A furacão que dei vida

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· Perspectiva de Gizelly

A sala que estávamos usando como apoio para organizar a apresentação da turma da Sofia estava repleta de mães barulhentas e crianças agitadas correndo para todos os lados. Eu tinha conseguido acalmar duas ou três para ajustar a roupa da apresentação, o que levou mais trabalhado do que eu imaginava que levaria. Liderar uma empresa não era nada perto do que lidar com meia dúzia de crianças, que mais pareciam ter saído do filme Gremlins. Essa era a melhora definição, com toda a certeza essas crianças tinham genes de um Gremlins. Criaturinhas agitadas e sem controle.

Minha pequena estava sentada, em um camarim prateleira esperando pacientemente que arrumassem o seu cabelo, nem parecia a furacão que dei vida a quase sete anos atrás.

Não pude evitar o sorriso de mãe babona em meu rosto. Ao contrário da maioria das crianças, Sofia permanecia educada e comprometida em se comportar enquanto o cabeleireiro trabalhava em seu cabelo definindo ainda mais os seus cachos dourados. O vestido e o arco de flores só seriam postos pouco antes da apresentação. Olhando para ela, vejo que não falhamos como mãe. Rafa e eu conseguimos fazer um excelente trabalho, e ter um segundo filho não me pareceu tão ruim assim. Poderiam conseguir repetir a façanha tranquilamente, assim acredito.

A hora da apresentação se aproximava, tínhamos conseguido arrumar as crianças com um tempo de folga, o que me pareceu algo extraordinário. Aqueles pequenos Gremlins estavam dispostos a nos deixar de cabelos brancos, inquietos loucos para se apresentarem e finalmente brincar sem que algum adulto os impedisse ou repreendesse a cada segundo por medo de destruírem o que levou tempo para montar.

Assim que confirmei que minha presença ali não era mais necessária fui até a minha filha verificar como ela estava antes de ir ocupar o acento reservado para os pais no teatro da escola.

Ela já estava com seu figurino próxima a uma das araras, com o restante das roupas que não foram utilizadas, conversando com uma das suas coleguinhas de classe. Assim que me aproximei, ela se afastou indo em direção a mãe que fez um sinal para ela. Assim como eu, a mãe deveria está querendo verificar se estava tudo bem com sua filha antes de deixá-la e ir para a área do teatro.

- Está tudo bem por aqui? – Perguntei ao me aproximar.

- Olha mamãe como fiquei. – Sofia segurou a barra do vestido e girou para que eu pudesse vê-la. – Ficou legal?

- Ficou muito legal. – Repetir a palavra que ela usou. – Era uma vez uma princesinha que agora foi transformada em uma linda fadinha da primavera.

Sofia deu um sorriso tão genuíno, o meu coração transbordou no mesmo instante.

- Quero mostrar para a mama também, onde ela está? – Sofia olhou para trás de mim, a procura da Rafa.

Rafa tinha me enviado uma mensagem informando o fim da conferencia. Olhei para o meu relógio, já era tempo de ter chegado como prometido.

- Ela ainda não chegou, mas já deve estar a caminho. Ela vai ficar encantada ao ver essa linda fadinha brilhando entre as flores. – Sorrir para ela.

A animação da Soso diminuiu nitidamente.

- A mama disse que iria me ver antes da apresentação, ela prometeu. – Disse com a voz triste, causando um aperto no meu peito.

- Ela já prometeu algo que não cumpriu? – Argumentei.

Ela apenas negou com a cabeça.

- Fica tranquila, logo estará aqui. E vamos assistir a sua apresentação sentadas na fileira da frente, para você poder nos ver no meio daquele mar de país chatos e caretas. – Mostrei a língua fazendo uma careta. O que a fez rir.

- Mamãe, não faz isso. Alguém pode ver. – Ela me repreendeu, mas ainda rindo. – Vou contar para a mama.

Estreitei os olhos, fingindo esta zangada.

- Você tem coragem de dedurar a sua própria mãe?

- A mama disse que é errado falar essas coisas das outras pessoas.

- Então você seria capaz, onde foi que eu errei? – Levei a mão ao coração de forma teatral. – Minha própria filha me entregando aos lobos.

- Aos lobos? – Ela franziu a testa, não entendo o que eu quis dizer.

- Quando digo que você está me entregando aos lobos, quis dizer que você está me dedurando para a sua mama. Entendeu?

Ela arregalou os olhinhos e abrindo a boca fazendo um o, entendendo finalmente.

- Vou contar a mama que você a chamou de lobo.

Eu a puxei, a abraçando e levantando para o meu colo.

- Sofia Bicalho, você não vai dizer nada para a sua mama. – Nossa, logo não poderei mais fazer isso. Me dei conta de quão grande ela estava ficando. – Porque eu acho que você prefere mais a sua mama do que a mim? Acho que vou ter que fabricar um outro pequeno, quem sabe ele me ame.

Soso passou os bracinhos ao redor do meu pescoço, me agarrando.

- Mas eu amo, mamãe. – Ela choramingou. – Não precisa de outra, eu amo muito você. De montão.

- Eu também te amo de montão, minha pequena. – Deu um beijo em sua bochecha.

- Não fica com ciúmes da mama, aqui tem espaço para as duas. – Ela colocou uma das mãos em seu peito.

Como eu poderia ter feito esse ser maravilhoso? Me perguntei enquanto meus olhos nublavam por conta das lágrimas que ameaçavam cair. Quando a peguei pela primeira vez após o seu nascimento, tive medo de que ela não se sentisse amada. Quando deixei que meu pai e minha madrasta a registre-se e tomasse como filha, o medo passou a ser também por não ser amada por ela, já que ela não saberia que eu era a sua verdadeira mãe. Depois que decidir reivindicar sua maternidade tive medo de não ser uma boa mãe, de não ser o suficiente para ela. E agora vejo que meus medos ficaram no passado, pois ela era amada e me amava. Minha filha tem duas mães babonas que a ama incondicionalmente.

- Não estou, meu amor. Eu sei que tem, e amo isso. Amo saber que você ama suas mamães, e saiba que nós também te amamos muitão.

Ela voltou a laço o braço em meu pescoço, me abraçando apertar. Eu retribuir. Não quis pedir para ela diminuir o aperto, mesmo com a coroa de flores machucando um pouco o meu rosto. O abraço estava mais do que bom, e eu seria capaz de suportar qualquer coisa para mantê-lo.

- Te amo, mamãe. – Ela repetiu.

- Amo você, minha pequena furacão.

Depois de alguns segundo abraçadas em silêncio, voltei a colocá-la no chão.

- Acho que já está bom de colo. Sua mãe aqui não está mais aguentando a mocinha, que já não é mais tão bebê assim.

- Eu falei que não sou mais bebê – Disse sorrindo.

- Sim, você disse. Mas não importa se não consigo mais mantê-la por muito tempo em meu colo. Você sempre irá seu nosso bebê. Agora deixe-me ajeitar essa coroa, saiu do lugar, provavelmente por culpa do nosso abraço.

Ela deixou que eu colocasse novamente no lugar.

A coroa de flores tinha a mesma cor que o seu vestido e asas. Tons de lilás por toda as partes do figurino. 

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