Assim que minha avó se acalmou, nos acomodamos no sofá. Gizelly fez com que Sofia subisse para o meu antigo quarto, para que ela não presenciasse a nossa conversa. Minha avó me contou sobre a visita da minha mãe, de como as coisas tinham saído.
- Me desculpe por ter ligado daquela maneira, minha filha, mas eu estava desesperada sem saber o que fazer. Sua mãe estava transtornada, eu não sabia o que fazer. Fiquei com medo de que ela saísse daqui e fosse bater na casa de vocês para falar as atrocidades que me disse, eu queria vocês aqui para poder estar por perto, pois não queria que você acredita-se. Eu não tive nem tempo de comemorar a boa notícia que meu neto estava de volta, pois logo começou o ataque. Eu realmente não entendo onde foi que eu errei com a sua mãe.
Eu segurei a sua mão, com a intenção de lhe passar conforto. Eu sabia muito bem como minha mãe poderia ser com quem estivesse a sua frente. Ela era uma força da natureza, implacável e impiedosa. Por longos anos eu fui a seu único e constante algo. Crescer aos seus cuidados, ou falta deles, me deixou grandes cicatrizes. Nem mesmo uma infância marcada como uma criança deficiente se comparava ao que minha mãe me fazia sentir, e até hoje faz.
Ela não negou esforços para me lembrar de que eu tinha sido um estorvo em sua vida, do quão eu era inútil, um peso morto em suas costas. Uma mosca morta, como ela gostava de me chamar. Talvez no fundo ela tenha razão.
Balanço a cabeça em sinal de negação, eu não posso deixar minha mente ir por esse caminho. Eu preciso manter o foco. Volto a prestar atenção ao que a minha vó dizia, no mesmo instante Gizelly tinha retornado com uma bandeja em mãos. Eu nem ao menos tinha notado que ela havia se ausentado ao meio do meu devaneio ao passado.
- Vocês precisam de um pouco disso. – Disse oferecendo uma xícara de café para a minha avó e outra para mim.
- Obrigada, minha filha. – Minha avó agradeceu com um sorriso tímido, seus olhos ainda brilhando com as lágrimas de outrora.
Gizelly sorriu afetuosamente para ela, depois ocupou o espaço ao meu lado.
- Obrigada, amor. – Disse segurando sua mão e dando um leve aperto.
Em resposta ela deu uma piscadela para mim.
- Como eu estava dizendo. – Minha avó chamou nossa atenção. – Ela acusou de você ter invadido o quarto de Renato sem autorização, que o deixou agitado e que ele teve uma piora.
Meu coração começou a bater de forma descompassada. Escutar que minha ida ao hospital foi narrada por minha mãe daquela forma não me surpreendeu, mas escutar que o quadro do meu irmão piorou com minha ida me deixou apreensiva.
- Ela ainda teima com essa história? Eu tenho tanto direito de ir até lá quanto ela. – Bufo em irritação. – Mas como assim o Tato piorou? A doutora não me informou de nada, quando sair de lá o dei bem. Eu não entendo vó.
- Eu sei minha filha, sabe como é a sua mãe. E sinceramente, às vezes não a entendo, e olhe que ela é a minha filha. – Ela dá um curto sorriso. – Todas nós temos direito a visitá-lo, principalmente você que é uma parte dele tanto quanto ela. Eu fiquei surpresa e ao mesmo tanto zangada por saber que o meu neto acordou do coma a tempos e não fui informada.
- Eu fiquei sabendo ontem, vó. Eu...- Eu tentei terminar a frase, mas não conseguir.
Minha cabeça e moções estavam um turbilhão, e ainda estava lutando para colocar tudo em ordem novamente.
- Ela foi primeiro nos contar, além de que ainda estar tentando lidar com a notícia. – Gizelly antecedeu por mim.
