A volta para a nossa casa foi mais tranquila, Rafa parecia um pouco mais animada depois que sairmos da casa da sua avó. Mesmo vindo por todo o percurso em silêncio, seu semblante estava melhor do que antes. Como na ida, ela veio o caminho observando a paisagem do lado de fora.
Sofia por sua vez, estava emburrada sentada atrás. Não forcei uma conversa com ela ali, presas no carro. Eu sabia qual era o motivo do seu aborrecimento, e sabia que aquele momento não adiantaria tentar persuadi-la.
Assim que chegamos, Rafa desceu do carro e foi para o banco de trás, ajudar a Sofia.
- Ficar emburrada não vai ajudar em nada. – Disse enquanto soltava o cinto de segurança dela.
As duas andavam a minha frente de mãos dadas.
Por mais que a Sofia tenha saído de mim, fisicamente não tinha herdado um fio de cabelo sequer de mim. Lado a lado de Rafa todos pensariam que, biologicamente falando, eram mãe e filha. Ninguém poderia negar que uma era a copia fiel da outra, o que me fez dar um largo sorriso.
Assim que passamos pela porta de entrada, Rafa se virou para mim.
- Estava pensando aqui. – Ela olhou para a Sofia, que a encarou em expectativa. – Acho melhor não insistir em leva-la ao hospital, pelo menos não até amanhã. O que você acha?
- Por favor, mamãe. Não faz eu ir. – Sofia me encarou suplicante.
Alternei o olhar entre as duas, ponderando a respeito. Realmente seria uma má ideia obriga-la a ir contra a sua vontade. Tornaria a experiencia ruim aos seus olhos, conhecer o pai contra a sua vontade só alimentaria a rejeição que ela nutria por ele.
- Não podemos deixa-la aqui sozinha. – Ponderei.
- Claro que não. – Rafa se apressou. – Poderíamos deixa-la com a Bianca e Mari, elas iriam adorar passar um tempo com essa pequena aqui.
- Você tem certa que é uma boa ideia?
- Sim, tenho. Posso ligar para confirmar que elas estão livres antes de irmos lá, mas acredito que estarão. Então, o que me diz?
Sofia me olhava como o gatinho de botas, com os olhinhos suplicantes.
- Por favor, mamãe.
- Tudo bem, mas isso não significa que você irá se livrar de ir visitar o seu pai. Estamos entendidas?
- Sim, estamos.
Uma hora depois estava no hospital, após deixar Sofia com Rafaella.
Depois de arrumamos uma malinha para Sofia passar a manhã com Bianca, Rafa achou melhor ela ir leva-la enquanto eu ia na frente para o hospital, o que a princípio achei desnecessário. Poderíamos muito bem ir juntas até a casa de Bianca e deixa-la lá, para só depois irmos, mas ela me convenceu que desta forma seria melhor. Então ela saiu primeiro, me deixando ao telefone com a terapeuta. Eu tinha entrado em contato com ela para falar sobre a recusa da Soso.
Eu não sabia como seria a minha reação ao vê-lo acordado depois de tanto tempo, até ali só estava pensando em minha filha, e em como a minha mulher estava se sentindo e reagindo a tudo. Meus sentimentos, deixados de lado nesse período de choque, retornou me deixando apreensiva.
Encontrei a doutora Dani, ela me aguardava na recepção. Tínhamos ligado para ela antes de sair de casa, avisando que nossa visita aconteceria aquela manhã. Assim a deixando sob alerta em relação a qualquer ato desnecessário que Genilda pudesse cometer, prejudicando tanto o tato, quanto a nós ao nos deparar com ela no hospital.
- Oi, Gizelly. – Dani ofereceu a mão.
- Oi, Dani. - Apertei sua mão e dei um leve aceno de cabeça.
- E a Rafa? – Ela perguntou.
- Uê, ela não está aqui? – Perguntou Rafa. – Tínhamos combinado que... bom, deixa eu ligar para ela, para saber onde ela está.
Tínhamos combinado de nos encontrar no hospital, pelo tempo que ela saiu já deveria estar me aguardando. Pego o telefone em minha bolsa e disco o seu número, ela não demora atender.
- Oi, amor. Eu já iria te ligar.
- Oi, Rafa. Eu já estou aqui na recepção.
-Pois é. Eu acabei ficando presa aqui na casa da Bia, precisamos resolver um assunto da empresa. O site está parado, deve ter acontecido algo com o software. Eu acho que eu não vou conseguir chegar aí a tempo.
- Está bem, então eu vou esperar você para a gente poder entrar juntas.
- Melhor não. Ficou combinado com a Dani que iramos visitar o meu irmão nesse horário, se atrasar vai dar problema com a minha mãe.
- Mas Rafa...
- Gi, eu já vi o Tato. O importante agora é você falar com ele. Vai lá, por favor.
- Está certo, eu vou. Eu vou entrar então e qualquer coisa te ligo depois.
- Está bem, beijo.
- Beijo. Amo você.
- Também amo você.
Eu sentir um pouco de receio de entrar sem a Rafa, mas ela tinha razão. Se eu não o fizesse logo sua mãe poderia chegar a qualquer momento, e sem sua presença ali iria impedir a minha entrada.
- E então, está tudo bem?
- Sim, está tudo bem. Ela teve uma emergência no trabalho, pelo que parece, eu acho que vou ter que entrar sozinha.
- Ok! Sem problemas. Só uma coisa. – A dra. Dani me encarou. – Quanto ao que você vai dizer para o Renato. O Renato ainda não tem noção de quanto tempo se passou enquanto ele esteve ausente, vamos dizer assim. Ele não tem ideia de que se passaram todos esses anos, por exemplo. Então eu acho melhor você não atualizar as informações, melhor ficar só no âmbito generalizado. Você entendeu?
- Entendi. – Disse, concordando com a cabeça. – Certo.
- Vamos?
- Vamos!
- Por aqui. – Ela apontou para o corredor, me dando passagem.
Eu não sabia explicar, mas sentia que a dra. Dani ela sempre mais gentil com a Rafa, do que propriamente comigo. Não que ela me tratasse mal, mas eu podia sentir a diferença sutil em seu comportamento. Enquanto caminhamos pelo corredor do hospital, imaginei o que primeiro iria dizer ao revê-lo. Um filme sobre o nosso ultimo encontro começou passar em minha cabeça. Eu estava passeando com a Soso pelo parque, quando os encontrei por acaso. Lembro da intensidade do seu olhar sobre mim e a minha filha, nossa filha.
- Lembre-se do que falei. – Disse dra. Dani parando na porta do quarto de Renato.
Encarei a porta a minha frente por longos segundos antes de finalmente criar coragem e atravessa-la.
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Voltei mais cedo do que o imagino, amaram??
Vocês não tem noção do quão fico triste com essa fase que as piticas estão passando, o coração chega aperta. Mas como dizia Hazel Grace: "Se você deseja o arco-íris precisa suportar a chuva".
Obrigada pelos votos e comentarios, isso anima a autora aqui.
Beijos e abraços apartados :*
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A vida da gente
FanfictionPoderia começar dizendo que este não é apenas mais um conto clichê, mas não pretendo começar com falsidades. Afinal, é verdade que este romance tem suas raízes no clichê, mas permita-me destacar que, mesmo sendo inevitavelmente familiar, ele reserva...