Bia. – Disse Rafa, pela primeira vez desde sentamos ali.
- Vamos todas dorme na casa da Gi e Rafa, assim sairemos todas juntas e não corremos o risco de ficarmos separadas. – Manu tentou cortar o assunto.
- Eu topo! – Sammy, Bianca e Mari falaram ao mesmo tempo.
O que fez todas cair na gargalhada novamente.
Por mais que de vez em quando elas conseguissem me tirar do sério, principalmente a Bia, eu amava estar com elas.
- E como ta o lance entre Rodolfo e Caon? – Bianca agora decidiu importunar a pobre da Rafa.
Os amigos do Tato, resolveram que sentiam algo por ela, os dois ao mesmo tempo. O que a deixou extremamente desconfortável. Eles eram os melhores amigos do Tato, mas não passavam de babacas.
- Não está. Disse que não queria nada com nenhum dos dois, que era muito estranho, eles são amigos do Tato. – Ela fez uma cara de nojo.
- As duas são uma roda presa isso sim, vocês não pegam ninguém e ainda coloca os gatinhos pra correr sem nenhum remoço. As duas fizerem algum tipo de pacto de castidade que não estamos sabendo? – Bianca alternava o olhar entre mim e Rafa.
- E você fez curso para ser tão sem noção, ou já nasceu assim? – Rebati.
O fato de os meninos encherem o meu saco não me deixava com mais raiva quanto faziam isso com a Rafa. Eu não sabia explicar o motivo, mas odiava quando ela recebia invertidas desses babacas. Não que eu tenha inveja dela, eu não sei explicar o que realmente acontece. Mas fico feliz por ela também não da muita moral para eles.
- Como é lindo a troca de carinho entre amigas. – Disse Manu.
- Larga de cu doce, Gi. E da logo uns pegas no Talles, aproveitar a viagem. A Rafa não vai poder aproveitar, afinal os boys que brigam por ela já estão na faculdade. A garota aposta alto. – Provocou Bianca.
Quando eu iria responder travei ao perceber que Tato tinha chegado, ele me encarava.
- Hora de ir, bebês. Vejo vocês na minha casa amanhã as dezessete. – Disse desviando o olhar. – Jantem antes, não quero que façam o arrastam novamente em minha casa.
- Tchau meninas, até amanhã. – Disse Rafa se levando e indo em direção ao Tato.
- Negando comida para suas amigas, Titchela? – Perguntou Manu.
- Não, mas vocês fizeram uma bagunça da ultima vez que inventaram de dormir lá. Não quero... – Interrompi a frase no meio, Tato estar ali não me deixava desconfortável para falar algo negativo sobre a sua mãe. O clima entre a gente tinha ficado muito estranho, não estava afim de piorar. - ... Ter que lidar com a bagunça.
- Tão rica e tão mão de vaca. Pobre menina rica. – Provocou Bianca.
Mostrando o dedo do meio para ela, fui de encontro a Rafa e Tato.
- Olha que eu aceito. – Gritou ela.
O que levou a mais uma crise de risos do nosso grupinho.
E assim nos despedimos das meninas e fomos para casa com o Tato.
VOCÊ ESTÁ LENDO
A vida da gente
FanfictionPoderia começar dizendo que este não é apenas mais um conto clichê, mas não pretendo começar com falsidades. Afinal, é verdade que este romance tem suas raízes no clichê, mas permita-me destacar que, mesmo sendo inevitavelmente familiar, ele reserva...