Medo bobo

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·         Perspectiva de Gizelly

- O que ela queria te mostrar? – Pergunto a Rafa, assim que ela entra em nosso quarto.

A Sofia não queria me contar o que tanto queria mostrar a sua mama, tão pouco deixou com que eu visse.

- Você vai descobrir amanhã. – Ela se aproxima e deposita um beijo rápido em meus lábios.

Mas antes que ela se afastasse novamente a seguro pelos braços.

- Você não vai mesmo me contar? – A encaro em desafio.

- Não. – Ela sorrir antes de me dar outro beijo, mas desta vez eu desvio e o beijo pega em minha bochecha.

- Então tudo bem. – A solto e ando em direção ao nosso banheiro. – Se vocês duas querem ficar de segredinhos agora, tudo bem. Não me importo.

- Gi... – Ela me abraça por trás. – Ela só queria me mostrar um desenho que fez na escola e pedir a minha ajuda para termina-lo de aprontar para você. Tenha paciência, amanhã ela irá lhe entregar.

- Eu sou paciente, Rafaella.

- Oh, sim. Você é.

- Como você realmente está? – Pergunto me virando para encara-la. Ela sabe do que estou me referindo, seu olhar entrega isso.

Por mais que a todo o tempo em que estivemos na companhia da sua avó, ela tenha afirmado que estava bem com tudo o que tinha acontecido nas últimas horas do seu dia, eu precisava ter certeza. Afinal, tinha sido a primeira vez que Renato e Ela realmente conversaram após ele saber sobre nós.

Rafaella poderia ser uma empresaria implacável, capaz de mover montanhas para tornar seus projetos um sucesso. Mas ao se tratar do lado pessoal da sua vida, ela era um poço de insegurança, ainda mais quando sua mãe e irmão era o cerne da questão.

Ela abaixa os olhos e seus cílios tocam a parte superior de suas bochechas.

Ela é tão adorável.

Eu odiava vê-la assim, mas tinha que saber. Ela tinha falado durante nosso jantar que estava tudo bem, mas eu sinto, eu sei que ela não estava sendo totalmente honesta.

- Renato lhe falou algo que lhe magoou durante a conversa que teve com ele?

Quando soube que Rafaella iria encontrar com seu irmão, o medo da possibilidade de que essa conversa pudesse não ser positiva me tomou. Ela ainda se culpava por tudo o que aconteceu com seu irmão e por todos os anos de seu coma. Como se as coisas tivessem acontecido por consequências de suas atitudes, eu a tendia, realmente entendia. Muitas vezes também me sentir dominada pela culpa, o que não era verdade. O modo que a sua mãe também a tratava não ajudava em nada nisso tudo.

- Não. Não, ao contrário. Tivemos uma conversa bastante calma e repleta de esperança. É só... ele... – suas bochechas ficaram rosadas.

- O que houve? – Coloco a minha mão em seu queixo, levantando-o. Encaro seus olhos, e por um momento, penso que ela ia dizer algo quando ela solta um suspiro.

- Não é nada sério. É apenas... enquanto Renato estava em coma, eu esperei por tanto tempo que ele acorda-se. Que ele voltasse a fazer parte da minha vida. Das nossas vidas. Passei tanto tempo idealizando como seria quando esse dia finalmente acontecesse. – Ela volta a suspirar. – Eu me pergunto...

- Se pergunta...?

- Eu me pergunto se você tem algum arrependimento.

Estudo o seu rosto, pois sinto que havia algo mais do que ela não estava dizendo a mim. Não eram comum dela manter segredos entre nós.

- De forma alguma. E você?

Sua respiração fica presa quando ela olha para baixo por um momento, hesitando.

- Apenas um.

É neste momento que sinto o meu coração parar.

- Você... você se arrepende de ter se casado comigo? – Eu mal consigo pronunciar as palavras.

Seus olhos voltam a me encarar, aquele brilho que tanto amo voltando a domina-lo.

- Não! Ah, não. Não é disso que me arrependo. De modo algum. Me casar com você foi a melhor decisão de toda a minha existência. Você é e sempre será meu grande acerto, Gi. Nunca, nunca iria me arrepender disso, nem por uma fração de segundos.

Sinto que meu coração volta a bater.

- Então, o que é?

