· Perspectiva de Rafa
Ao deixá-lo sentir como se meu coração estivesse faltando um pedaço, não queria ir para longe dele. Não agora que tinha acabado de descobrir que ele tinha acordado. Assim que fechei a porta atrás de mim e me vi no corredor do hospital, uma enxurrada de pensamentos me invadiu com força total. Um deles era que eu precisava ligar para Gizelly, primeiro para explicar o motivo de não ter conseguido chegar a tempo para a apresentação da Soso e depois descobrir uma maneira de como contar para ela que o seu antigo amor, pai da sua filha, meu irmão, tinha acordado do coma. Como eu explicaria tudo isso? Como ela iria reagir a esta notícia? E a Soso, ela iria me perdoar por não ter ido a sua apresentação? Como eu iria explicar para o Tato que agora estou casado com a garota que ele amava? Será que ele ainda a ama?
Tive a sensação que o meu cérebro estava acima de minha cabeça, uma descarga de adrenalina havia se apoderado de mim. Minhas mãos começaram a formigar, minha boca secou.
De repente, o corredor do hospital parecia demasiadamente pequeno e o ar que nos rodeava ficava mais expresso com a minha respiração trêmula. Ao sair do quarto do meu irmão sentir que estava a desmoronar e não sabia como havia de lidar com isto.
Não podia lidar com isto.
- Não posso fazer isto. Eu... eu não sei como fazer isso.
Sentir como se as palavras estivesse me estrangulando, tudo começou a ficar em desfoque. Sentir as mãos da Dr. Dani servirem de apoio para mim.
- Rafaella! – Ouvir a voz distante da Dr. Dani chamar por mim ao me segurar.
Minhas mãos estavam tremendo tanto e a minha cabeça estava gritando para eu fazer algo, mas não tinha ideia do que era suposto eu fazer.
Eu não sabia como contar para a Gizelly, sabia que depois que contasse poderia perde-la. Mas eu precisava avisa-la. Sabia desse fato no meu âmago.
Era uma situação além de complicada e estava perdida em relação ao que fazer.
- Você precisa senta-se um pouco. – Disse dando um aperto gentil em meu ombro. O seu toque calmante me fez olhar para ela. – Vamos a minha sala, você pode ficar um pouco lá até se recuperar.
O meu corpo inteiro tremia, sentia que perdia o controle do medo, da alegria e da potencial esperança que me arrasava. Quando os braços da médica me envolveram, fui forçada a respirar fundo e me recompor o máximo possível para conseguir me locomover sem desabar de vez naquele corredor.
Era o Tato que estava numa cama de hospital, mas era eu que estava partida sob o peso deste dia.
O caminho até a sua sala pareceu ainda mais longo.
Abrindo a porta com uma única mãe, enquanto a outra ainda me oferecia apoio, Dr. Dani me ajudou chegar até um dos assentos em sua sala. Onde desabei e agradeci as minhas pernas por ter conseguido chegarem até ali.
- Vou pedir um chá para você, tudo bem? – Ela me olhava ternamente, enquanto segurava o telefone. Eu apenas assentir com um leve aceno de cabeça.
Não queria perder Sofia e Gizelly, assim como não queria perder o amor do meu irmão. Eles eram tudo para mim.
Assim que terminou a ligação, Dani voltou para perto de mim ocupando o assento ao lado e capturando minhas mãos com as suas. Ao encarar as nossas mãos vi quando uma lágrima pingou sobre elas, foi então que notei que estava chorando.
Eu tinha que ser forte pela Sofia, ela ainda era tão pequena. Precisava ser forte por Gizelly, ela iria ter que lidar com a volta do meu irmão, precisava ser a força delas, como sempre tinha sido.
- Seu irmão está bem, querida. Não precisa se preocupar, a recuperação está avançando satisfatoriamente. Observei sua relação e carinho pelo seu irmão, você sempre demonstrou o quanto o amava. Sei o quanto deve ter sido um baque encontra-lo ainda com um pouco de dificuldade, mas isso logo irá passar. Ele é um dos pacientes mais forte e determinado que eu pude ter o prazer de acompanhar. – Seu olhar transmitia empatia. – Sinto muito por sua mãe não ter lhe comunicado antes, mas não tenha isso como algo ruim. Você o viu, ele está bem e sentiu sua falta. É momento para comemoração. É uma vitória ele ter acordado depois de tanto tempo, ainda mais sem muitos danos. Ainda é muito cedo para afirmar, mas acredito que ele logo atingirá os cem por centos da recuperação. Você é uma ótima irmã, não se sinta mal. Não pense que não pode lidar com isso, ou qualquer outra coisa. Você demonstrou que é tão forte quanto ele.
Eu a encarei então, as suas palavras me acalmaram enquanto ouvia o significado por trás delas, por mais que ela tenha entendido errado o meu temor.
Mas uma coisa era certa, eu precisava encontrar uma maneira de lidar com tudo isso, mesmo que não gostasse do resultado.
Assim que o chá chegou, Dr. Dani colocou uma xícara em minhas mãos, eu as fechei em volta sentindo o liquido quente transferir o calor para a peça de porcelana e ela transferir para a minhas mãos. Observei por alguns minutos em silêncio o pequeno vapor que o líquido âmbar soltava enquanto tentava colocar minha cabeça novamente em ordem.
Agradeci pela Dr. Dani se manter em silêncio, não forçando uma conversa naquele momento. Eu realmente precisava ficar em silêncio, precisava controlar minhas emoções.
Finalmente tive forças para levar a xícara até a minha boca, ainda sentia um pouco minhas mãos trêmulas, mas não tanto quanto antes. O liquido desceu esquentando-me por dentro, e de certa forma, aqueceu um pouco o meu coração.
A doutora me observava com olhos bondosos, procurando os meus enquanto terminávamos de beber o nosso chá.
Ali, em silêncio, contemplando a sensação que o líquido quente estava proporcionando. Assim que terminei, sentir-me um pouco mais calma.
- Obrigada! – Conseguir dizer.
- Sei que estás assustada, Rafaella. Mas tudo o que pode fazer neste momento é continuar oferecendo o apoio que vem dando ao Renato por todo esse tempo. Ele, mas do que nunca, precisará de apoio para se readaptar a sua nova realidade. No dia em que ele entrou em coma não passava de um garoto com dezoito anos, agora ele acordou um homem sem que passasse por todo o processo natural da mudança. Sua mentalidade ainda está presa aos dezoito. Além de reaprender a falar e andar, ele vai precisar aprender a lidar com sua nova realidade. Todos a sua volta mudaram, em diversos sentidos, enquanto ele ainda continuar o mesmo. – Ela sorriu. – Mas isso será fácil quando se tem pessoas que o amam, e que estão dispostas a dar o apoio necessário. Todo o esforço valerá a pena, não é?
As palavras falharam-me perante a pergunta, mas sabia qual era a resposta que deveria ter dado.
Renato e eu, tínhamos jurado sempre apoiar uma o outro, e eu planejava manter esse juramento, não importava o custo que pudesse ter para mim.
Não podia deixar o medo do desconhecido interferir em minhas emoções, fazendo com que eu fraquejasse logo agora que precisava ser forte mais do que nunca.
- Sim. – Suspirei.
A mulher abriu um largo sorriso.
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A vida da gente
FanfictionPoderia começar dizendo que este não é apenas mais um conto clichê, mas não pretendo começar com falsidades. Afinal, é verdade que este romance tem suas raízes no clichê, mas permita-me destacar que, mesmo sendo inevitavelmente familiar, ele reserva...