Longa noite

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· Perspectiva de Gizelly

No fundo eu sabia que Rafa tinha me dado uma desculpa, mas ouvi-la confirmar minhas suspeitas me pegou de surpresa no primeiro momento. Depois que sairmos da casa da sua avó, eu pensei que ela estava um pouco mais segura.

Eu odiava vê-la tão fragilizada, mas odiava ainda mais seus medos a levarem a começar a mentir para mim.

Assim que enxuguei suas lagrimas e a acalmei, a questionei.

- Por que você simplesmente não me contou? Eu iria entender e respeitar.

- Eu... eu não sei. – Ela responde num tom baixo, quase inaudível.

- Rafa, você não pode simplesmente começar a mentir e a esconder o que sente de mim. – Tento não soar brava, mesmo estando com muita raiva.

Não dela propriamente, mas dessa situação de merda que nossa vida estar.

- Eu sei, e sinto muito mesmo, Gi, por ter feito.

- Dessa maneira só torna as coisas ainda piores. - Digo num tom apertado, não conseguindo mais disfarçar minha irritação. – Já conversamos, não deixei bem claro que nada irá mudar? Não se nós continuarmos confiando uma na outra e não mentindo. Dar para uma vez por toda colocar dentro desse cabeção que te amo e que nada irá mudar isso, caralho?

Mesmo com minha irritação, sinto vontade de rir quando ela arregalar aqueles maravilhosos olhos verdes para o que eu disse.

Sei que o que a deixou em choque, e minha vontade de rir só se intensifica quando ela abre a boca e fecha várias vezes sem emitir um som.

- Você... – Ela começou. – Eu, é que...

Eu sabia que ela não sabia o que falar. Eu a tinha deixado perplexa ao falar daquela maneira.

Não que eu nunca xingasse, mas eu nunca tinha falado um palavrão dessa maneira com ela, o que a pegou de surpresa.

Então encosto a minha testa na dela, minhas mãos ainda de cada lado do seu rosto, e me perco nos seus olhos.

- Eu só quero que você confie em nosso amor.

- Eu confio. – Ela diz, se recuperando. – Mas do que tudo nesse mundo. Desculpa, prometo não deixar isso acontecer novamente. Eu te amo tanto.

- Eu também te amo tanto...

Sentir então a distância restante entre nós se comprimir. Sufocante, quente, perfumada. A débil iluminação dos abajures me permitiu reparar num pontinho negro que Rafa tinha em seus olhos, contrastando com aquele tom verde hipnotizante. Sentir seus lábios se aproximando dos meus, sentir o calor, a sua respiração. Não vi mais nada. Fechei os olhos e uni os meus lábios trémulos aos dela e só aí a vontade própria voltou para o meu corpo.

Rafa me envolveu pela cintura, seus braços me apertando num abraço, e me beijou também. Um beijo forte, determinado, um beijo com sabor de algodão doce com cobertura de morango.

Esqueci o som das nossas respirações, esqueci da noite e a leve brisa vinda com ela. Esqueci dos seus medos, dos meus próprios medos. Esqueci do Tato. Esqueci de tudo o que precisava lidar com sua volta para nossas vidas. Esqueci de todos os problemas. Naquele momento só havia Rafa, eu e o doce formigamento que se expandia do fundo do meu estômago até as extremidades de todo o meu corpo.

Não foi um beijo unicamente, não um simples beijo, nunca era.

Foram vários beijos sôfregos, apenas entrecortados pela nossa ofegante respiração. As minhas mãos já não estavam mais no seu rosto, estavam enterradas bem fundo no seu cabelo espesso, macio.

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