Meu irmão amado

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· Perspectiva de Rafa

Não me lembro como cheguei ao hospital, meu coração batia de forma descompassada. O medo tinha tomado conta da minha existência, a todo momento eu era bombardeada por pensamentos contraditores. Não sabia o que estava acontecendo com o meu irmão, mas minha mente já estava me bombardeando.

Conseguir chegar até a sala da doutora Dani, que já estava me aguardando.

- Sente-se por favor. – Disse de forma gentil, apontando para uma das cadeiras a frente da sua mesa.

Ela estava acompanhando o quadro do Tato desde o início e de perto, o que ganhou a minha total gratidão. Pois sei que ela estava fazendo de tudo para que o meu irmão se recuperasse.

- Meu irmão, aconteceu algo? – Eu não tinha vindo ao hospital a quase um mês.

Eu tinha conversado com a dra Dani sobre a precisão de ter que me dedicar um pouco mais a empresa, o que iria fazer com que eu não comparecesse por algumas semanas para as visitas. Perguntei se isso iria fazer com que o meu irmão sentisse que eu estava me afastando, se interferiria em seu quadro. Pois tinha muito medo que algo ruim lhe acontecesse enquanto eu estivesse longe. Depois da festa de lançamento minha rotina iria se estabilizar e eu voltaria a visita-lo regularmente. Isso era o que eu iria fazer no domingo, junto com a Gizelly e a Sofia, mas a ligação me trouxe antes aqui.

Estava com medo de que ele estivesse piorado e que a doutora me chamou até aqui para dar a notícia.

- Eu não deveria ter me afastado tanto. – Disse me lamentando sem ao menos esperar por sua resposta.

Ela se levantou e ocupou a cadeira ao lado da minha.

- Preciso que você se acalme e já te garanto que seu irmão está ótimo. – Ela deu um largo sorriso para mim. O que fez com que eu soltasse o ar que nem ao menos eu sabia que estava prendendo. – A notícia que eu tenho para você é ótima, mas antes precisamos conversar um pouco.

Eu apenas assentir com a cabeça.

- Preciso que entenda que eu esperava que sua mãe fizesse isso, mas acredito que ela não o fez. Pois mesmo você me avisando que iria se distanciar um pouco por motivo profissional, acredito que ao receber a notícia do seu irmão não iria pensar duas vezes. Iria vir imediatamente, o que não aconteceu. E pelo estado que você chegou aqui, suponho que ainda não saiba e minhas suposições estão corretas.

- Que suposições? Por favor, me diz logo o que aconteceu com o meu irmão. – Supliquei impaciente.

- Seu irmão acordou...

- O quer? – Eu a interrompi. Dei um pulo da cadeira, me colocando de pé imediatamente.

Meu irmão tinha acordado.

Eu não podia acreditar, depois de tanto tempo ele finalmente acordou. Fiquei seis semanas longe dele e ele me surpreende acordando um dia antes de visitá-lo.

- Sim, ele acordou e estar bem. – Ela abriu um sorriso ainda mais largo para mim.

Eu não sabia se ria ou chorava de tanta emoção que estava sentindo. Meu irmão finalmente tinha acordado, senti como se o meu coração estivesse prestes a explodir de tanta felicidade.

- Ele acordou essa manhã. Não acredito nisso, ele acordou. – Falei com a voz embargada de tanta emoção que sentia.

- Não, e é por isso que te chamei até aqui. – Eu congelei. – Sente-se por favor.

- O que estar acontecendo? – Perguntei me sentando novamente.

- Ele acordou a cinco semanas. Como disse anteriormente, pensei que sua mãe iria lhe contar a notícia, mas ao passar das semanas percebi que você não tinha vindo visitá-lo. Não posso interferir em uma situação familiar fora do hospital, fora da minha alçada. Mas não conseguir me manter quieta, ainda mais com ele me perguntando sobre quando vocês poderiam finalmente visitá-lo. Acredito que sua mãe tenha dito que ainda não tinha liberado, e não quis dizer que não era verdade. O Renato tem muito o que processar ainda, primeiro ele precisa lidar com a fisioterapia e assimilar a passagem do tempo a qual ele estava em coma. Cinco anos se passaram para todos as seu redor, menos para ele.

Não podia acreditar que a minha mãe tinha me escondido isso.

Tentava controlar a raiva que sentia, meu irmão tinha acordado a cinco semanas e só agora eu estava sabendo disso.

Minha cabeça foi para a Gizelly e Sofia, elas também não sabiam.

Gizelly não tinha conseguido a autorização da minha mãe para fazer visitas ao meu irmão, então isso significava que ela também não tinha vindo essas últimas semanas. Minha liberação só foi possível por conta do vínculo familiar, então por mais que a minha mãe desejasse me manter longe do meu irmão, ela não podia me proibir de visitá-lo. Sofia e Gizelly só podiam entrar com a minha presença, o que as deixou também longe de Tato por essas semanas.

- Ele está tendo acompanhamento de uma psicóloga, mas devemos ter um pouco de cuidado ao revelar certos assuntos para ele. Por mais que ele venha apresentando uma evolução rápida e bastante positiva, ainda é muito cedo. Devemos ter cuidado com o que falamos em sua frente, por mais que ele saiba que esteve em coma durante cinco anos, precisa ter cautela.

- Ele está acordado. – Disse com a voz embargada.

- Sim, e quer muito ver vocês. – Ela apertou a minha mão.

- Eu também quero muito isso, quero vê-lo. – Sorrir para ela.

- E irá, ele ainda estar tendo um pouco de dificuldade na fala e na locomoção, mas acredito que em pouco tempo deve já estar recebendo alta se continuar a progredir na velocidade que estar.

- Então ele estar andando?

- Ainda não, mas acredito que logo ele voltara a andar. Conseguimos fazer pequenos movimentos, mas ainda na cama. O que é mais do que esperávamos. É impressionante a sua recuperação, nunca tinha presenciado nada como isso. Ele é mesmo um cara especial. – Seus olhos brilhavam em admiração. – Digo, um paciente especial.

Seu rosto ganhou tons rosados.

- Sim, ele é.

- Então vamos lá? Acho que você deseja ver seu irmão agora. – Disse se levantando.

- O que eu mais desejo nesse momento. – A acompanhei.

Enquanto andava pelo corredor, em direção ao seu leito tentava conter a emoção. Eu não queria que ele me visse chorando.

A felicidade em tê-lo de volta não cabia em meu coração.

Meu irmão amado. 

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