- Eu iria te contar hoje vó, mas como a Gi acabou de dizer, eu ainda estou tentando lidar com tudo isso. E sinceramente não estou lidando muito bem. – Encaro Gizelly ao meu lado, com o olhar envio para ela um pedido de desculpas pelo meu comportamento. Sei que estou sendo uma completa idiota, enquanto ela estar simplesmente tentando me fazer acreditar em nossa família. – Vó, eu estou me sentindo culpada por tudo, sei que isto é muito errado, mas isso não anula o que sinto. Nessas ultimas 24 horas estou tornando a vida dessa aqui um inferno no meio do processo.
- É para isso que serve os casamentos. – Brincou Gizelly, dando um sorriso iluminado para mim.
- Sentindo-se culpada? – Minha vó me encara em expectativa.
- Sim. – Admito alguns segundo depois.
- Culpada pelo que, minha filha? – Insiste.
Vendo que eu não iria entrar em detalhes, Gizelly começa.
- Dona Marcina, sua neta colocou na cabeça de que estar ao meu lado e da Soso é motivo para se sentir culpada. Veja se tem cabimento?
- Isso é verdade? – Ela pergunta.
Minha avó me encara e eu abaixo a cabeça encarando a minha mãe e de Gizelly entrelaçadas em meu colo.
- Além de se culpa pelo coma do Renato. – Gizelly continua vendo que eu iria permanecer calada. – Como disse a ela ontem e torno a repetir, o que temos é algo puro. Ela não ocupou o lugar do Tato, nem em minha vida nem na vida da nossa filha. O que aconteceu com ele foi obra do destino, então não cabe a ela se sentir culpada por ele ter ficado em coma por todos esses anos.
- Não mesmo, onde você está com a cabeça, Rafaela? – Minha avó me repreendeu. – Eu a chamei aqui para evitar que sua mãe fosse bater em sua porta para falar as asneiras que despejou em cima de mim, com medo de que ela lhe fizesse acreditar nas besteiras que saem da boca dela e acabo descobrindo que ela nem precisa fazer isso, porque você mesma já está se castigando por algo que não fez. Minha filha, tudo o que aconteceu não tem nada a ver com você para se sentir assim.
- É o que eu venho dizendo para ela, que não tem cabimento ela se condenar desta forma. Antes de tudo acontecer, não existia mais nada entre mim e o Renato. Independente dos acontecimentos, nascimento da Soso e o acidente, o que eu e ele tinha já estava terminado. Se culpar e dizer que tomou o lugar dele em minha vida é mais do que errado a se fazer.
- Eu... Eu ... – Eu não sabia o que dizer. O que dizer quando sabemos que a outra pessoa estar certa, mas mesmo assim você não consegue evitar de fazer as coisas de forma errada?
- Sua família é só sua, não é do seu irmão. Gizelly está certa, você precisa parar de se culpar por algo que não existe. Sua relação com ela não tem nenhuma conexão com a que você tem com seu irmão, tão pouco com a que ele teve com Gizelly.
- Além de sofrer por antecedência, a senhora precisava ver como ela ficou depois da ligação. Velho todo o caminho, que só Deus para explicar. – Gizelly revirou os olhos.
E eu estreitei os meus para ela em reprovação.
- Minha filha, você não pode se deixar influenciar pelas barbaridades que sua mãe diz. E não, não venha me dizer que não é isso que está acontecendo, porque eu sei muito bem que é exatamente assim. – Ela coloca a xícara na mesinha de centro a nossa frente. – Você se tornou uma mulher tão forte e determinada, conseguiu criar uma empresa com muita garra. Construiu uma família tão linda ao lado dessa mulher maravilhosa e tão forte e determinada quanto você. Não se deixe levar por esses pensamentos e sentimentos negativos, você vai acabar boicotando sua felicidade.
VOCÊ ESTÁ LENDO
A vida da gente
FanficPoderia começar dizendo que este não é apenas mais um conto clichê, mas não pretendo começar com falsidades. Afinal, é verdade que este romance tem suas raízes no clichê, mas permita-me destacar que, mesmo sendo inevitavelmente familiar, ele reserva...