- Me arrependo de não ter tido coragem e ter contato tudo para ele logo no começo. Se ele tivesse tido conhecimento sobre nós, nosso casamento por mim, da forma correta, acredito que as coisas seriam menos complicadas. Ou não, não sei. Mas me arrependo amargamente por ter sido a covarde de sempre.

- Você tem o péssimo hábito de tomar para si uma culpa que não te cabe. Pensar em como seria se fosse fizesse de outra maneira, neste momento, não vai te ajudar em nada. O que aconteceu, já está feito. E pare de se chamar de covarde, pois é a última coisa que você poderia ser. Tudo bem que a forma como aquela mulher contou para ele pintou o cenário de uma forma errada, o que não é surpresa. Sua mãe sempre fez questão de tratar tudo ao seu respeito de uma forma tão tortuosa, que me causa nojo. Me desculpe, mas não consigo entender como ela poder ser assim com você. Eu não consigo entender como qualquer mãe pode tratar um filho da maneira como ela lhe trata. – Tento não deixar a raiva me dominar. – Enfim, mesmo sendo você a contar para ele, ele também precisaria de um tempo para assimilar tudo e sua reação poderia ser a mesma.

- Enquanto estávamos juntos hoje, tudo parecia maravilhoso demais para ser verdade, sabe? – Ela começa. – Não que eu não esteja feliz com tudo o que aconteceu hoje, mas uma parte de mim ainda está... – Ela fixar o olhar para algum ponto atrás de mim. – Eu não sei... É como se eu estivesse esperando alguma coisa de ruim acontecer e me puxar para a realidade. Não que eu esteja sendo negativa. Não é este o caso, mas só não estou conseguindo acreditar que o Renato me aceitou de volta em sua vida, mas ainda assim meu casamento com você continua sendo um elefante branco. Nós é a melhor coisa da minha vida, queria tanto compartilhar essa felicidade com ele, que sempre foi meu melhor amigo. – Ela dar um longo suspiro.

Sinto que ainda não terminou seu desabafo, então a aguardo continuar.

- Desde que ele acordou eu venho sentindo como se meus pés estivesses sobre uma superfície instável. Que qualquer movimento, insignificante que fosse, o afundaria. Hoje, mesmo me perdoando, ele ainda não conseguiu falar sobre nós, você e eu. E se ele ainda te amar? E se ele ainda estiver disposto a ter sua filha e namorada de volta e formar sua própria família, como na noite do acidente? E se ele não tiver me perdoado realmente por isso?

- Meu amor, eu entendo seu receio. Vocês possuem uma ligação muito forte, e é por acreditar nessa ligação que sei que vocês irão conseguir superar qualquer coisa. – Envelopo seu rosto com minhas mãos, trazendo seu olhar para mim. – A rejeição pela parte do Renato foi por puro reflexo da forma horrorosa que sua mãe colocou a nossa vida para ele. Acredito que todo esse tempo, enquanto se recuperava do coma, ele também usou para se recuperar da surpresar do tempo passado em sua ausência e das mudanças que aconteceram em decorrência. Em relação ao nosso casamento, a vida que você e eu construímos juntas, o Renato não precisa lhe perdoar de nada. Já cansei de te dizer que o eu e você não deve nada a ninguém, tão pouco ao Renato. Então pare de esperar por perdão por estar com a mulher que te ama e que você também à ama. Vocês só precisam de tempo. Você para colocar de uma vez por todas que nós. – Aponto o dedo de mim para ela várias vezes. – Não tem nada a ver com sua relação com o Renato. Da mesma forma que ele entende, ou irá entender isso também. Faço o que você disse mais cedo, o ajude a se readaptar, esteja ao lado dele para o que ele precisar. Em relação a nós, você e eu. Ele terá que aprender também a viver com isso.

Ela inclina um pouco o corpo e deposita a cabeça em meu ombro, colocando o rosto colado ao meu pescoço.

- É tudo tão complicado. – Sua fala sai abafada.

- Nada é complicado, a gente que complica tudo. – Afago seus cabelos. – Pare de se preocupar com o que você não pode mudar, foque só no que está sobre o seu domínio. O Renato aceitou voltar a ter contato com você, foque nisto. O resto o tempo irá se encarregar de colocar no lugar.

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